6. Profundidade - Parte II

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Davi se olha no espelho. Será que o cabelo preso no coque vai agradar Luana? Ela é sempre tão imprevisível! Tomara que ela goste da calça preta combinando com a blusa azul, tênis branco e a jaqueta jeans! Ele sabe o quanto ela gosta de moda. Como será que ela está?

Hoje, Davi precisa causar uma boa impressão. Ele sorri enquanto lembra do seu último encontro com Luana. Ela não faz ideia de quanto fica linda quando está brava! Como ela pode ter achado que ele falou mal dela? Será que Luana não consegue ver o que ele sente? Tudo bem, ela é insuportável; mas um tipo bom, e ele gosta disso nela. Ela tinha esse poder de provocá-lo em tantas coisas, mesmo sem perceber.

Enquanto se encara no espelho, ele lembra o quanto foi burro! Perdeu tanto tempo com outras garotas; tempo que ele podia estar com ela! Ele sabe que buscou em todas as garotas que passaram em sua o que só Luana tem. E ele precisa dizer isso pra ela! Precisa evidenciar ainda mais a falta que ela faz desde que se mudou; até o desprezo que Luana dá em Davi faz falta. Aliás, foi isso que o fez observá-la mais. Ele consegue lembrar de cada olhar dela, de cada mania. Ele a conhece tão bem; ela só precisa dar uma chance pra ele.

Davi viu Luana se encontrando com aquele cara na porta da livraria. Ele viu o sorriso no rosto dela e como ele a olhava. Davi sentiu ciúmes, como nunca antes tinha sentido. E é por isso que pegou o número de Luana no celular de Karen, sem que ela percebesse. Ele não pode perdê-la de novo, pensar nessa possibilidade dói demais, mesmo sabendo que não a merece.

Chega de pensar nisso! Em poucos minutos ele estará com ela. Tudo vai dar certo!

Davi pega as chaves do carro e vai até a porta. Seus pés fazem barulho no apartamento imensamente vazio. Seus pais não vão se importar que ele passe algumas horas fora, será um favor que ele fará à sua família, pelo menos, é isso que ele pensa quando bate a porta e vai para o corredor chamar o elevador. Seu coração palpita ferozmente no peito. Falta tão pouco! De repente o elevador para, mas não é o térreo. A porta se abre e Karen aparece surpresa.

- Olha quem tá aí! Estava indo agora te buscar! - diz ela, enquanto segura a porta.

- Me buscar pra que? - pergunta ele.

- Ué, esqueceu da nossa sessão de filmes lá em casa, Davi?

- Ai, caramba! É verdade! Kaká, me perdoa!

- Você não vai? - indaga ela, enquanto cruza os braços. Como ele acha que pode desmarcar assim, em cima da hora, depois de tudo o que ela arrumou para esse quase encontro deles?

- Kaká, me perdoa mesmo! Eu tenho um compromisso inadiável - diz ele. Será que Karen não pode logo fechar a porta? Depois eles se resolvem! Agora ele só pensa e quer estar com Luana.

- Por que você tá tão bonito assim, Davi? Não me diga que vai para um encontro! - Karen não consegue disfarçar, o ciúme está tomando conta de seu rosto, mas Davi nem percebe.

- Sim - diz ele, enquanto coça a cabeça -, eu marquei e me esqueci completamente do nosso programa, Kaká. Agora eu não posso desmarcar. É muito importante!

- Quem é essa criatura que está dominando seu horário, Davi? Posso saber?

Que coisa constrangedora! Tudo bem, ele sempre contou seus segredos para Karen, mas ele não quer expor seus sentimentos assim. Mas talvez ela possa ajudá-lo a conquistar a Lu! Elas são tão amigas...

- Você não vai acreditar, Kaká...Vou me encontrar com a Luana! - diz ele, com um sorriso de orelha a orelha.

Karen fecha a cara e, logo em seguida, tenta sorrir, mas só o que sai é um sorriso amarelo.

- Com a Lu! Nossa... Nunca imaginaria. Que...surpresa!

- Pois é - diz ele, enquanto dá uma risada -, bem, minha linda, eu vou indo. Não quero me atrasar. Depois a gente conversa e eu PROMETO que vou compensar essa mancada!

- Tudo bem. Divirta-se. - diz ela, mas é da boca pra fora. Karen deseja que tudo dê errado. Luana não é mulher pra ele!

- Obrigada! - diz Davi, acenando, enquanto a porta se fecha e o elevador volta a descer. Ele fica feliz que sua amiga entendeu e que desejou que ele se divirta. Ele acha que está com sorte.

Davi chega no prédio e sente que suas mãos estão suadas. Coloca um chiclete na boca, enquanto sai do carro, que estacionou em frente ao prédio que Luana deu o endereço. Pega o telefone e toca, mas não espera que ela atenda. Luana realmente não atende. Esse é o sinal de que ela vai descer. Ele se encosta no carro, virado para a rua. Tomara que ela não demore!

Vários carros e pessoas passam por ele. Quantos minutos já se passaram? Cinco? Dez? O céu já está escurecendo. Será que ela não vem?

Nesse momento, ele escuta um barulho às suas costas. O portão está abrindo. Ele se vira e a vê. Luana vem em sua direção. Davi fica completamente imóvel, enquanto um misto de sensações percorrem o seu corpo.


Uma Grande BagunçaOnde histórias criam vida. Descubra agora