2- Friday Night

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(2015)

Dois anos depois...

- eu te amo - a voz da garota soou pela milésima vez com as mesmas palavras. Parecia um rádio quebrado.

- eu te amo mais - a voz masculina respondeu com serenidade. Estou meio que com medo de rolar os olhos de novo e eles ficarem presos atrás da minha cabeça pela quantidade de vezes que já fiz isso desde que cheguei ao pub. Não tem nada que eu odeie mais do que casais apaixonados, não mentira, tem sim! Eu odeio o Nick. Definitivamente eu odeio aquele idiota. Por que infernos ele sempre demora tanto para chegar? já deveria ter aprendido a marcar uma hora antes com ele.

- isso é impossível - a garota retrucou. Ok dessa vez eu não me segurei. Eu acho que bufei tão alto que até as pessoas que estão cantando no palco do karaokê ouviram. A garota virou um pouco na cadeira para tentar entender o porquê do meu surto do nada, mas eu já estava com meu copo na boca fingindo que a tevê prendia minha atenção há muito tempo.

Definitivamente eu odeio o Nick. já estou chegando no meu terceiro copo de cerveja e ele ainda nem chegou, ainda por cima tenho que aguentar esse casal meloso na mesa da frente. Falam de amor como se soubessem de alguma coisa, seria uma pena se na verdade o amor não existisse. Quem me dera.

Depois de um tempo eu comecei a inventar jogos internos do tipo: entre um casal aleatório na rua, quem vai trair primeiro ou quem vai dar um fora primeiro. Sempre acaba em alguma merda mesmo. Entre esse casal na minha frente eu digo que... Hum... Eu acho que ele vai comer ela e ela vai se apaixonar, ai ela vai correr atrás dele como uma maluca e ele vai acabar com algumas roupas rasgadas ou ovos jogados nas janelas de casa. Mulheres podem ser bastante vingativas, ainda bem que estou bem fora da zona delas.

- desculpa - Nick praticamente se jogou na cadeira, não seria nada ruim se ela tivesse quebrado fazendo ele cair de bunda no chão - eu me atrasei?

- não nick, acho que você chegou bem cedo para nossa noite dos caras da... Próxima sexta! - rolei os olhos de novo, isso já não é uma coisa que eu posso controlar. Odeio ter tantas manias.

- Cala a boca, já pediu uma para mim? - ele perguntou apontando para meu copo. Ousado, será que ele não tem medo de ser tão abusado? Eu poderia jogar esse copo na cara dele - Ok, pelo seu olhar eu já entendi que não.

Ele se levantou para ir até o bar buscar um copo pra ele. Infelizmente quando ele se levantou eu tive novamente a visão do casal meloso na mesa da frente. Será que essas pessoas não conseguem ser menos trouxa? Todo mundo sabe que o amor só serve para ferrar a sua vida e gerar decepções.

Me abracei à minha jaqueta. O frio de fora nem se comparava com o clima que estava aqui dentro. Eu moro em uma cidade pequena, bem tranquila, porém é conhecida por ser um lugar muito frio. Tenho vinte três anos e uma loja de produtos importados um negócio bem grande para um cara tão jovem quanto eu, conheço gente com a minha idade que ainda depende dos pais. Sempre fui muito independente. Em uma cidade pequena dessas uma loja como a minha faz muito sucesso. As pessoas gostam de novidades.

- eu acho que... - nick começou a dizer quando se sentou novamente depois de alguns minutos no bar, mas foi cortado por um coro de "wooom" que preencheu o local. Infelizmente minha curiosidade falou mais alto. Eu me curvei para o lado seguindo os olhares em volta e me deparei com um cara ajoelhado no chão exibindo um lindo anel dentro de um caixinha preta, exatamente aquele casal meloso. Ele deve ter dito alguma coisa porque agora a garota estava jogada nos braços dele. Qual é? Ele pediu ela em casamento em um pub, tá na cara que ele só quer comer!

- inacreditável - me joguei no encosto da cadeira novamente. Perdi meu tempo olhando para isso. Nick rolou os olhos para mim enquanto se encostava também bebendo sua cerveja.

- olha que você está insuportável hoje em Lou? - Ele disse visivelmente impaciente e eu concordei pedindo desculpas. Eu sabia que era um pé no saco as vezes e Nick merecia um prêmio por me suportar. Por ele eu podia tentar ser um pouco mais... Paciente - como eu estava dizendo, eu fui cantado pela garota do bar. Acho que o nome dela é Vanessa, eu não sei, mas cara! Nós sempre viemos aqui e ela nunca disse nada... Isso foi estranho.

- é, quem sabe ela sempre foi afim de você, mas só tomou coragem pra falar agora? - falei irônico. Nick era tão cego as vezes. Era capaz da garota estar cantando ele desde a primeira vez que viemos aqui e ele só ter percebido agora. Me virei na cadeira para olhar na direção do bar, a garota até que era bonitinha. Dois anos frequentando esse lugar e nunca reparei nela, não que eu seja de reparar em mulher... - pois é, ela é comível.

- cala a boca - ele retrucou. Agora ele analisava um papel na mão que eu custei para perceber que continha um número de telefone, que só pode ser dela.

- não - disse incrédulo. Nick era tão previsível - você gostou dela! Quanto tempo você passou lá com ela que eu não percebi?

- ela me viu no centro ontem e foi falar comigo, não sabia que ela trabalhava aqui - arqueei as sobrancelhas esperando que ele continuasse, mas parou por ai. Ele sabia muito bem o que eu diria. Nick era totalmente o oposto de mim, talvez seja por isso que nos damos tão bem, ele acreditava que todas as pessoas ainda podiam ser boas. Nick era o tipo de cara que se apaixonava fácil e, como se fosse uma grande ironia apenas para provar meu ponto, ele sempre saía magoado. Não que eu gostasse disso, é claro, ele é meu melhor amigo e eu só queria o melhor para ele.

- Não se preocupe eu não vou te questionar - ergui meus braços em rendição. Já não era de hoje que eu havia desistido de poupar ele - vou estar aqui quando você voltar chorando, não se preocupe.

Rolou os olhos para mim, mas ele não respondeu nada porque sabia que tinha uma grande chance disso acontecer ou, talvez, ele só não quis subir o argumento comigo. Eu devo ser uma pessoa muito chata.

- como vão as coisa lá na loja? - perguntou descontraído olhando o cardápio. Isso era tão desnecessário. Bem capaz de já sabermos todos os pratos de cor - ainda estão com problemas nas entregas?

- sim - suspirei. As coisas estavam ficando bem difíceis porque como estamos em uma frente fria sem tempo para acabar os caminhões com os produtos não conseguiam passar pelas estradas - a exportadora me ligou essa semana, disseram que com certeza as entregas chegam no próximo mês, mas estou receoso porque muitos produtos já estão acabando. Esse com certeza é o pior defeito desse lugar, está sempre tendo alguma tempestade.

- não se preocupe, pelo menos as exportadoras da cidade ainda estão funcionando - disse acenando para um rapaz que passou por nós para nos atender. Como eu já suspeitava fizemos os mesmos pedidos de sempre. eu pedi um b. b. king e ele um pic rockets, sexta feira era nosso dia de abusar nas comidas nada saudáveis.

- sim eu sei - odeio ficar tão estressado, é como se eu não conseguisse aproveitar o final do dia com meus amigos e isso é uma coisa que eu odeio - ahhh acho que vou pular a noite de sábado e ir para a blue ice hoje, preciso ficar bêbado e nunca fui naquela boate.

- você fala como se já não estivesse bêbado o tempo inteiro.

- eu tenho meus direitos como cidadão - resmunguei dando passagem aos pratos que foram colocados na mesa com nossos pedidos. Meu hambúrguer estava quase implorando para ser devorado.

- seus direitos como alcoólico, você quer dizer.

IntoxicateOnde histórias criam vida. Descubra agora