Olá pessoas!! Resolvi postar o capítulo do Nick, porque estou com tempo e sou uma pessoa muuuuiiitoooo legal (só que não) enfim, espero que gostem!!
Beijinhos Sah.
Nick
Normalmente, voltar a trabalhar é muito chato, ainda mais depois de passar férias em Ibiza. Desta vez, com certeza não foi.
Nos últimos anos, tenho tentado evitar os pacotes de viagens baratos em que só se encontram sujeitos bêbados. Escaldado por viagens às ilhas espanholas quando tinha meus 20 anos, que foram bem divertidas na época, agora eu sinto que esses são os últimos lugares onde eu gostaria de estar. Já passei bastante tempo vomitando em hotéis baratos, caindo em piscinas e torcendo braços e pernas ao fazer malabarismo, bêbado, em férias desse tipo. Não quero mais baderna, obrigado. Não é mais a minha praia.
Agora prefiro passar férias na cidade se vou sair com os rapazes. Ainda temos fome das mesmas coisas - pegar garotas gostosas, beber muito e dançar -, mas hoje temos mais dinheiro, então fazemos isso num cenário diferente. Nossas viagens mais recentes incluíram fumar maconha em Amsterdã, comer o filé mais incrível do mundo em Paris, ir dançar no Brookly n, coisas desse tipo. Não somos mais moleques.
Então, ou são coisas ultraindulgentes em cidades bacanas, ou aventuras excitantes em climas tropicais, como Fiji. Adoro dividir minhas histórias de vida favoritas sob as estrelas com mochileiras que nunca mais verei na vida.
Mas muitos amigos meus estão chegando aos 30, e eu mesmo estou quase lá. A ideia de chegar a uma idade que é praticamente um marco e de uma despedida de solteiro fazem coisas engraçadas com a cabeça de um homem.
- Vamos lá, companheiro, você vai adorar... e é minha despedida de solteiro. Então você tem de vir, de verdade, não tem? - disse Ross, dando-me um soco forte no braço, como um atleta americano, quando a ideia de Ibiza foi ventilada pela primeira vez. Ele adquiriu o hábito de me dar socos no braço na universidade, e continua desde então. Ele faz isso para qualquer coisa: aniversários, férias, terças-feiras... É ligeiramente irritante e ele sem dúvida está velho demais para fazer isso, mas é sua marca registrada, então acho que pode ficar assim. Eu sempre calculei que, se nós fracassássemos em encontrar mulheres legais, poderíamos viver juntos como solteirões e nunca teríamos de crescer, socando um ao outro nos campos de golfe do país e nos salões de bingo da zona oeste de Londres. Mas isso estava parecendo algo bem remoto agora.
Ross é meu melhor amigo, e o conheci na universidade. No começo, eu o achei um pouco babaca - ele era o cara barulhento e bagunceiro que sempre tinha de beber mais que todo mundo e que se saía melhor com as mulheres também, o que me deixava com inveja. Ele é um sujeito grande - não gordo, mas robusto, com ombros largos e um cabelo desgrenhado que o faz parecer ter acabado de sair de uma partida de rugby . As garotas adoram isso, acabei percebendo.
Depois de seis meses morando com ele no campus da faculdade, percebi que não era competição, e que, na verdade ele era um cara muito bacana. Ele até me ensinou a conversar com as mulheres sem gaguejar ou derrubar minha bebida nelas. Ele não é o mais bonito dos homens, eu sei, mas possui uma confiança incrível, que parece levá-lo a qualquer lugar aonde ele queira ir.
Obviamente, eu tinha de ir à despedida de solteiro dele, mesmo que isso significasse sentar numa pilha de estrume quentinho por três dias. Esse era Ross...
Como eu disse, Ibiza não é um lugar que eu me veja visitando hoje em dia. Só de pensar em clubes noturnos apinhados e sequências de luz que me deixam com vontade de vomitar, eu já começo a suar.
