12- You're follow your heart even though it'll break.

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(2007 - Oito anos atrás. Hall Cross Academy)

-Calem a boca! - bati a porta do meu armário ao mesmo tempo em que ouvi a voz rouca de Harry Styles soar pelo corredor, que estava meio cheio, graças à troca de aulas, e os alunos corriam com seus materiais para a próxima aula.

Me virei para me deparar com uma coisa um tanto comum. Harry Styles, com sua touca de ursinho e os braços cruzados raivosamente sobre o peito, andando com pressa pelo corredor para fugir de alguns dos babacas que implicavam com ele.

Nós estamos em dois mil e sete e ainda existe essa merda de preconceito. Na verdade, algumas coisas ainda são novidade por aqui, por exemplo, Harry é o único gay dessa escola. Bom, pelo menos é o único assumido.

Eu nunca julguei ninguém por nada e na verdade já conhecia isso de perto. Ano passado minha tia tinha aparecido no casamento dos meus primos com sua namorada.

Minha mãe teve uma longa conversa comigo, mas não era como se eu fosse ser preconceituoso. Mesmo com quinze anos, eu pude ver como ela estava feliz e eu admirei muito minha mãe por ter uma mente tão aberta.

Meus avós e alguns tios fizeram um barraco sobre isso. Disseram coisas horríveis para elas e perguntaram se elas não tinham vergonha de ficarem assim na frente das "crianças" que, no caso, me incluía. Minha mãe e alguns primos se dispuseram para defendê-las, mas não é como se elas fossem me influenciar a nada. Já que, alguns meses depois, quando minhas aulas voltaram e eu entrei nessa nova escola e me vi absurdamente curioso sobre certo garoto de cachos.

Eu nunca falei com Harry Styles, mas eu queria. Já estávamos no meio do ano e eu apenas o observava de longe.

A primeira vez que eu o vi foi no banheiro. Irônico não? Desde então eu só o admirava nos curtos momentos em que trocávamos de sala. Míseros vinte minutos duas vezes por dia. Ah, mas também tinha a gloriosa aula de IM (introdução à música) que por uma obra do destino, nós fazíamos juntos.

Hoje era segunda. As pessoas vivem dizendo o quanto segunda é um dia ruim, mas eu o adoro, é o dia em que tenho aula de IM.

Entrei na sala e, como sempre, eu fui um dos primeiros. A sala de música era um pouco maior do que as outras, pois além de todos os instrumentos, também tinha um pequeno palco nos fundos.

Não demorou muito tempo para que Harry chegasse. Eu me sentava um pouco para o meio da sala, no canto, mas Harry se sentava na frente. Primeira cadeira da fileira do canto. Todo dia. Mas eu tinha decidido que hoje seria diferente. Hoje eu falaria com Harry Styles e ninguém me atrapalharia.

Foi com essa motivação que eu peguei meu material e sentei na cadeira atrás da de Harry.

Ele nem se quer me notou.

Minhas mãos estavam suando e eu estava com muita vontade de cancelar tudo. Quem sabe na próxima semana? Mas, obrigado destino, isso não aconteceu.

Quando eu estava prestes a voltar para meu antigo lugar e resolver tentar outro dia, a caneta de Harry caiu e eu imediatamente me abaixei para pegar. Harry me olhou com o cenho franzido. Ninguém nunca sentava perto dele.

-obrigado - ele disse enquanto pegava a caneta e logo voltou para seus desenhos.

Eu podia ter tentado mais? Podia! E a culpa na verdade foi toda da minha vergonha, mas eu prefiro fingir que foi da professora que entrou sacudindo os braços. Ela usava um turbante e um vestido estampado, sempre admirou a cultura africana. Enquanto as outras escolas tocavam clássicos, nós tocávamos instrumentos nativos.

A aula se passou bem rápido, mas do que eu queria. Eu não podia evitar, e pode até parecer meio maníaco, mas meus olhos sempre paravam no garoto na minha frente. Eu estava concordando com algo que a professora disse e então do nada, Harry! Eu encarava seus ombros e sua nuca e nem percebia.

Eu tive muita esperança sobre hoje, mas acabou como todos os outros dias: nenhuma evolução. Quando essa aula acabou o dia simplesmente rastejou até o sinal bater. Todas as aulas eram torturantes.

Então, quando eu saio pelos portões da escola eu esperava ver a mesma coisa de sempre: Harry no ponto de ônibus em frente à escola, indo embora. Mas aí algo inesperado aconteceu. O ônibus que Harry sempre pega estava saindo e ele correu inutilmente até lá, mas ele foi embora sem Harry.

Eu sabia que ele não morava muito longe da escola, já que ele morava em uma rua atrás da minha casa, e ele podia ir à pé sem se cansar, mas esse não era o ponto. Harry tinha seus motivos para não ir andando sozinho para casa. Sozinho e desprotegido. Alguns garotos pegavam o mesmo caminho que ele e esses garotos eram exatamente os que odiavam Harry e seu modo de ser.

Harry rapidamente ajeitou a mochila nas costas e nem esperou o próximo ônibus, já que seria bem mais rápido ele arranjar poderes pra voar do que o próximo chegar. