5. Profundidade - Parte I

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Arthur faz o último ajuste no equipamento. Acena para seus companheiros de pesquisa e se posiciona para saltar. O mar está agitado, mas nada surpreendente. O mergulho na água fria traz uma velha e conhecida sensação ao seu coração: liberdade.

Enquanto rompe o mar em direção ao fundo, um zumbido passa em seu ouvido. Arthur sabe que ainda falta muito para se aposentar e isso se torna uma leve preocupação em sua cabeça. Os anos de mergulho já estão prejudicando o seu ouvido. Deveria contar para o pai, mas não quer preocupá-lo. Percebe que ele mesmo não deve se preocupar. É um incomodo passageiro.

Seus olhos voam em direção ao coral que vem surgindo à sua frente. Arthur ainda se fascina por cada criação da natureza, não importa quantas milhares já tenha visto. Precisa ir mais fundo, precisa coordenar mais o braços. Consegue se impulsionar e adentra o mar, com os pesquisadores há metros de distância, extremamente lentos pela falta de costume em mergulhar. Arthur é o seu guia, um mergulhador experiente, embora seja jovem. É um dos melhores em sua categoria, ele sabe o que faz e já é um velho amigo daquela região.

Arthur sente uma corrente fria passando por ele e não consegue evitar o sorriso, mesmo com o respirador na boca. O mar está saldando-o.

Enquanto avança, ele olha para a imensidão azul, mas não a vê, sua mente está ocupada demais se lembrando de Luana. Seu rosto, seus olhos, seu sorriso e cada detalhe do seu corpo e do seu encontro dominam os pensamentos de Arthur. Ele não se sente atraído por alguém nessa intensidade há muito tempo. Ela é tão bonita, tão inteligente, tão misteriosa. Arthur quer conhecê-la; decifrá-la. Tem receio de ser rejeitado, seja pela idade ou pela sua ausência. Não quer mais uma experiência como a última. Mas por que está pensando assim? Ele quase a beijou. Luana se mostrou interessada por ele. Talvez seja realmente a hora de se dar uma nova chance.

Seu coração palpita. Como pode gostar de uma pessoa nessa intensidade conhecendo-a a tão pouco? Luana é como mar: aparentemente cristalina, consegue ter uma profundidade incalculável. Esse suspense não sai de sua cabeça. Quem ela é? O que ela guarda em seu coração? Ele quer descobrir. Ele precisa descobrir. Ele precisa vê-la novamente. A lembrança de Luana se inclinando na mesa, chegando tão perto dele, volta à sua mente e uma decisão é tomada: ele quer conquistá-la. E não vai medir esforços para isso. Assim que voltar para o Rio, Arthur vai chamar Luana para um novo encontro.


Uma Grande BagunçaOnde histórias criam vida. Descubra agora