"Se pudesse voltar no tempo, daria tudo a ela. " PARTE III

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Nick

– Já se apaixonou alguma vez? – perguntou Chloe, mordiscando seu canudo e erguendo uma sobrancelha atrevida. Meu Deus, ela era sensual. Essa mulher é escandalosamente bela. Acho que um simples sorriso dela bastaria para lhe darem um lugar na primeira classe de um avião em vez da econômica.
Aquela era uma pergunta difícil, pensei, puxando um fio de alface que ficara preso de forma humilhante no canto da minha boca. Por que isso sempre acontecia nos sanduíches com salada? E por que isso sempre acontecia quando estávamos com alguém que nos interessava?
– Hum... já, acho que já. – Fiz uma pausa, olhando no fundo de seus hipnotizantes olhos castanhos.
– Acha que sim? Não é algo de que tem certeza? – Ela afastou um pedaço do cabelo da boca e continuou olhando minha expressão de pânico.
Ah, droga, eu estava sendo minuciosamente examinado.
– Bom, sabe como é. Já tive alguns relacionamentos sérios, por isso acho que sim. – Boa recuperação, Nick. Vago e sem comprometimentos.
O que eu queria mesmo era gritar ao mundo que sim, que sabia o que era amar. Embora o amor mais profundo que eu já sentira por alguém tenha sido por uma pessoa que nem mesmo cheguei a beijar. Eu a amava, mas ela não me amava. Mas eu já superara isso, certo?
Estranhamente, o amor em questão estava passando bem em frente à janela do bar com um tipo de aspecto estranho. Eu o reconhecia, mas não sabia de onde. Ela tinha um largo sorriso estampado no rosto, e o cabelo brilhava sob o sol radiante. Quase me engasguei com o sanduíche.
– O que você está olhando? – quis saber Chloe, virando a cabeça no exato instante que Sienna desapareceu de vista.
– Ah, nada. E, hum... e você? – rebati, mandando a bola de volta para ela.
– Sim, com certeza, uma vez. Conheci um cara na facul – respondeu, olhando para dois camarões rejeitados que tinham caído do sanduíche no prato e que, por algum motivo, já não serviam para ser comidos. Quase conseguia ouvi-los me chamando debaixo da grossa camada de maionese. Queria espetar meu garfo e roubá-los, mas não se faz essas coisas quando se está com pessoas que não conhecemos tão bem. No entanto, sempre fiz isso com Sienna. Uma vez roubei uma asa de frango inteira, e ela não se importou.
– E você ainda, sabe… ama esse cara? – perguntei. Por favor, responda que não. Por favor. Seria minha típica falta de sorte se dissesse que ainda o amava, e neste momento eu queria distância de situações complicadas.
– Ah, não. Já faz décadas. Mas, sem dúvida, era amor. A gente sabe quando é. Aquilo era muito interessante. Ela simplesmente sabia.
– O que você quer dizer com isso, que a gente sabe quando é? – perguntei, fingindo não estar particularmente interessado na resposta, quando, na verdade, estava desesperado por saber.
– Bem, vou ser sincera com você. Eu descreveria como uma necessidade louca e quase incontrolável de fazer parte da vida daquela pessoa. Uma paixão, na verdade. Sim, na verdade, a melhor forma de descrever é dizendo que, se você perdesse tudo, seu emprego, sua casa, seu carro, mas aquela pessoa continuasse do seu lado, nada daquilo teria importância. – Ela concluiu a sua descrição, mas manteve os olhos fixos nos meus.
Merda, e se ela estivesse me examinando à procura de falsidade, como se fosse um detector de mentiras humano? Comecei a suar. Não era possível que ela soubesse o que eu sentia por Sienna. Não tinha como. Era complicado, horrível e doloroso.
– Quer mais uma bebida? – Ela apontou para o bar com um braço elegante. – Sim, claro, seria ótimo.
Observei quando ela levantou e se dirigiu ao amontoado de clientes que aproveitavam a hora do almoço para beber algo no bar xexelento, mas decididamente tranquilo, que eu escolhera. Reparei na costura que tinha na parte de trás de sua meia-calça e que subia diretamente até...
– Oi, amigo. – Uma voz cavernosa e grave interrompeu a minha viagem mental ao paraíso; vinha de um enorme ser animalesco e peludo se debruçando em minha direção sobre a mesa de madeira. Lá vem.
