[LUANA]
O perfume de Arthur era incrível. E discreto, só pude sentir quando cheguei bem perto dele. Nos cumprimentamos na porta da livraria e, nesse contato mais próximo, pude perceber como seus cílios eram quase brancos. Além disso, sua barba loira e semicerrada arranhou de leve a minha bochecha, o que fez com que eu fugisse rápido de seu beijo em meu rosto (cócegas sempre me fazem gargalhar e essa era a última coisa que eu queria fazer naquele momento). Seu cabelo loiro e despenteado, caía pro lado direito da cabeça.
Arthur estava usando uma jaqueta preta por cima de uma blusa branca e uma calça jeans escura. Ele também estava usando coturno, o que me fez rir. Ele abaixou os olhos e constatou a mesma coisa que eu.
- Estamos combinando! - disse ele, em meio às risadas. E que risada boa ele tinha.
- Muitas coincidências estão nos cercando, Arthur.
- É verdade! Bem...Você topa tomar um café comigo?
- Com certeza! - disse, sorrindo pra ele.
Arthur me levou para a minha cafeteria favorita no shopping. Numa mesa minúscula, sentamos. O ambiente imitava um café antigo e pequeno, como se estivéssemos em uma cidade no interior da Itália.
- Esse lugar é legal - disse Arthur, observando a parede que imitava pedras.
- Sim, é mesmo.
- Você costuma vir aqui, Luana?
- Com certeza. Tem o melhor tiramisu do Rio de Janeiro.
- Então, eu preciso provar! - disse ele, fechando o cardápio.
- Sem dúvida! - confirmei.
Pedimos dois cappuccinos e dois tiramisu. Quando a garçonete se afastou, Arthur enfiou a mão no bolso da jaqueta e pegou um pequeno envelope de papel, que me entregou logo em seguida.
- Aqui está o cartão fugitivo - disse ele.
Abri o envelope e peguei meu cartão, me esforçando para não dar gritinhos de alegria.
- Você não tem noção de como me salvou, Arthur. Muito obrigada!
- Que isso, Luana, só fiz o que deveria fazer - disse ele, me dando um sorriso. Eu não sei quanto tempo ficamos sorrindo um para o outro, mas foi o suficiente para que os nossos pedidos ficassem prontos.
Quando ficamos sozinhos novamente, Arthur pigarreou, enquanto eu bebia um gole do meu cappuccino.
- Então, me conta um pouco de você, Luana.
- Ah! Sobre mim... - tentei pensar em algo a dizer, mas ao contrário, apenas bufei e balancei a cabeça. O que teria em mim que seria interessante pra ele? Minha vida estava tão monótona.
- O que? - perguntou Arthur, se inclinando na mesa.
- Não tem nada de interessante, sabe? - assumi - Eu tenho dezoito anos, estou terminando o colégio, vou começar a prestar vestibular e estou morrendo de medo.
- Isso é totalmente normal. O que você quer fazer, Luana?
- Jornalismo.
- Muito legal! Acho que é a sua cara. Mas eu tenho uma pergunta.
- Pode fazer - disse, me inclinando na mesa também.
- Por que você quer fazer jornalismo?
UAU. Aí estava a grande pergunta. Há muitos anos eu decidi que queria ser jornalista. Acho que não escolhi isso, eu já nasci me interessando pelas pessoas, pelos acontecimentos. Eu queria contar essas histórias, queria fazer um papel moral mas também queria levar esperança.
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Uma Grande Bagunça
Novela JuvenilLIVRO GANHADOR DO PRÊMIO THE WATTYS 2016. ___________________________________________________________ Essa não é uma história sobre amor. Essa é uma história. Ponto. E histórias que falam sobre garotas que gostam de contar histórias são sem...