"Eu acredito no amor, sabe?"

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Sienna

Já faz cinco semanas e dois dias que conheço Nick Redland, e as coisas ainda não se assentaram como eu esperava.
Após a decepção no episódio do trem, desejei secretamente me aquietar. Tudo bem, eu vi esse cara no trem, e ele parecia ser perfeito, mas depois descobri que era um tipo engraçadinho de coração partido que trabalha no mesmo lugar que eu. Nunca julgue os outros pela aparência. Não é o que dizem?
Ele é um pouco mais que irritante, com toda aquela brincadeira pelo escritório. Bolas de pingue-pongue para cima e para baixo pela sala, sal nas xícaras de café e aqueles dedos de plástico vendidos em loja de mágica deixados na bandeja de papel da impressora. É como se o único objetivo de sua vida fosse fazer Tom rir. Ele parece bem imaturo para sua idade, e, além do mais, ainda está meio traumatizado.
Homens de coração partido são como animais selvagens correndo por aí com histeria nos olhos, tentando desesperadamente aparar as arestas feridas de seus egos.
Mas ele é lindo… dificilmente seria do tipo que tem esposa, dois cachorros, uma casa geminada no campo e um bebê chamado Alistair.
Por mais que tente evitar, me pego pensando nele. Estou tão tranquila quanto Cameron Diaz em O Casamento do Meu Melhor Amigo, na cena em que ela quase tem um orgasmo ao lhe oferecerem uma simples xícara de chá.
Ele é solteiro. Sim, solteiro. E aos meus olhos é o ideal de perfeição.
Não consigo imaginar por que a tal Amélia o deixou. Talvez ele fosse irritante em casa também, e não apenas no escritório. Penso que só isso já me afastaria…
Fico tentando controlar esses sentimentos conflituosos. Sinto-me culpada sendo tão superficial só porque ele não atende aos meus parâmetros mínimos de personalidade. Mas eu sinto atração por ele. Muita.
Brigo comigo mesma toda vez que me pego andando na rua com aquele sorriso escancarado como se tivessem me enfiado um prato na boca. Cá entre nós, às vezes as brincadeiras dele são bem engraçadas.
De qualquer jeito, ele não se interessaria por mim. Tenho quase certeza de que ele é bem mais velho do que eu e, além do mais, outro dia afagou minha cabeça e disse que eu me parecia muito com a irmã dele.
Isso não é bom sinal. Em definitivo. Provavelmente é o modo de ele dizer “Sai de perto de mim, não gosto de você daquele jeito.”
Ele dá o mesmo sorriso lindo às moças da recepção; dá a mesma atenção a Tom; e até alimenta Dill, pelo amor de Deus. Nick olha para mim como olha para qualquer outra pessoa do mundo.
O problema com os homens bobos é que eles são engraçados. E, por serem engraçados, acabam sendo mais atraentes. É um fato. Homens que fazem você rir ficam instantaneamente mais atraentes. E, como ele é imaturo, faz com que eu ria muito.
Minha melhor amiga, Elouise, acha que estou ficando louca e já falou para eu me acalmar. É exatamente o que vou fazer. Ela é o balde de água fria de que preciso neste momento.
Conheço Elouise desde a sétima série, e ela é minha heroína. Ela é a calma no olho do furacão. Nem mesmo um vendaval se abatendo contra mim parece tão ruim depois de uma boa conversa com ela na companhia de uma garrafa de vinho.
Ela é secretária jurídica, bela, loira e com um nariz lindo e tão atraente que chega a dar raiva. Quando a veem, os homens se exibem e posam de super-homens, mas ela, na verdade, só quer alguém que esteja com ela sempre que precisar e que pare de fazer joguinhos.
Ela tem um filhinho, que está com três anos agora. Ninguém lhe contou que, se você ficar doente enquanto estiver tomando pílula, pode ficar grávida. Foi no final da nossa adolescência. Quando ela me contou, lembro-me de ter enxugado as lágrimas de seu rosto borrado de rímel e pensado que isso faria dela uma grande pessoa. Eu estava certa.
As pessoas às vezes a julgam mal, mas ela é uma das pessoas mais fortes e inteligentes que conheço, e sinto que tenho muita sorte em ser sua amiga. Preciso falar com ela sobre este negócio do Nickde novo, contar a ela que não está passando. Ela saberá o que fazer. Sempre sabe.
