"Foram os peitos. Eles me fizeram falar. " PARTE II

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Nick

Esta noite minha vida vai mudar. Vou contar à garota dos meus sonhos que a amo.
Não vou me apressar e contar logo de cara quanto tempo eu passei com a cara enfiada na fotocopiadora. Saber a hora certa é crucial.
Levei a lâmina de barbear ao queixo e removi a pequena floresta de pelos faciais que crescera debaixo dele. Depois, tirei o ferro de passar e alisei as roupas que formavam uma pilha no canto do meu quarto. Isso incluía minha camisa listrada vermelha e branca. A que eu usara na Flórida quando eu e Sienna cobrimos a feira de games. A noite em que nos perdemos numa zona de bares da cidade. Eu ia vesti-la esta noite.
Eu me senti nervoso ao acordar esta manhã. E se Pete estivesse errado? E se ele estivesse me pregando uma peça? E se eu contasse a ela, e ela risse de mim? Ah, meu Deus, era aterrador. A loção pós-barba poderia ajudar, pensei, parado diante do espelho, olhando para minha expressão apavorada.
Ross me acalmara no pub ontem à noite, mas hoje de manhã eu estava de volta à estaca zero.
– Ela me ama, Ross – disse a ele, apressadamente, assim que Tom percebeu que ficara alto rápido demais e teve de sair às nove horas, derrubando uma banqueta do bar ao dirigir-se para a porta.
Eu estava doido para contar a alguém a noite toda, mas não podia contar na frente de Tom. Sua bebedeira prematura aconteceu na hora certa.
– Quem? Sua mãe? – perguntou Ross, começando a rir e me dando tapinhas no ombro. Ah, as piadas de mãe são tão populares na escola, na faculdade, e continuam inevitáveis na vida adulta…
– Não, bom, sim, ela me ama, mas estou falando de Sienna – disse, virando os olhos de frustração.
– O quê? – gritou meu amigo, que acabara de parar de rir e agora me encarava, chocado. Suas horas de academia o deixaram parecendo um daqueles Toblerones gigantes que a gente compra no aeroporto. Eu praticamente conseguia ouvir os botões de sua camisa tremendo de medo antes de serem arrancados do tecido e voarem para o esquecimento.
– Sim. É tão difícil assim de acreditar? – brinquei.
– Bom, um pouco. Depois de cinco anos? Tem certeza?
Obrigado, Ross. Você podia ficar um pouco mais feliz por mim. Será que era tão difícil de acreditar? Talvez todos os músculos que ele adquirira estivessem impedindo que o sangue circulasse adequadamente em sua cabeça, deixando-o sem emoção alguma.
– Sim. Bom, foi muito estranho. Ela é amiga de um morador de rua chamado Pete, e hoje, depois do trabalho, ele estava me esperando perto do meu carro.
– Sei… – disse Ross, em tom dúbio, brincando com o anel de água que se formara na mesa pela condensação de seu copo.
Enquanto eu falava, percebi quanto essa história parecia ridícula.
– No começo, eu não o reconheci. Achei que ele ia me assaltar ou algo assim, então a gente se atracou um pouco, mas enfim…
– Você tentou bater num morador de rua? – Ele arqueou uma sobrancelha inquisitivamente, começando a sorrir de orelha a orelha.
– Não, não, não. Bom, eu acho que quase. Pelo amor de Deus, me deixe terminar. Eu percebi que era ele e deixei-o entrar no carro, e ele me contou – concluí, jogando as mãos para a frente e recostando-me na cadeira com ar de júbilo.
– Sienna ama você há cinco anos e ela confessou a um mendigo, e não a você. – A sobrancelha dele tremeu novamente enquanto ele me avaliava. – Você precisa me contar mais.
Então eu contei. Tudo. A conversa toda. A Coca-Cola entornada, as botas sujas no painel limpinho, a alegria esfuziante em que eu fiquei.
E então ele amoleceu.
– Porra, Nick. Isso é demais. Eu fico tão, tão contente por você, cara – disse, com um sorriso. Eu podia ver que ele estava confuso, e não o culpava.
Normalmente, quando eu me encontrava com Ross, era para discutir algo terrível ou humilhante que eu fizera, o que eu acho, de alguma maneira, que lhe dava prazer. Mas dessa vez as coisas estavam a meu favor e eu não fizera nada que fizesse o meu amigo ficar fulo comigo. Agora todas as estrelas estavam alinhadas no meu caminho (pelo menos uma vez) e ele não sabia ao certo o que dizer.
