[LUANA]
Eu me sentia como se estivesse flutuando por horas. Visões, sons, cheiros, se misturavam na minha cabeça. Eu estava viva. Era tudo o que sabia.
Apesar de já ter recebido a visita de meus pais e de ter sentido tranquilidade neles, algo me apertava o peito e não tinha a ver com a minha cegueira temporária. Eu lembrava de Davi. Desejava que fosse apenas um sonho, mas não tinha coragem o suficiente de perguntar para alguém se ele esteve realmente aqui.
O que mais me angustiava, entretanto, não era Davi ter ido me visitar e sim o que eu lembro de ter dito – e ouvido. Se fosse verdade, significava ter assumido coisas que jamais poderia ter dito pra ele. Não, aquilo não tinha sido real, foi só o meu subconsciente confuso com o acidente – era nisso que eu tentava acreditar.
Estendi minha mão à frente e forçando o membro para analisar. O mundo à minha volta era um grande borrão, o que me deixava irritada. Saber que a cegueira era temporária me fazia respirar tranquila: tudo ia ficar bem.
Passos vieram na direção da porta, que foi aberta. Não conseguia ver quem era, mas o perfume, a cor e o cabelo me deram uma dica.
- Arthur? – perguntei.
- Sim, minha linda, sou eu – disse ele, vindo em minha direção. Arthur me beijou na testa ao se sentar na cama e segurou minha mão.
- Que bom que você está aqui. Achei que só os meus pais estavam aqui.
- Eu liguei para seu celular e a Julia estava com ele. Ela atendeu e me contou o que aconteceu.
- A Julia está aqui? – perguntei, aliviada. Minha melhor amiga estava aqui!
- Sim. O Pedro também e a sua amiga, Karen.
- Karen também veio? – perguntei, sentindo o pânico tomar meu rosto. Como Karen tinha sido avisada? Será que Davi já sabia?
- Sim.
- Como ela ficou sabendo?
- Eu não sei.
- Além dela, não veio mais ninguém? – disse, antes que pudesse frear a pergunta. Eu precisava saber! E se Davi estivesse na sala de visitas? E se não fosse um sonho...?
- Não, Lu. Por quê? Você estava esperando que outra pessoa? – disse Arthur, calmamente, sem ao menos piscar.
- N-n-não, não estava – respondi, abaixando os olhos.
É claro que ele não viria me ver depois de tudo o que aconteceu! Davi devia estar com raiva demais! Será que a raiva dele poderia ser maior do que o sentimento que dizia sentir por mim? Se eu fosse apaixonada por alguém, como ele dizia que era por mim e essa pessoa se acidentasse, eu ficaria com ela no hospital, faria o que fosse preciso para ficar perto dela. Ao que parecia, se ele sabia mesmo que eu estava lá e não tinha ido me ver, então ele não gostava de mim.
- Como você está, meu amor? – perguntou Arthur, me tirando dos meus pensamentos.
- Estou bem e viva. Acho que não poderia pedir nada mais.
- Eu digo o mesmo, se bem que...Bom, eu queria pedir mais alguma coisa – disse ele, sorrindo.
Balancei a cabeça sorrindo de volta. Conversamos sobre algumas coisas sem importância. Não sabia explicar o motivo, mas me sentia um tanto desconfortável. Minha cabeça rodava em mil pensamentos distintos e eu queria, mais que tudo, ficar sozinha para poder repensar a minha vida.
- Lu?
Olhei para Arthur, que me fitava com curiosidade.
- Tem certeza que está tudo bem? Repeti a frase duas vezes e você não prestou atenção.
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Uma Grande Bagunça
Teen FictionLIVRO GANHADOR DO PRÊMIO THE WATTYS 2016. ___________________________________________________________ Essa não é uma história sobre amor. Essa é uma história. Ponto. E histórias que falam sobre garotas que gostam de contar histórias são sem...