Eu estava com os nervos à flor da pele porque tinha uma reunião à uma da tarde e não fazia a menor ideia de sobre o que seria. Anthony nunca havia me chamado para uma reunião a sós antes, e isso me deixava animada, embora sua voz tivesse soado meio estressada ao telefone quando me ligou esta manhã. Era a primeira vez que ele me ligava antes das nove.
Sempre me esforcei muito desde que comecei aqui, então esperava que fosse algo positivo.
Com toda essa história de ficar sonhando acordada, meus pensamentos ficavam vagando, então era provável que ele fosse me demitir. Meu período de experiência ainda não terminara, portanto eu ainda me encontrava em terreno incerto.
Saber que estava chegando a hora da reunião tornava os ponteiros do relógio cada vez mais vagarosos, e cada segundo parecia ainda mais lento do que o anterior. Queria subir numa cadeira, movê-los para a frente e assistir a todo o escritório andar em ritmo acelerado. Tentei fazer com que o tempo passasse mais rápido, virando o relógio da minha mesa para o lado da divisória forrada de tecido e ocultando o da tela do computador. Não me lembraria das horas se não o visse.
Terminei um artigo sobre tênis de corrida e depois preparei chá em quantidade suficiente para passar pelo menos uma hora matando o tempo sem fazer nada.
Uma hora antes da reunião, minha atenção se voltou para Pete, o sem-teto. Talvez me acalmasse focar em outra pessoa. Fazer algo de bom. É o que meu pai diz: “Se você estiver se preocupando demais consigo mesma, ajude alguém que tenha problemas reais. Transforme sua ansiedade em algo produtivo”. As palavras ecoavam na minha cabeça, então decidi partir para a ação.
– Lydia? – chamei em voz baixa, inclinando-me na cadeira – Sabe aquele sem-teto lá fora? – Sim, amor – ouvi sua voz abafada vindo de algum lugar.
– Será que posso, hum, será que posso levar um chá para ele? O que você acha? – Senti-me uma idiota no mesmo instante. O que tinha dado em mim?
Um pedaço de cabelo arrepiado espreitou por trás da divisória, seguido de um sorriso elétrico e olhos tresloucados.
– Humm… – Ela olhou em volta, checando se havia alguma autoridade. Então se inclinou para mim e, enquanto uma onda de perfume adocicado me chegava ao nariz, sussurrou: – Vá lá, mas eu não disse nada.
E tornou a sumir da mesma maneira, levando consigo seu sorriso irreverente.
Levantei e me dirigi à máquina de café, espiando pela janela o estacionamento lá embaixo. Obviamente, lá estava ele: uma figura magra e curvada sentada no banco, dessa vez rodeada por quatro latas de cerveja.
Não havia fila dessa vez. Peguei chá com açúcar. Era apenas um palpite, claro. Imagino que, se eu dormisse nas ruas numa noite úmida de primavera, provavelmente gostaria de chá com açúcar também. Trouxera uns biscoitos junto com meu almoço, então os enfiei no bolso para levar para ele. Biscoitos de chocolate.
Escondi o copo na jaqueta e fui para o elevador. Estava nervosa. E se ele fosse malcriado? E se fosse grosso comigo? É provável que quisesse dinheiro. E não chá.
Entrei no elevador, esperando estar fazendo a coisa certa. Passei despercebida pela recepção, apertei o botão para abrir as grandes portas de vidro da parte de trás do prédio e saí no ar frio do estacionamento.
Ele estava sentado de costas para mim com a cabeça tão inclinada para a frente que, visto de trás, parecia não haver cabeça alguma. Olhei meu relógio; passavam cinco minutos do meio-dia.
Caminhei em silêncio até o banco e sentei ao lado dele. Não olhou para mim, mas seu rosto enrugado estava agora voltado para o sol morno que marcava o começo do verão. Ele usava uma jaqueta azul-marinho desbotada, um suéter cinza por baixo, jeans rasgado e botinas marrons com cadarços prestes a arrebentar. Fedia a cerveja.
– Então agora você fala comigo, é? – perguntou, cortante.
Na mesma hora percebi que aquela provavelmente havia sido uma má ideia. Resolvi ignorar a pergunta – Oi, sou a Si… – comecei timidamente, mas fui interrompida. Tive um sobressalto.
– Eu acredito no amor, sabe? – disse Pete, com os olhos desviados para algo no horizonte. – Até já tive um certa vez – continuou, mexendo-se nervosamente no banco, a ponta dos dedos sujos brincando com uma linha solta de seu suéter.