– Oi, cara, e aí? – perguntei, estufando o peito como um galo.
– Aquela lá é sua gata? – indagou, seu rosto bronzeado realçando um par de olhos azuis penetrantes. Ele apontou para Chloe, que estava longe o suficiente para não perceber nada.
Uma grossa corrente de ouro pendia de seu pescoço grosso como um tronco. Era o típico folgado de Londres, num terno elegante, cheirando a Joop. Aquele tipo de homem me irritava profundamente. Podia apostar que debaixo daquele terno Ted Baker falso havia uma tatuagem dizendo “Mamãe”.
– Minha gata? Não, não. Ela não é minha namorada – respondi.
– Ótimo – retrucou, esfregando as mãos de contentamento e se dirigindo ao bar, gingando como um leitão assado. Bem, pelo menos tivera a decência de perguntar.
Aquilo prometia. Obviamente, eu não queria que ela tivesse de lidar com aquela criatura horrível e lasciva, mas ao mesmo tempo ela estava longe de ser minha namorada. Não era nem mesmo aquele tipo de namorada para quem a gente telefona numa sexta-feira à noite, já bêbado. Vi quando ele ergueu uma sobrancelha para os amigos igualmente horríveis, que, por sua vez, o incitaram, rebolando e fazendo gracejos.
Nosso elegante pretendente deu um tapinha no ombro dela. Bebi o resto da minha cerveja e assisti ao confronto. Vi quando ela apontou para mim numa tentativa desesperada de fingir que era comprometida. Infelizmente, não colou, e o nosso Sr. Darcy urbano continuou aplicando seus golpes mágicos. Toda aquela cena era terrível. Senti pena dela.
Foi então que ela arriscou. Ela não devia ter arriscado, considerando que eu fazia parte do time sênior da empresa onde ela trabalhava. A empresa onde ela trabalhava havia apenas três semanas. Na verdade, estava beirando o ridículo. Ela se virou com as bebidas e se dirigiu a mim através do salão do bar toda empertigada, rebolando de um jeito que deixou a maior parte da clientela babando. Até mesmo as mulheres. O Romeu estava prestes a segui-la de novo e então ela fez algo completamente louco. Beijou-me.
Não sei quem ficou mais chocado – ele ou eu. Mas foi o que ela fez, e, por sinal, maravilhosamente bem. Encaixou a mão na parte de trás do meu pescoço, me puxando para junto de seu rosto. Por um segundo, o mundo parou. Na realidade, acho que meu coração parou. Seus lábios maravilhosos e macios se fundiram aos meus, e ela moveu a mão da minha nuca e correu os dedos pelo meu queixo com barba por fazer.
Deve ter sido uma cena e tanto, pois tenho quase certeza de que estiquei os braços em pânico, com os dedos rijos e as pernas duras. Devo ter parecido uma mariposa apanhada numa teia de aranha.
Logo em seguida, quando percebi que não passava de uma encenação para livrar-se dele, deixei minhas mãos lentamente pousarem na cintura dela. Com certeza, ela acabaria com aquilo a qualquer instante.
Oh, não, esperem... Ela ainda estava me beijando. Ainda. Estava. Me. Beijando. E eu a beijava.
Merda. Aquilo era completamente inapropriado. A gente saíra apenas para comer um sanduíche de camarão, mas era tão envolvente… Meu estômago parecia ter mergulhado nas profundezas do chão do bar.
E sem mais nem menos ela se afastou, virou-se para ele e disse, resoluta: – Vaza!
Ele pareceu envergonhado, abatido e particularmente zangado comigo. Já via até as manchetes: CABEÇA DE HOMEM ESPETADA POR DARDOS EM ALVO DE BAR.
– Chloe! – sussurrei no ouvido dela. – Vai fazer com que eu leve uma surra, pelo amor de Deus. – Eu estava bravo com o que ela acabara de fazer, mas também muito excitado. Era uma mistura confusa. E a excitação já estava sem dúvida vencendo aquela queda de braço...
– O que foi? Só precisava que ele pensasse que eu tinha namorado – disse ela, tranquilamente, enquanto bebia um trago de sua Coca diet como se nada de extraordinário tivesse acontecido.
Jesus. Que louca. Mas bem que gostei. É melhor não contar a ninguém o que acontecera, pensei, deixando cair estrategicamente um guardanapo no colo.

Esta é uma história de amor (Jessica Thompson)Onde histórias criam vida. Descubra agora