Eu protestei, sim, mas eles me pegaram de jeito. Todos eles tinham preparado uma resposta para cada tentativa que eu fazia de sugerir outros locais. No fim, a velha viagem na direção da "última chance de se divertir antes de casar" combinada com uma pitada de pesquisa no Google e a promessa de muitas garotas gostosas foi o suficiente para fechar o trato.
Seriam só alguns dias, disse a mim mesmo, e, se a coisa ficasse muito feia, eu poderia me perder na Ibiza histórica, que todo mundo diz que é fantástica.
Fazer as malas não foi muito difícil: shorts, shorts, calças, mais shorts e um pouco de sabonete líquido. Enfiei cinco livros na minha bagagem de mão; se as malas fossem extraviadas, eu temia perder meu único refúgio caso a situação ficasse preta.
Tive uma grata surpresa - alguma coisa no ar me deixou com vontade de me soltar assim que aterrissamos na ilha. Fazia um calor escaldante, e eu precisava me divertir um pouco.
Depois de muitas cervejas, consegui dizer a Ross que eu o amava em mais de uma ocasião, cair da escada uma noite e pisar nos pés de várias garotas de sandália nos clubes - uma das quais me deu um tapa na cara. Não senti nada.
Foi absolutamente brilhante.
Mas eu voltei para Londres com a temida gripe de Ibiza. Eles deviam vacinar as pessoas contra essa droga. Temo que, se continuar a assoar o nariz desse jeito, eu possa olhar para o lenço e ver o nariz parado ali olhando para mim em meio a uma base de meleca transparente.
Parece que sete dias entornando várias cervejas e bebidas diferentes goela abaixo como se houvesse um incêndio na sua barriga não faz muito bem.
Além disso, fumei um número horroroso de cigarros e baseados, o que me deixou chiando feito um brinquedo de mastigar quebrado.
Sou ruim de copo. É oficial. Tive de tirar uma semana de folga por estar doente, pelo amor de Deus. Sair da cama hoje de manhã foi uma piada - estou surpreso por ter conseguido não me afogar na poça de baba ao lado do meu rosto, e mais ainda por ter estendido a mão para alcançar
o despertador.
Mas, doenças à parte, voltar para um emprego razoável no qual eu estou há bastante tempo parece um pouco frustrante. E isso aliado ao fato de eu já estar com 27 anos.
E solteiro.
E Amélia não cobriu meu capacho com cartas que documentavam sua vergonha e arrependimento por ter me trocado por um de nossos colegas, como eu tinha certeza de que ela faria. Eu fantasiei que não conseguiria entrar em casa devido ao volume de cartas que ela poderia ter me enviado.
Toby Hunter, pelo amor de Deus!
Toby entrou para a The Cube três anos atrás, quando eu fazia estágio como designer e Amélia era redatora. Ele era o novo advogado da empresa, um cara jovem para a posição. Ele e a esposa se tornaram nossos amigos - vinham jantar na nossa casa e tudo mais.
Eu deveria ter desconfiado de algo quando Amélia ficou de cama com certo vírus várias vezes e Toby também sempre o pegava. Mais tarde vim a saber que ele não viera trabalhar nos mesmos dias porque estava doente. As duas mesas vazias nos mesmos dias. A ideia era tão absurda que eu simplesmente nem pensava nela. Era uma situação impossível.
O vírus era tão forte, disse ela, que não conseguia sair da cama. E lá estava eu, trabalhando todo feliz no escritório enquanto ele estava na cama com ela. Foi Toby quem se demitiu primeiro. Ele disse que arranjara um novo emprego numa empresa de alto nível. Eu acreditei. E, quando eu menos esperava, as malas de Amélia estavam arrumadas, e ela, pronta para zarpar rumo ao horizonte com os cabelos macios e os olhos aquosos de Toby Hunter. Eu esperava que ele zarpasse para algum lugar legal em breve, só que numa ambulância... A coisa toda me deixou enojado. (Na verdade, estou com um tiquinho de inveja da carreira dele. Estou rapidamente me tornando um "artista" amargo que desejava ter estudado outra coisa.)