– Qual é o seu nome? – perguntou, ignorando o fato de que eu tentara dizer-lhe apenas alguns segundos antes. Sua voz era grave, com forte sotaque londrino, como se ele tivesse sido bem colocado no passado antes de ter se tornado um desabrigado.
– Hum… Sienna. Seu nome é Pete, certo? – perguntei-lhe, reparando que ele ainda não conseguia me olhar nos olhos.
Ele balançou a cabeça suavemente, confirmando seu nome.
– Mas ela morreu. Não está mais aqui… – recomeçou, com um tom de desespero e desesperança na voz. Aquilo era uma revelação íntima para um primeiro contato, mas fiquei quieta, fitando as latas de cerveja perto dos pés dele. Ele devia estar bêbado. Continuava a mexer na linha do suéter, que começava a desfiar.
Não sabia bem o que dizer.
– Você tinha uma namorada, e ela morreu? – perguntei, por fim, percebendo como aquilo soava estúpido, já que era exatamente o que ele acabara de falar. Empurrei o chá e os biscoitos para ele sobre o banco. Ele os pegou rapidamente e os colocou do outro lado, longe de mim, como se eu fosse mudar de ideia e pedi-los de volta.
Percebi que havia algo mais em seus olhos cansados que noites frias ao relento e falta de boa alimentação. Não fiz muitas perguntas.
Ficamos sentados lado a lado sem dizer nada por dez longos minutos. Sirenes da polícia quebravam o silêncio vez ou outra; um galho caiu de uma árvore, vindo parar junto de nossos pés. Ele estremeceu.
Finalmente consegui perguntar alguma coisa. – É por isso que está aqui, Pete?
– Poderia dizer que sim. Ela era minha mulher, na verdade… pegou o trem um dia para trabalhar. Pensei que seria um dia como todos os outros. Naquela manhã, tudo estava normal entre nós dois; dois copos grandes de suco de laranja e um beijo de despedida. Mas não era o trajeto rotineiro dela; ela estava indo para uma conferência e ficaria num hotel aquela noite. Mas aconteceu um acidente, um grande acidente… – Ele se deteve por um momento, mordendo o lábio inferior. – Ela estava num trem que bateu em Oakwood Park. Aquele vagão estava marcado, minha mulher estava lá dentro, e eu gostaria de ter podido impedi-la de sair naquela manhã. Minha vida inteira se acabou no dia em que ela morreu. Foi destruída. Fiz algumas besteiras na época, e as pessoas não foram tão solidárias quanto eu esperava. Então acabou assim, eu sozinho na cidade. Agora já faz muito tempo. Maldito ano 2002.
Ele chutou uma das latas que estavam perto de seu pé, e ela rolou pelo concreto irregular até parar de encontro ao pneu de um carro. O estacionamento era pequeno e relativamente tranquilo se comparado ao burburinho da rua principal em frente ao prédio, que se podia ouvir de onde estávamos.
Havia espaço para 20 carros, com as vagas demarcadas por cercas vivas cuidadosamente aparadas e com embalagens de salgadinho e latinhas de alumínio presas entre os galhos. Não sei
o que o banco fazia ali. Não era exatamente um bom lugar para ficar. A única outra coisa era uma grande lata de lixo azul com tampa preta.
Então era isso, a queda de um homem em versão resumida. Uma ou duas frases abreviadas documentando o que deveria ter sido anos de agonia para aquela alma perdida sentada a meu lado.
A história me tocou profundamente e outra vez eu me perguntei se não havia sido um erro ir até ele. Eu só queria trazer um chá e biscoitos, mas agora queria ajudá-lo. Salvá-lo. Sou um pouco assim às vezes, mas é um erro, porque já tenho responsabilidades demais em minha vida.
Ele parecia terrivelmente conformado com o lugar em que se encontrava. Como se uma solução fosse tão impossível que ele ficaria ali sentado pelo resto da vida à espera de que ela chegasse ao fim.
Observando, esperando, fuçando latas em busca de respostas entre as soluções inúteis da cidade. Sem chances de esperança, desejos ou mesmo sonhos. Sua vida se despedaçara; o fim já chegara.