– E você já disse a ela que a ama, certo? – perguntou, jogando um punhado de amendoins na boca.
– Não. – O quê? – Eu disse não. – Seu idiota! – Obrigado. Por que sou idiota? O que eu fiz agora?
– Então, basicamente, a garota dos seus sonhos o ama, mesmo que isso fosse tão óbvio como o meu nariz…
– Você tem um nariz e tanto, amigo – interrompi.
– Você a ama há cinco agonizantes anos e, mesmo assim, quando descobre que ela sente o mesmo, ainda se senta neste pub encardido comigo, seu amigo gordo, bebendo cerveja choca e cara.
– Você não é gordo, Ross, você só está malhando demais. Ele me ignorou.
– Então, você se senta no pub com seu amigo gordo em vez de ir bater à porta dela e resolver isso?
– Eu estava esperando pelo momento… certo? – disse eu, enquanto uma onda de percepção me arrebatava.
Ele olhou para mim. Eu olhei para ele. Ele estava certo. Fez-se quase um minuto de silêncio enquanto chorávamos a perda de alguma coisa: meu bom senso.
– Devo ir agora? – eu disse, levantando abruptamente e pegando meu casaco, pronto para arrebatá-la.
– Não, não, não – disse ele, puxando-me de volta. – O quê? Você está me confundindo.
– Já são quase dez horas, Nick, e para ser sincero, você é que parece um desabrigado. Além do mais, a julgar pelo brilho nos seus olhos, desconfio que você está uns 60 por cento bêbado, o que significa que vai estragar tudo. – Ele deu um grande gole de sua caneca, mantendo o rosto absolutamente neutro.
Eu imaginara que esse momento seria um pouco diferente do que ele acabou sendo. Eu achava que ele teria muitos sorrisos, batidinhas nas costas e conversas masculinas e profundas sobre o amor que nos tornariam tão emotivos que teríamos de pigarrear e ir para a rua dar uma voltinha. Eu não sabia se era o álcool, ou o fato de saber que Sienna sentia o mesmo, mas parecia que eu estava andando em nuvens todo o caminho de volta para casa naquela noite.
Mas meus nervos pareciam trinar quando eu a vi entrar no escritório esta manhã, e em vez de trancá-los em algum lugar silencioso, como eu deveria ter feito, pulei em cima dela antes que ela conseguisse sentar. Acho que ela deve ter se assustado.
Ly dia quase estragou minha cena. Eu encontrara com ela antes, no elevador.
– Oi, Lyds – disse eu, dobrando meu jornal ao meio e começando a ler a primeira página. De novo. Eu já tentara lê-la algumas vezes esta manhã, mas meus olhos só chegavam até a primeira linha. Eu estava empolgado demais para prosseguir, e mais ainda para abrir o jornal. Não. Conte. Para. Ela. Seja forte, Nick. Boca fechada. Fique quieto.
– Oi, Nick. Você está bem? – perguntou, parando ao meu lado, com um ar adorável e cheirando a frutas da floresta. Ela estava sempre com boa aparência, mas hoje os seios estavam muito mais à mostra…
– Ó meu Deus, Sienna me ama – deixei escapar quando o elevador começou a subir. Bem- feito. Idiota. Foram os peitos. Eles me fizeram falar.
Ela se virou para mim com a boca aberta e uma expressão de felicidade no rosto, como se tivesse acabado de saber que ganhara na loteria.
– Eu sei que ela o ama! – disse ela, com voz esganiçada, dando pulinhos sobre seus saltos perigosamente altos.
O elevador balançou um pouco, então eu estiquei a mão e a detive. Elevadores já eram de dar medo sem aquilo. Ela também sabia? Fiquei imaginando quantas outras pessoas sabiam. Oras, e por que ninguém me contara?
Ficamos parados olhando um para o outro por alguns segundos.
– Ela gosta de você há muito tempo, Nick. Fico tão feliz por vocês dois. – Ela ficou rindo e me deu um cutucão com o cotovelo antes de a porta do elevador abrir-se, e saiu saracoteando depressa.
Mas espere aí… A conversa foi tão curta que eu esqueci de dizer a coisa mais importante, que era “Não diga nada, eu ainda não contei para ela que sei…”. Então, mais tarde, quando Sienna chegou e eu vi Lydia puxando uma cadeira para sentar ao lado dela, não tive outra opção a não ser arrancá-la de lá. Admito que dei um puxão bem forte em seu braço, mas parece que funcionou. Até agora, pelo menos, o desastre fora evitado.
