24. Contato

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[LUANA]

Algumas vezes, eu tinha a sensação de que minha vida poderia ser um livro. Isso acontecia quando todos os meus pensamentos estavam um verdadeiro caos. Não sabia dizer se era a pressão de estar perto do ENEM ou por todas as coisas que tinha vivido no último mês, mas tinha a impressão que enlouqueceria no próximo minuto.

Voltando da academia, fiquei observando a rua, que era repleta de árvores e as pessoas andando ao seu redor. De repente, fiquei um pouco tonta – um tipo de tontura que não era consequência de algo físico, mas emocional. Senti por um momento que o mundo estava aumentando e que eu estava encolhendo. Meus ombros se contraíram, exaustos. Existia um peso sobre eles, o peso do mundo, o peso da idade.

Como eu conseguiria decidir o sentia? Como saberia escolher o que seria certo e o que deveria fazer? Eu estava com medo – como uma criança. Crescer e tomar minhas próprias decisões era algo assustador demais. Não tinha como fugir. Crescer, amadurecer, viver, são coisas que precisamos enfrentar..

Já tinham se passado dois dias desde a minha última conversa com Julia. Suas palavras ainda ecoavam pela minha mente. Nesse período, fiquei longe das redes sociais, me foquei nos estudos, voltei ao pré-vestibular – graças a minha visão, que já estava perfeita novamente – e comecei a passar o teste da peça com Pedro.

Cheguei em casa, me arrumei, almocei e peguei minhas coisas para ir pra escola.

- Tchau mãe.

- Tchau, Luana.

- Tá tudo bem?

- Pergunte ao seu pai – disse ela, saindo da sala. Olhei para meu pai, que tinha a cara enterrada num jornal. Ao que parecia, eles tinham voltado a brigar.

Eu estava atrasada demais para perguntar o que estava havendo. Fui para a escola com a cabeça ainda mergulhada em pensamentos. Cheguei na sala e percebi que Camila não estava lá. Quando o segundo sinal tocou, ela não entrou. Aquela era a terceira falta seguida dela. O que estava acontecendo?

Peguei o celular e fui verificar as mensagens. Arthur estava me mandou um trecho de "Orgulho e Preconceito" para me dar boa tarde e perguntar como eu estava. Respondi que estava bem. A verdade era que desde o nosso último encontro eu não estava tão disposta a conversar com ele. Voltei para a página inicial e vi que não tinha nenhuma mensagem de Camila, o que me deixou preocupada.

Quando a aula de literatura ia começar, aproveitei para perguntar a Pedro sobre ela.

- Etzinho, você não sabe da Camila?

- Ela está faltando muito, né!? Não sei de nada.

- Ah! – exclamei, decepcionada.

- Vamos averiguar depois. Precisamos descer para o auditório.

- Por quê?

- Luana, em qual mundo você está? A professora Amanda acabou de dizer que vamos ensaiar a peça.

Ainda perdida, desci para o ensaio. A professora deu algumas direções e ensaiou as primeiras cenas, até que chegasse a minha.

- Nessa cena, vocês precisam se preparar para a cena do beijo – disse ela, se voltando para mim e para Pedro.

Senti meus olhos arregalarem instantaneamente. Olhei para Pedro, que ficou rapidamente vermelho.

- Professora, como deveria ser esse beijo? – perguntei.

- Bem, acho que ninguém espera que seja nada como os filmes de Hollywood, Luana – disse ela, dando uma risada – Não dei uma ideia porque achei que seria interessante que você e o Pedro fizessem a cena. Vamos ver como fica no texto e tentem improvisar.

Uma Grande BagunçaOnde histórias criam vida. Descubra agora