Amélia nem cumpriu o aviso prévio. Pá. Foi. Sem mais nem menos. Durante algum tempo, a esposa de Toby aparecia nas noites de sexta e chorava as mágoas num lenço enquanto nos embebedávamos de cerveja e nos perguntávamos que merda nos atingira. Ela chegou a tentar me beijar numa dessas vezes em que havíamos bebido. Eu logo dei um basta naquilo. A coisa toda já estava ruim do jeito que estava.
Nem preciso dizer que aquilo tudo foi muito constrangedor no trabalho. Todos sabiam o que havia acontecido. Era um problema pessoal nosso, que nunca deveria ter vazado para nossas vidas profissionais. Sair com gente que trabalha com você é um grande erro.
Sinto como se a vida tivesse sido paralisada. Os freios haviam sido acionados, pisando fundo, e tinham deixado marcas de pneus no asfalto. As pessoas tampouco parecem estar levando minha posição muito a sério. Tenho certeza de que, se ela tivesse me deixado por alguém um pouco mais bacana, como um jogador de futebol ou um músico, eles estariam para lá e para cá com revistas pornô e comida para viagem.
Minha carreira chegou a um impasse, minha vida amorosa está em frangalhos e a maioria dos meus amigos está se casando, tendo filhos ou partindo para uma vida mais significativa. Ibiza e suas consequências fizeram um bom trabalho aliviando a dor por duas semanas, mas quando acordei esta manhã fui saudado por aquela sensação horrível na boca do estômago.
Acho que é o fracasso.
Não era isso o que eu imaginava quando terminei a faculdade. Cheio de esperanças da juventude, eu achava que, quando chegasse aos 30, seria o presidente de alguma empresa milionária, teria uma esposa sexy, dois filhos e um carro que precisava de gasolina especial porque... bem, porque seria um carro e tanto, não é?
Tá bem, tá bem, eu sei que isso não é muito realista. Mas pelo menos eu poderia estar dirigindo meu próprio estúdio de design ou algo assim. Eu poderia pelo menos ter resolvido isso.
Agora tenho só dois anos e meio para conquistar tudo, e, basicamente, não vai acontecer.
Eu estava analisando essa mesma situação no metrô esta manhã, com a mesma ansiedade me apertando o peito, quando aconteceu algo estranho. Folheando um exemplar do Metro, deparei com uma história em quadrinhos sobre um esquilo usando esquis. Totalmente ridículo.
Por alguma razão desconhecida, aquilo foi uma cura temporária para meu coração cansado, e eu senti uma necessidade premente de gargalhar. Sabe aquele tipo de riso que faz você soltar um pum sem querer ou fungar como um porco guloso? O tipo de riso que só vem quando você está tão deprimido que, de repente, as coisas mais idiotas se tornam tão engraçadas que fazem você chorar de rir?
Mas não dá para rir desse jeito dentro de um trem lotado de ingleses comportadinhos. Não seria aceitável. Então, passei alguns minutos segurando o riso com grande dificuldade. Quanto mais eu segurava, mais divertido ficava. Meus olhos estavam se enchendo de água, e os músculos do meu estômago pulavam furiosamente. Tentando distrair minha atenção do roedor, levantei a cabeça e me deparei com o par de olhos azuis mais lindos que já vi na vida me olhando por sobre o mesmo jornal.
Uau.
Senti um frio na barriga, e ela balbuciou uma palavra para mim. Esquilo... disse ela.
Ela era muito atraente, com uma franja espessa e reta que tocava os cílios e a pele mais saudável e linda que já vi. Seu cabelo era castanho, e eu tive vontade de tocá-lo. Não de uma maneira sexual, pervertida, tampouco como um cabeleireiro gay o tocaria. De uma maneira que dissesse "Não sei se você é real, então eu só queria tocá-la para ter certeza."
Por Deus. Controle-se, Nick, disse a mim mesmo. Apenas se controle.
Eu fiz o oposto, lançando um sinal de aprovação para ela. Por quê? Por que eu faria isso? Ela pareceu um tanto assustada comigo depois disso e voltou a ler. Não a culpo mesmo. Fazer um sinal com o dedão para cima é tão anos 80.