A desesperança oca de sua situação chegava a mim como um calafrio. Imaginei o acidente de trem, os ferros retorcidos e as nuvens de fumaça. Imaginei os fotógrafos dos jornais subindo nas cercas e usando suas lentes enormes para captar mais um momento trágico. Imaginei os funcionários da ferrovia naqueles macacões de cores berrantes e faixas refletoras se agrupando nos cascalhos dos trilhos, as mãos na cabeça, olhando aquilo tudo com expressão de descrença.
Não sei por que fiz aquilo, mas coloquei minha mão direita sobre a esquerda dele. Às vezes fazemos coisas por instinto. Sua mão era áspera ao toque. Ele estremeceu.
– Por que você está fazendo isso, Sally? – disse ele, voltando-se para mim com um sorriso aberto.
– Sienna – corrigi. – Não sei. Apenas penso que você deve ter se esquecido de como é não estar sozinho. Não quero que se esqueça. Acho que as coisas vão se ajeitar para você, acho mesmo. – Lágrimas começaram a brotar de meus olhos, e meu lábio inferior começou a tremer enquanto pronunciava aquelas palavras como um caldo de emoções. Meu Deus, que patética.
– Ah, querida – disse ele. Sua voz denotava cansaço. – Estou bem. Sou um lutador e a tenho comigo de qualquer jeito, é o que me ajuda a sobreviver. – Ele sacou de sua jaqueta uma carteira de couro gasta e tateou uma divisória interna. O cheiro azedo de cerveja tomou o ar entre nós, atingindo minhas narinas.
– Aqui está ela: minha linda Jenny – declarou, mostrando a foto envelhecida de uma mulher esbelta e de longos cabelos loiros. Estava envolta num pedaço de plástico amassado, numa vã tentativa de preservar sua imagem. Ela parecia saudável, realizada e feliz.
Imaginei como ele deveria ser quando estava com ela, a barba feita, cabelo curto, terno. Talvez até tivessem carro e assinassem um jornal. Visualizei-os num domingo, sentados, Pete com o caderno de esportes, Jenny com o de cultura.
Olhei meu relógio; agora eram 12h20. Sem pensar, falei: – Posso levar essa fotografia por um instante, Pete?
– Não. Não leve a mal, mas e se você a perder? É tudo que tenho, e está bom assim. Pega chuva e… talvez não dure muito – respondeu, deixando transparecer uma ponta de medo na voz.
– Bom, é que eu só queria deixá-la melhor para você. Por favor, confie em mim e espere cinco minutos – implorei.
– Mas por que você a quer? Diga – falou ele.
– Apenas confie em mim, você consegue? – respondi, o coração acelerando.
Antes que ele continuasse a argumentar, peguei a fotografia de suas mãos e me levantei. Um olhar de desespero cruzou-lhe a fisionomia, como se ele implorasse para que eu não levasse a única coisa bonita que ainda possuía. Ele olhou para mim sem energia suficiente para falar.
Eu me virei e me apressei na direção da porta dos fundos e da recepção.
– Posso usar a sala da copiadora? – perguntei a Sandra, apressada. Não queria prolongar o que já era, para ele, uma preocupação enorme. Ela lixava as unhas e mal prestava atenção ao que ocorria à sua volta.
– Sim, claro, querida. Sem dúvida – respondeu, sem ao menos olhar para mim, jogando a lixa displicentemente.
Eu precisava fazer aquilo rápido; tinha só cinco minutos para fazer algo realmente especial, e, se eu não conseguisse, passaria o resto da minha vida me sentindo culpada.
Coloquei com cuidado a fotografia no scanner, certificando-me de não deixar manchas de gordura no vidro. Em segundos, a imagem já aparecia na tela. Aumentei-a um pouco, agucei as cores e cortei as bordas. Apertei o botão de imprimir, a mão direita tremendo ligeiramente. Sim. Ia ficar bom. Eu a plastificaria para não estragar, a devolveria a ele e voltaria para cima. Fim. Então ele a teria para sempre.
A impressora fez um barulho, começou a funcionar e, depois de alguns cliques, fez um ruído estranho. Eu não sabia usá-la, mas não devia ser tão difícil assim.
Saiu a primeira cópia, e o rosto dela impresso em papel fotográfico estava tão bom quanto no original, talvez melhor. Recolhi e sorri. Legal. Até agora tudo bem.
Mas então outra cópia saiu. E outra. E outra.
Ai, meu Deus. Onde estava o botão para parar aquela coisa? Merda.
