"Isso parece errado pra você?" PARTE III

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Olá pessoal, devem ter percebido que está faltando um capítulo, pois bem, ele vai fora de ordem, mas vou postar de qualquer forma! Desculpem-me pelo erro.
Beijos da Sah e boa leitura!

Sienna

Era quase uma da manhã, e a sidra fazia efeito. Eu sentia aquela tonteira gostosa e suave, numa linha tênue que separava o alegre do bêbado. Todas as minhas preocupações pareciam bem distantes. Éramos apenas eu e Nickna casa dele e nada mais importava. Nada mesmo.
Jogamos Donkey Kong durante horas, e foi uma ótima distração para a tensão que vinha crescendo entre nós. Mas, agora que o jogo estava desligado, eu é que estava completamente acesa. A atração que sentia por ele nesse momento era tão avassaladora que me assustava.
- Está a fim de fumar um charuto? - perguntou ele, no corredor, como se eu já tivesse respondido que sim. Vestia um casaco acolchoado marrom escuro com uma faixa verde nos braços. Era um daqueles casacos estilosos que se viam em Londres nos homens que preferem usar fones de ouvido enormes em vez daqueles pequenos, leem o Independent e mantêm seus tênis coloridos perigosamente limpos. Ele tinha esse visual. E isso me deixava louca.
Ele também arranjou um casaco para mim, um Helly Hansen preto, vários números acima do meu, que me deixava com cara de quem ia fazer uma viagem de esqui. O cheiro da loção pós- barba dele me inundou quando puxei o fecho para cima. Mal pude conter-me para não pegar seu rosto e beijá-lo, ali mesmo no corredor.
Nickpreparou dois cubas libres na cozinha antes de sairmos e escolheu um charuto grande e grosso dentre uma seleção de cinco que tinha num armário junto à porta dos fundos. Também pegou uma toalha, que estendeu sobre o deque lá fora. O ar estava tão frio que tive de subir o fecho do casaco até o pescoço, mas o álcool fornecia uma camada extra de proteção.
Nós nos sentamos, e Nickacendeu o charuto, o cheiro intenso se espalhando à nossa volta. A lua estava tão brilhante que parecia que alguém deixara acesa uma daquelas lâmpadas econômicas, criando um ambiente que mais parecia um cenário de filme de vampiro.
Comecei a tremer ligeiramente e fui arrastando o traseiro pela toalha para captar o calor dele. Estar perto assim era tão torturante que me dava vontade de chorar, mas ao mesmo tempo me deixava feliz. Era agridoce.
Nickpôs o braço à minha volta e me apertou, ao mesmo tempo em que começou a exalar a fumaça em pequenos anéis. Eles ficavam maiores e mais suaves à medida que subiam flutuando no ar fresco da noite. Ele parecia profundamente concentrado em seus pensamentos. Alheio. Distante. Pedi o charuto a ele, tirando-o da mão antes que ele pensasse em responder. Sabia que era um atrevimento, mas eu estava nervosa. Bem lá no fundo, sabia que, se não ficássemos juntos naquela noite, sob a lua cheia e o céu estrelado, isso provavelmente nunca aconteceria.
O silêncio continuava, então perguntei se estava tudo bem, virando-me para ele de um jeito que nossos narizes quase se tocavam. Sentia nos lábios o calor da respiração dele e o fitei nos olhos. Poderia beijá-lo. Poderia mesmo. Naquele. Instante. Bem, vamos lá, pensei. Vai...
Mas foi tarde demais; ele quebrou o silêncio: - Tudo bem, cara, só estou relaxando. Cara? Perdi a deixa, e ele me chamou de cara. Droga.
Perguntei se tinha alguém na vida dele, na esperança de que isso trouxesse o assunto à tona, com a minha respiração criando baforadas brancas no ar gélido.
- Tem sim, acho que sim... - respondeu, estreitando ligeiramente os olhos para impedir que a fumaça entrasse.
Ah, Deus, aposto que era alguém que eu não conhecia. Talvez ele estivesse prestes a entrar numa relação.
- Quem é, Nick? - perguntei, desesperada para sair daquele tormento. Espero não ter dado muita bandeira. Ele começou a falar de Kate. Já ouvira falar dela por alto algumas vezes. Acho que se conheceram numa noite dessas em que ele foi a Brixton, quando as coisas entre nós estavam meio esquisitas depois daquela discussão, mas ele a descrevera como uma "alma torturada" quando a mencionou em conversas anteriores. Alma torturada. Aquilo não me soou como algo com que ele tivesse de lidar.
Perguntei calmamente se lhe parecia errado estar com ela e puxei o casaco para cobrir os joelhos. Agora que falávamos de outra mulher, o frio parecia penetrar todos os meus ossos.
- Não, não parece. Acho que até gosto dela, mas a realidade é demais para mim. Ela não é minha namorada... mas praticamente se impôs assim. A impressão que tenho é de não ter muita escolha.
Fiquei espantada por ouvi-lo falar daquilo com tanta sinceridade. Por alguma razão, sempre nos esquivávamos de contar detalhes de nossas relações. Sempre achei que era porque Nickera muito reservado nesses assuntos. E de minha parte era porque queria que ele soubesse que eu estava disponível se ele alguma vez sentisse o mesmo. Nada mau, não?
De repente, fiquei preocupada que ele tivesse percebido o que eu sentia. Comecei a recuar a fim de me proteger e disse coisas para aproximá-lo de Kate, na esperança desesperada e secreta de que ele simplesmente dissesse: "Há outra pessoa... é você". Imediatamente, senti uma ponta de culpa. Essa tal de Kate, fosse quem fosse, poderia ser adorável. Por que eu desejaria estragar a relação deles? Era detestável e não tinha nada a ver comigo.
Quando vi, estava falando mais besteiras.
- Acho que você devia se esforçar mais, Nick. Acho que ela pode precisar de você. Às vezes as pessoas precisam da gente e isso assusta tanto que as afastamos, quando, na verdade, só o que queremos é estar mais perto.
Irônico, não era? Eu tinha esperança de que aquele fosse nosso momento, e no entanto estávamos ali, falando de outra pessoa...

Esta é uma história de amor (Jessica Thompson)Onde histórias criam vida. Descubra agora