Sentei-me por alguns instantes, tentando definir em que ponto da minha vida perdi a habilidade com as mulheres. Nada, nem ideia.
Alguns minutos se passaram, e ela continuou lendo, sem sequer dar uma olhadela para mim. Senti algo arder dentro de mim.
Você pode se perguntar por que eu levaria tão a sério um encontro casual no metrô. Eu normalmente não colocaria tantas esperanças numa coisa dessas, mas havia algo de especial nela. Era a garota dos meus sonhos. Doce, discreta, absurdamente sexy.
Eu já estava mergulhando de novo num sentimento de depressão quando decidi levantar devagarinho e ir ao banheiro. Talvez um rápido esculacho diante do espelho e um pouco de água fria na minha cara idiota me fizessem bem, e ainda bem que fizeram. Um cigarro a caminho do trabalho e um café curto e forte, e eu estava recomposto.
Eu precisava me manter ocupado, e, para ser sincero, sentira falta do pessoal do escritório. Eu esperava chegar à minha mesa no horário, pronto para criar uma nova série de projetos gráficos para nossas estranhas revistas, mas a recepção logo pôs um fim nessa ideia.
- Niiiick! - gritou a voz esganiçada de Maria de detrás do balcão da recepção, as mãos batendo palminhas e um punhado de pulseiras chacoalhando feito sinos de trenó.
- Oi, lindona - disse eu, inclinando-me por sobre o balcão para dar-lhe um beijinho na bochecha. Ela adora isso.
- Olha só para você! Sandra, ele não fica bem assim bronzeado?! - gritou ela, dando uma cotovelada na colega, que estava com a cara enfiada num exemplar da Elle.
O encontro continuou por mais seis minutos e meio. Não vou entediá-los contando toda a conversa porque, como eu, vocês ficarão irritados por perder este pedaço irrecuperável de sua vida.
Quando eu finalmente consegui me livrar das "adoráveis" senhoras, decidi pegar as escadas até o terceiro andar. Era hora de encarar o mundo outra vez.
No segundo andar, eu já estava exausto - meu peito estava pesado por causa da gripe, e o chiado estava piorando, então achei melhor pegar o elevador até o próximo andar. Fiquei cutucando o painel de controle impacientemente até perceber que estava apertando o botão errado, e depois continuei cutucando os dois botões com raiva.
Vamos lá... Comecei até a bater o pé impacientemente no chão, um gesto que abomino nos outros.
Por sorte, o elevador logo apareceu, mas quando eu pus os pés no escritório foi um pouco ameaçador, como se comportas tivessem se aberto.
Tom foi o primeiro a me cumprimentar, seus membros desengonçados parecendo brigar entre si. Nunca conheci um cara mais desajeitado.
- Nick, você voltou! - exclamou ele, dando tapinhas nervosos nas minhas costas e quase tropeçando no próprio cadarço.
- Tudo bem - disse eu, timidamente.
Em seguida, quase todos no escritório vieram ao mesmo tempo, oferecendo chá, bolachas, todos desejando melhoras.
- Então, pode falar, com quantas garotas você dormiu? - perguntou Tom, a voz acima do burburinho, esfregando as mãos com excitação. Mas eu não conseguia me concentrar, porque vi alguém mais adiante.
Eu só podia ver o seu perfil, mas ela tinha o sorriso mais sexy do mundo. Ela era preocupantemente familiar. Poderia ser?
Não... com certeza não, pensei, tentando desviar o olhar.
Mas então ela se virou na cadeira, e eu percebi que era mesmo a garota linda que estava no trem esta manhã.
Eu queria rir.
Eu nem sei o que era tão engraçado. Não sentia uma felicidade assim havia muito tempo, o tipo de alegria delirante que faz você querer dançar com estranhos na rua e atirar doces para crianças. Muito diferente da tristeza na qual eu chafurdava naquela manhã.