As cópias agora iam se cumulando na bandeja e saíam cada vez mais rápido. Deve ter feito umas cem em apenas alguns segundos. Como isso acontecera? O rosto de Jenny já estava me tirando do sério. E novamente. E de novo.
Fiquei parada lá por alguns minutos enquanto o papel continuava a ser cuspido; as folhas agora iam escorregando e caindo da bandeja como numa miniavalanche.
Comecei a ficar nervosa. E, quando fico nervosa, não consigo pensar direito. Já estava lá havia pelo menos cinco minutos; já havia quebrado minha promessa.
Olhei todos os botões e nenhum fazia sentido. Luzes piscavam, uma verde, uma vermelha. Havia um grande botão rosa que parecia adequado para parar aquilo; apertei-o, mas nada aconteceu. Inclinei-me sobre a máquina e meus olhos buscavam desesperadamente um fio que terminasse numa tomada, mas parece que a fiação era toda embutida no chão. Merda.
Mais cópias continuavam a ser feitas. Parecia mais rápido agora. A máquina soltava cliques e barulhos esquisitos.
De repente, ouvi o barulho de saltos, e a porta atrás de mim se abriu.
– O que você está fazendo, Sienna? – perguntou Sandra, parada no meio da porta com cara de desconfiada.
Não falei nada e agitei um pouco os braços.
– Tem gente precisando usar esta sala. O que está acontecendo? – continuou, a expressão em seu rosto piorando, a maquiagem tão espessa que parecia que ia cair no chão como uma panqueca e fazer um estalo.
Pensei que estava conseguindo esconder os papéis, mas a copiadora ainda despejava Jenny ininterruptamente.
– Espera aí, o que é isso tudo no chão? Você sabe muito bem que só temos permissão para tirar dez cópias por dia, e que para conseguir mais é preciso autorização. Parece ter centenas aqui! – ela gritava agora, enquanto se ajoelhava no chão e tentava organizar as folhas. Suas bijuterias chacoalhavam, e seu perfume já estava me deixando enjoada.
– Olha, apertei o botão errado, não sei como – balbuciei, corando.
Ela segurou uma das folhas ao levantar, olhando para aquela imagem de mulher que ela não sabia quem era no canto superior esquerdo da página.
– Quem diabos é esta? A empresa não tem dinheiro para financiar os seus projetos, Sienna. Você sabe que tenho de reportar isso, não? É meu trabalho.
Agora eu estava começando a ficar zangada.
– Já falei pra você, fiz algo errado. Como se para isto?
Ela fez sinal para que eu me afastasse enquanto a copiadora continuava a vomitar cópias de Jenny e apertou um botão apenas. Uma última cópia foi lançada, número 451. Então, silêncio. Ela me olhou com os lábios contraídos e a sobrancelha arqueada. Então, tive certeza de que ela era do mal.
Abri a boca para falar, mas um barulho alto vindo da porta da recepção me interrompeu.
– Ei. Ei! Dá minha foto de volta! – ouviu-se, num grito raivoso. Nós duas olhamos na direção da porta, nervosas. Era Pete. Não podíamos vê-lo, mas eu sabia.
– Que diabos está acontecendo? – perguntou ela, estremecendo à medida que o barulho aumentava.
– Ai, meu Deus. Me desculpe. Me dê só um segundinho, por favor. – Eu me virei para levantar a tampa do scanner e pegar a foto, mas, antes que pudesse, Dave, o jornalista de esportes, apareceu do nada.
– Gente, tem algo muito doido acontecendo – ele falou, animado, sua franja enorme e estilosa caindo por cima do rosto. Ele a ajeitou.
Senti um frio no estômago.
– Aquele sem-teto está enlouquecendo lá fora, atirando latas de cerveja. Latas de cerveja, cara, ele está arremessando nas janelas do andar de cima. Uma das janelas do escritório de Ant rachou. Ele está furioso, cara! Vão chamar a segurança! – gritou, exultante, como se aquilo fosse a coisa mais legal que já acontecera no escritório.
– Todo mundo está lá em cima assistindo! Acho que vão chamar a polícia – continuou, batendo palmas.
Olhei o relógio, ainda sem assumir a responsabilidade por aquele acontecimento inusitado. Eram 12h40.
– Ei! Quero minha foto! – a voz de Pete vinha da recepção de novo, mais alta dessa vez. Então, outro estrondo, e o barulho do vidro chacoalhando. Agora parecia que ele estava atirando latas de cerveja nas janelas da recepção.