Eram cerca de onze da manhã quando o meu telefone tocou, despertando-me de meus devaneios.
– Muito bem, Nick, pedi a Sienna que viesse à minha sala às três da tarde para falar sobre o cargo. – Era Ant, e esta era uma decisão que mudaria a vida dela para sempre.
– Maravilha! Que ótimo, Ant. Você não vai se arrepender, não vai mesmo – disse eu, percebendo o quanto aquilo era clichê. Mas eu sabia que ele não se arrependeria. Ninguém jamais delegou alguma responsabilidade a Sienna e se arrependeu. Ela era mais capaz que o escritório todo junto. Ela era incrível.
– Está bem, mas fique de boca fechada. Não vou falar com ela antes das três da tarde, e pode ser que ela recuse – instruiu ele, em seguida desligando na minha cara. Dessa vez, eu não liguei.
Pensei no pai dela e em como ele ficaria orgulhoso. Eu já conhecia George muito bem e sabia que isso lhe traria uma grande alegria. Mas alguém como George não podia sair e fazer as coisas que os outros pais fazem para exibir seu orgulho. Chocolates. Balões. Flores. Qualquer coisa. Eu sabia que havia um pequeno risco, mas eu estava disposto a corrê-lo. Peguei o telefone e digitei o número dele. Chamou algumas vezes e, finalmente, ouvi um clique do outro lado da linha.
– Alô, George Walker falando – disse ele, com voz mais rouca que de costume. Ele devia estar dormindo, pensei.
– Olá, George. É Nick– respondi, sentindo uma onda de ansiedade percorrer todo o meu corpo.
– Ah, Nick. Que bom falar com você. – Ele parecia muito sonolento. Fiquei pensando se deveria colocar mais pressão sobre ele, se o dia não estava muito bom.
– Eu digo o mesmo. Acho que é melhor você sentar – disse eu, sabendo que transmitir esta notícia enquanto ele estava de pé não seria uma boa ideia.
– Sim, é claro. Espere um segundo. – Ouvi-o afundar na cadeira de couro, que sempre range quando alguém se senta nela. Eu podia vê-lo no apartamento. Cadernos e pratos por todo o lado, uma coleção de canecas sobre a mesa.
– Sienna conquistou uma coisa muito importante hoje. Não quero dizer exatamente o que é, porque é ela quem deve fazer isso, mas ela recebeu uma grande promoção – comecei, sentindo- me um pouco enjoado. Respirei fundo e olhei para o meu quadro de avisos, que estava coberto de fotos, incluindo uma de Sienna comigo num dia de formação de equipes no trabalho. Olhei bem dentro dos olhos dela e simplesmente soube que estava fazendo a coisa certa.
– É mesmo? – disse ele, com a voz já começando a demonstrar pontadas de emoção.
– É uma coisa muito grande, e vai deixá-lo muito orgulhoso. – Os pelos do meu braço se eriçaram quando eu disse isso.
Ouvi sua respiração pesada do outro lado da linha. Inspirando. Expirando. Ele não disse palavra; eu sabia que ele estava lutando contra o escuro manto do sono.
– Está aí, George?
– Sim – disse ele, baixinho.
– Muito bem. Se você permitir, vou encomendar umas flores e alguns balões para Sienna, de sua parte. Espero não estar passando dos limites ao fazer isso. É que eu sei que você não pode ir até a loja… – Ah, meu Deus. Eu esperava estar fazendo a coisa certa.
Houve uma longa pausa e ele disse.
– É mesmo? Seria muita gentileza, Nick. Ufa!
– Imagine, não é nada. São suas coisas, eu não tive nada a ver com isso. É que… são ótimas notícias, George, e eu quero que você possa comemorar com ela… – continuei. Senti que me saíra bem e fiquei contente.
– Obrigado, Nick. Você é muito importante para nós dois. Espero que saiba disso – disse ele, agora muito lentamente.
– Você também, George. Vou encomendar tudo agora para que chegue antes de ela voltar para casa. Vou dizer para a empresa deixar tudo no armário ao lado da porta de entrada, se você não puder atender a porta.
Ouvi mais algumas respirações difíceis, e o telefone ficou mudo. Ele devia ter adormecido.
Encomendei o mais lindo arranjo de flores, uma garrafa de champanhe Moët, um cartão e dois balões de hélio grandes. Eu mal podia esperar para encontrá-la para jantar. Eu iria confessar.
Confessar que a amo e que sempre a amei, desde o dia em que a conheci.

Esta é uma história de amor (Jessica Thompson)Onde histórias criam vida. Descubra agora