Minha cabeça tinha muitas perguntas. Quem era ela? Por que estava ali? Por que meu maldito estômago não parava de sentir que estava cheio de geleia? Eu tomara um bom banho de manhã? Por Deus, espero que tenha tomado um bom banho de manhã...
Eu a olhei de cima a baixo, meio concentrado em Tom. Nossos olhos se encontraram, e foi como se um choque elétrico percorresse todo o meu corpo.
- Então, vamos lá, me diga! - Tom insistia com ar de deleite, alheio à visão que eu descobrira ali perto.
- Ah, nenhuma, cara - disse eu, baixinho, virando para a esquerda numa tentativa de escapar para o meu escritório. Tom afastou-se, obviamente frustrado, como se eu tivesse esquecido de lhe trazer chocolates do aeroporto. Eu esquecera, na verdade...
De repente, Lydia se colocou no meu caminho, cheirando a um maço de flores recém- colhidas.
- Olá, meu doce - ela disse, com um ar de piedade.
Lá vem novamente. O olhar. As pessoas vêm me olhando desse jeito desde que Amélia fugiu com Toby. Eu só queria poder voltar no tempo e nunca ter me envolvido com alguém do trabalho.
- Oi - respondo, olhando para o chão, mas sem deixar de sentir a presença da menina do esquilo, que agora estava parada ao lado dela, também parecendo constrangida e, se eu estava vendo direito, ligeiramente irritada.
- Tem alguém que você precisa conhecer - anunciou Lydia, radiante, e deu um passo para o lado, orgulhosa, como se estivesse inaugurando uma exposição num museu. Ela deu um empurrão forte na menina linda, e esta veio tropeçando na minha direção, relutante.
- Oi, eu sou Nick - falei, estendendo a mão para apertar a dela, mas temeroso de que eu pudesse me apaixonar se ela me tocasse.
- Sienna - respondeu, com uma voz bonita que fez os pelos da minha nuca se eriçarem todos.
A pele de nossas mãos se tocou. A dela era macia. Nenhum dos dois mencionou o evento do trem.
- Eu trabalho aqui, sou redatora. Comecei há duas semanas - disse ela, parecendo profundamente constrangida.
Foi então que meu sonho recém-nascido se espatifou. Ela trabalha aqui? Não é uma notícia boa.
Isso significa que eu provavelmente passarei muito tempo desejando algo que nunca poderei ter. Romance no escritório não é uma possibilidade depois da proeza de Amélia e Toby. Toby era meu colega. Aprendi que, para algumas pessoas, não há limites. Todo o tempo em que trabalhamos juntos, ele passou desejando a minha namorada. Planejando o ataque. Sonhando levá-la para longe...
Então eu fiz uma promessa a mim mesmo. Nunca mais me poria em situação semelhante. As pessoas no trabalho já sabiam muito sobre a minha vida, e agora eu queria manter o trabalho separado dela. Além disso, já tive muitos amigos que abandonaram carreiras pelas quais lutaram muito porque a pessoa que partiu o coração deles estava sentada à mesa do outro lado do corredor, esperando ao lado da copiadora e falando durante minutos em cada maldita reunião. De certa maneira, tive sorte de os dois terem ido embora. A redação já é difícil o bastante sem assuntos do coração.
Um frio percorreu minha espinha. Terminou antes de começar. O que eu estava pensando? Eu nem conheço Sienna. Ela pode ter namorado, pode ser casada ou algo parecido. Jesus...
- Bom, tenha um bom dia, Sienna - disse eu, entrando no meu escritório, com o rosto vermelho.
Mas espere um minuto. Talvez eu estivesse sendo apressado. Se Romeu e Julieta puderam lutar pelo amor proibido, então eu certamente posso convidá-la para sair.
Não, disse a mim mesmo. Não e pronto.
Ao fechar a porta atrás de mim, fiquei imaginando como lidaria com essa situação. Este era eu, Nick Redland. Nick, que nunca sentiu nada mais forte que um desejo raso e excitante por uma mulher que acabou de conhecer.
Nem mesmo minhas namoradas conseguiram provocar tanto entusiasmo em mim. Nem mesmo Amélia.
