Capítulo 27 - A História.

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Thomaz e eu estávamos sentados de baixo da árvore do lago na tarde de domingo. Thomaz parecia tenso, nervoso e até mesmo triste. Jurava que era sobre a historia que iria me contar sobre seu pai e sua mãe.

Ele olhava para o nada e brincava com um graveto qualquer. Suspirou fundo e sem olhar para mim, começou a contar.

- Minha mãe era bailarina. - Deu um sorriso triste com a lembrança. - Ela se casou muito nova com o senhor meu pai. E ele por sua vez era muito possessivo com ela. Ela era de uma beleza angelical e dançava como ninguém, era como se a dança fizesse parte dela. Ela era feliz quando dançava. Mas só quando dançava. Meu pai como era muito ciumento com ela, não gostava nada da idéia de mamãe dançar por ai. Me lembro que tinham brigas noites inteiras sobre varias coisas. Inclusive sobre mim. - Olhou para baixo e por um mínimo segundo vi lágrimas escorrendo em seus olhos, e aquilo me matou. Ele continuou: - Meu pai dizia que minha mãe foi burra em ter engravidado de mim muito cedo, que  não era nem para eu ter nascido por ele. E minha mãe como sempre me defendia. Mas... - Ele fechou os olhos com a lembrança. - Mas... Em uma noite quando eles brigaram, meu pai saiu de casa e foi beber. Horas depois quando caía uma tempestade, os amigos do meu pai ligaram para minha mãe dizendo que era para ela pegar o carro e ir buscar ele no bar. E então ela foi, mesmo tendo brigado feio com ele, ela foi. E nunca mais voltou. - Ele se calou e pulei nos braços dele. Eu já chorava, não suportava ouvir aquilo. Não queria ouvir mais.

- Shhii. Não. - Disse a ele.

- Eu tenho que terminar Thay. Por favor. - Confirmei com a cabeça e ele continuou.

- Ela bateu o carro em uma curva de frente com um caminhão. Os paramédicos disseram que foi morte instantânea e que ela não sentiu. Meu pai de primeira ficou arrasado, mas depois veio a irá. Ele chegou em casa dizendo que ela tinha morrido por minha causa, que eu tinha destruído a vida deles. Que eu era um intruso e que eu que devia morrer... Então ele pegou um chicote e...- Via em seus olhos que ele estava apavorado em dizer aquilo, em se lembrar da perda da mãe, da dureza do pai. - E ele descontou toda a sua raiva em mim. E eu suportei tudo, pela minha mãe. Que havia suportado muito por mim.

- Thomaz. - Eu o puxei para mim e o abracei forte. Meu coração doía. - Como alguém pode descontar isso em uma criança. Ele não tinha o direito, ele é um monstro. - Levei as mãos a minha boca e lágrimas desciam em meu rosto.

- É por isso Thay, que nunca quis ter nada com uma pessoa. Tenho medo de me tornar igual e ele. Tenho medo de ter um fim igual ao dele: solitário e frio.

Coloquei minha mãos uma de cada lado de seu rosto fazendo ele olhar em meus olhos.

- Você não é ele. Você não vai se tornar igual a ele. Não vai, ok? Vocês são completamente diferentes, meu amor.

- Não sei. Tenho medo também de que quando eu tiver um filho, eu o trate da mesma maneira como ele me trata. Você mesmo viu quando eu estava no hospital. Ele nem se quer foi me ver. Pra ele se eu tivesse morrido daria mais lucro.

- Ei, não fala isso. Você não vai ser um pai como ele. Eu posso apostar isso. Voce vai ser maravilhoso. Você vai ser um marido maravilhoso também, com quem quer que seje que você vá casar.

- Me promete que se eu me tornar um dele você vai me deixar, sem olhar para trás. - Disse ele, seus olhos transmitiam dor.

- Não. Eu não prometo. Por que você não vai se tornar um dele e acabou.

Ele me puxou para si.

- Você tem tanta fé em mim. - Disse ele acariciando meus cabelos.

- Você teve em mim, meu amor. - Disse a ele.

- Queria tanto que minha mãe te conhecesse, ela iria te amar. - Disse ele.

- Serio?

- Sim. Vocês tem uma coisa em comum.

- O que?

- Vocês não desistiram de mim. - Disse ele.

O puxei para mim e o beijei forte. Nunca que desistiria do meu bem mais precioso. Nunca.

- Obrigada por me contar. - Disse em sussurro.

- Nada, pequena. Me sinto mais leve. Nunca tinha contado isso para ninguém, na verdade ninguém nunca se importou de verdade. - Disse. - Que bom que você apareceu na minha vida. Você me libertou, me fez ver que ainda tinha muito que viver e que não precisava pegar todas para ser feliz, o que eu tinha para ser feliz está bem aqui na minha frente. - Disse e entrelaçou nossas mãos.

- Idem. - Sorri e ele retribuiu com meu sorriso preferido. - Meu tudo.

Ficamos ali, abraçados vendo o por do sol. Nós dois éramos a cura de ambos. Nós dois éramos o porto seguro de ambos. Nós dois nos encontramos. E por mais que sofremos para chegar até aqui, as dores no final valeram a pena. Sempre valem.

A Baixinha E O PlayBoyOnde histórias criam vida. Descubra agora