Sandra olhou para a foto no papel em sua mão e me fitou.
– Você roubou esta foto de Pete Dançarino, Sienna? – perguntou, apertando os olhos.
Pete Dançarino, que nome ridículo. Comecei a tremer – Pelo amor de Deus, não, claro que não. Estava tentando fazer uma coisa para ajudá-lo! – protestei. Mas eu mesma sabia que era um argumento fraco.
Arrumei rápido a bagunça e saí correndo da sala rumo à recepção, meus saltos batendo com força no chão de concreto. A foto ainda estava no scanner.
Lá estava ele, pressionando-se contra o vidro, a boca quase espumando. Fiquei aterrorizada. Apertei o botão para abrir a porta, e ele se atirou na minha direção quando ela se abriu.
– Sua puta. Dá a minha foto – gritou, apontando a mão trêmula para mim.
Conduzi-o para fora dando a volta pela lateral, para longe da vista da multidão, que provavelmente espiava da janela do nosso andar.
– Calma, Pete – falei baixinho, tentando apaziguar sua fúria. Seus lábios se retorciam, e os olhos lacrimejavam. Um fio de saliva brilhava no queixo por causa dos gritos. – Olhe aqui, está tudo bem. Deu alguma coisa errada com a impressora. Eu estava tentando fazer uma coisa por você, com a foto… Fique calmo, está bem? Vou pegá-la para você agora. Vá lá fora e sente no banco, respire um pouco, por favor. – Eu tremia como uma vara verde.
Ele apertou os olhos, me fitando, e por alguns segundos ficamos cara a cara em silêncio. – Impressora? O que você está fazendo com ela? Vai, vai, pegue. Mas se você não voltar eu juro que quebro tudo e entro – ameaçou, desviando o braço e já se abastecendo de mais uma lata de cerveja.
Voei de volta para a sala da copiadora e pedi a Sandra e Dave que me dessem espaço. – Sandra, cancele a segurança, por favor, está tudo bem. Já dei um jeito.
Ela fez um muxoxo e foi embora. Dave saiu e tomou o elevador com ar de contentamento.
Respirei fundo para me acalmar, peguei uma tesoura e recortei em volta da fotografia cuidadosamente. Então plastifiquei, aparei as bordas e examinei a nova versão. Valera a pena. Ela estava linda e agora era para sempre. O plástico era resistente e selado em toda a superfície. Isso significava dizer que a lembrança dela não seria amolecida pela água da chuva, rachada pelo frio ou desbotada pelo sol.
A alegria que isso me dava superava o fato de que eu estava metida numa grande encrenca por tudo o que se passara.
Pisando sobre as pilhas de cópias espalhadas pelo chão, saí correndo e coloquei-lhe a foto antiga nas mãos. Ele ficou confuso.
– Olha, Pete, tenho que voltar agora, mas isto é para você, OK? Por favor não me odeie. Estava só querendo ajudar.
Coloquei a versão plastificada em suas mãos, mas ele ainda parecia zangado ao olhar para ela, com as narinas dilatando-se. Ele não disse nada, e então coloquei a mão em seu ombro, apertando-o, percebendo de repente como era ossudo.
– Até logo – falei baixinho antes de me virar para ir embora. Um esquilo se encontrava em meu caminho.
Quando cheguei à porta, virei-me antes de entrar. A silhueta de suas costas tremia um pouco; a cabeça entre as mãos. Parei, olhando-o por um instante. Então, de repente, ele se virou para mim e sorriu, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Lágrimas de felicidade.
Inseri o cartão para entrar na recepção e passei por Sandra, ignorando seus gritos em minha direção. Entrei direto no elevador, que, para minha sorte, estava aberto. Fiquei lá dentro alguns segundos, com o coração acelerado, antes de apertar o botão para o terceiro andar.
Assim que a porta abriu, Lydia estava me esperando.
– O que diabos você fez? – perguntou com um meio sorriso, as mãos em prece contra a boca. – Nada, está tudo bem, deixe pra lá – respondi, as lágrimas vindo aos olhos.

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Sexta ou antes tem capítulo do lindo e maravilhoso Nick minha gente hihi.
Espero que estejam gostando e vou adiantar aqui, essa história é simplesmente incrível e ainda tem muita água pra rolar debaixo dessa ponte kkk

Beijinhos Sah!

Esta é uma história de amor (Jessica Thompson)Onde histórias criam vida. Descubra agora