Eu devo estar tendo algum colapso, pensei. A angústia pós-férias estava fazendo algo estranho comigo.
Isso era coisa para camisa de força. Eu estava doido. O que se passava pela minha cabeça?
Ela era obviamente muito mais jovem, e linda, e não deveria estar nem um pouco interessada em mim, afinal, pensei enquanto olhava para um pequeno espelho pendurado na parede.
Pequenas rugas começavam a juntar-se em torno dos meus olhos, e percebi que estava ficando cada vez mais parecido com meu pai. Dei um suspiro profundo e cavernoso, que esvaziou meus pulmões completamente.
Sentei-me à mesa por alguns instantes, ponderando se devia conversar com algum amigo íntimo sobre os pensamentos estranhos que tenho tido ultimamente. O rompimento com Amélia estava mesmo me afetando.
Passaram-se mais ou menos dez minutos. Eu me recompus. Empertiguei-me. Eu estava sendo rude me escondendo daquele jeito. Saí da minha sala e fiquei lá parado por um instante, com as mãos nos bolsos, olhando pela janela para o lado esquerdo, para os apartamentos acima das lojas do outro lado da rua.
- Atacar! - guinchou Tom. Eu me virei e fui atingido em cheio no rosto por uma bolinha. Que engraçado!
- Muito bem, já chega - gritei em resposta, e saí correndo. Fui atrás de Tom, que, apesar de ter 20 e poucos anos, tem a aparência de um menino de 10, porque é muito magrinho e usa um corte de cabelo infantil.
Ele tentou escapar, mas foi inútil. Eu o encurralei num canto, inclinei-me, peguei-o no colo e o carreguei feito um bebê pelo escritório, com as pernas penduradas sobre meus braços.
- Tá bem, tá bem. Me coloca no chão, seu babaca! - gritou ele, a voz ficando cada vez mais esganiçada e mais parecida com a de um bebê. Todo mundo no escritório estava rindo. Muito.
- Me coloque... no... chão! - insistiu, resistindo ao próprio riso.
- Peça desculpas! Vamos lá, Thommo, diga "Me desculpe, Senhor Nick. Nunca mais vou atirar uma bolinha na sua cara" - disse eu, provocando e olhando para ele com um enorme sorriso no rosto.
Ele não conseguiu desculpar-se porque estava rindo muito, as bochechas quase roxas, e lágrimas de alegria se formavam no canto de seus olhos.
Eu acabei dando um fim à sua tortura, colocando-o dentro de um grande cesto de reciclagem para envelopes usados e panfletos de propaganda. Eu o deixei lá por cerca de cinco minutos, o corpo dobrado como um avião de papel. Ele gargalhava tanto que não foi capaz de levantar e sair sozinho.
Em nosso escritório, você pode fazer o que quiser sem prestar contas a ninguém, o que faz dele um lugar bastante confortável para trabalhar; e deve ser por isso que eu ainda não tentei sair.
Meu chefe se recostou na cadeira, virou a cabeça para a porta de sua sala e me deu as boas- vindas. Fiquei contente por ter sido recebido de forma tão calorosa, considerando que consegui arruinar toda uma leva de ilustrações pouco antes de sair.
Quando a humilhação de Tom chegou ao limite, fui até o cesto, puxei-o de lá e coloquei-o novamente de pé, amarfanhando seu cabelo para assegurar que eu estava só brincando. Ele parecia encabulado.
Sienna não estava dando a mínima para nós. Ela estava claramente acima daquelas patetices no trabalho.
Eu ri. Talvez voltar não fosse tão ruim, afinal; e ninguém mais sabia que talvez, só talvez, hoje eu tenha me apaixonado.
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Esta é uma história de amor (Jessica Thompson)
RomanceUm rapaz conhece uma menina e a menina se apaixona pelo rapaz - até aí, nenhuma novidade. Mas, com Sienna e Nick, as coisas não acontecem do jeito que costumam acontecer nas histórias de amor. Tudo bem que ela o achou superparecido com o Jake Gyllen...