10- Love is Selfish

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- Gostei do seu loft - Harry caminhava pela minha sala. Não que fosse muito dividido por cômodos já que a cozinha era acoplada na sala com uma mesa perto da janela. Tinha também duas colunas no meio e um pequeno corredor que dava para o quarto e o banheiro. O suficiente para alguém que mora sozinho.

Ele estava tranquilo e isso só estava me deixando mais irritado, analisando tudo e se eu ainda se quer soubesse algo sobre ele, aposto que ele estava comparando com a nossa antiga casa. Era num prédio um pouco ao sul e eu fiz questão de ir morar bem longe daquele lugar depois que me mudei e arranjei outro emprego. Não que isso tenha mudado muita coisa para esquecer as memórias. Estava bem longe daquele lugar, dois anos depois e agora eu estava aqui, com uma lembrança enorme no meio da minha sala.

- é bem organizado - ele chegou perto da janela olhando para a chuva que estava bem forte. Eu me controlei para não bufar, estava impaciente com tudo isso e ele estava me irritando agindo desse jeito, como se nada nunca tivesse acontecido. Por um momento eu odiei essa mania dele de nunca chegar ao ponto do assunto. Ele passou as mãos pelo batente e parou elas no maço de cigarros deixado ali - você voltou a fumar?

Ele perguntou virando para mim, sua sobrancelha erguida com descrença. Da última vez que eu fumei perto dele, eu tinha dezessete anos e ganhei um jato de água na cara pela mangueira que ele estava usando para limpar o quintal da casa dele em Londres. Eu tinha me candidatado para ajudar, mas acabei sentado só olhando e fazendo aquilo que ele tanto odiava: Fumando. Não que isso fosse da conta dele hoje em dia, mas na época eu faria qualquer coisa que ele pedisse.

Eu murmurei um "uhum" enquanto andava até ele e pegava a caixinha no batente da janela, logo virando para guardá-la no armário sobre a pia. Vê-lo encarando os cigarros me deixava tão incomodado quanto vê-lo me encarando.

- isso faz muito mal - ele disse. Eu cruzei os braços enquanto me apoiava no balcão, o mesmo discurso idiota de anos atrás. Como se ele soubesse o que realmente me faz mal, como se pudesse vir com qualquer papo idiota para cima de mim querendo me fazer mudar de ideia. Isso era tudo extremamente idiota. Aonde estamos querendo chegar com tudo isso? Todo esse teatrinho? Eu costumava ser uma pessoa muito decidida e certa com as coisas que acreditava, mas ultimamente eu estou perdido. Totalmente perdido.

- Você também me fez muito mal - eu cuspi sem arrependimentos e ele suspirou se sentando no batente da janela enquanto passava as mãos sobre o rosto. Ele parecia cansado e seu semblante era triste. Sua mão entrou no bolso do sobretudo e logo depois ele estava fazendo um coque nos longos fios, uma coisa que eu nunca tinha presenciado, e apoiando os braços nas pernas enquanto suspirava. Harry encarava o chão enquanto brincava com os dedos das mãos. Sua boca se abriu e eu esperei algo, mas nada saiu e ele repetiu a ação algumas vezes. Nada.

O clima estava tenso e eu não queria ser o primeiro a falar. Se ele veio aqui, ele que encontre alguma baboseira para que eu possa rebater logo e terminar com essa coisa ridícula que é o que somos agora.

- Eu... é... - Harry estalou os dedos olhando em minha direção, mas assim que seus olhos encontraram os meus ele parou. Eu confesso que poderia estar bem ameaçador com as sobrancelhas erguidas e minha pose de quem não vai ceder, mas isso é apenas a verdade. Ele tentava encontrar algo para falar, mas sempre acabava do mesmo jeito: Desviando o olhar para a janela.

O clima estava mais pesado pelo simples fato de que tudo estava se tornando real. Minhas bochechas me traíam toda vez que eu olhava para os braços dele e lembrava de horas atrás quando eles estavam me rodeando naquele elevador. Parecia insano lembrar disso agora. Uma mudança muito brusca na minha vida para falar a verdade. Holly estava sempre contando novidades de como foi independente em alguma coisa ou Nick, que sempre estava animado com algum relacionamento novo. Mas eu, eu sempre estava sendo o mesmo cara que resmungava sobre como era idiota Nick se apaixonar por cada pessoa que ele tinha um encontro e sempre apoiava Holly com suas conquistas independentes. Eu nunca chegava com notícias que realmente valiam à pena, a não ser as que relacionavam o trabalho é claro, e agora eu tinha ido contra tudo o que eu lutava e simplesmente me entregado ao amor dessa forma que pareceu tão errada. O mesmo amor que me destruiu, mas agora estava aqui para me destruir de novo.

IntoxicateOnde histórias criam vida. Descubra agora