22. Despertar

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[LUANA]

Eu me sentia como se estivesse flutuando por horas. Visões, sons, cheiros, se misturavam na minha cabeça. Eu estava viva. Era tudo o que sabia.

Apesar de já ter recebido a visita de meus pais e de ter sentido tranquilidade neles, algo me apertava o peito e não tinha a ver com a minha cegueira temporária. Eu lembrava de Davi. Desejava que fosse apenas um sonho, mas não tinha coragem o suficiente de perguntar para alguém se ele esteve realmente aqui.

O que mais me angustiava, entretanto, não era Davi ter ido me visitar e sim o que eu lembro de ter dito – e ouvido. Se fosse verdade, significava ter assumido coisas que jamais poderia ter dito pra ele. Não, aquilo não tinha sido real, foi só o meu subconsciente confuso com o acidente – era nisso que eu tentava acreditar.

Estendi minha mão à frente e forçando o membro para analisar. O mundo à minha volta era um grande borrão, o que me deixava irritada. Saber que a cegueira era temporária me fazia respirar tranquila: tudo ia ficar bem.

Passos vieram na direção da porta, que foi aberta. Não conseguia ver quem era, mas o perfume, a cor e o cabelo me deram uma dica.

- Arthur? – perguntei.

- Sim, minha linda, sou eu – disse ele, vindo em minha direção. Arthur me beijou na testa ao se sentar na cama e segurou minha mão.

- Que bom que você está aqui. Achei que só os meus pais estavam aqui.

- Eu liguei para seu celular e a Julia estava com ele. Ela atendeu e me contou o que aconteceu.

- A Julia está aqui? – perguntei, aliviada. Minha melhor amiga estava aqui!

- Sim. O Pedro também e a sua amiga, Karen.

- Karen também veio? – perguntei, sentindo o pânico tomar meu rosto. Como Karen tinha sido avisada? Será que Davi já sabia?

- Sim.

- Como ela ficou sabendo?

- Eu não sei.

- Além dela, não veio mais ninguém? – disse, antes que pudesse frear a pergunta. Eu precisava saber! E se Davi estivesse na sala de visitas? E se não fosse um sonho...?

- Não, Lu. Por quê? Você estava esperando que outra pessoa? – disse Arthur, calmamente, sem ao menos piscar.

- N-n-não, não estava – respondi, abaixando os olhos.

É claro que ele não viria me ver depois de tudo o que aconteceu! Davi devia estar com raiva demais! Será que a raiva dele poderia ser maior do que o sentimento que dizia sentir por mim? Se eu fosse apaixonada por alguém, como ele dizia que era por mim e essa pessoa se acidentasse, eu ficaria com ela no hospital, faria o que fosse preciso para ficar perto dela. Ao que parecia, se ele sabia mesmo que eu estava lá e não tinha ido me ver, então ele não gostava de mim.

- Como você está, meu amor? – perguntou Arthur, me tirando dos meus pensamentos.

- Estou bem e viva. Acho que não poderia pedir nada mais.

- Eu digo o mesmo, se bem que...Bom, eu queria pedir mais alguma coisa – disse ele, sorrindo.

Balancei a cabeça sorrindo de volta. Conversamos sobre algumas coisas sem importância. Não sabia explicar o motivo, mas me sentia um tanto desconfortável. Minha cabeça rodava em mil pensamentos distintos e eu queria, mais que tudo, ficar sozinha para poder repensar a minha vida.

- Lu?

Olhei para Arthur, que me fitava com curiosidade.

- Tem certeza que está tudo bem? Repeti a frase duas vezes e você não prestou atenção.

Uma Grande BagunçaOnde histórias criam vida. Descubra agora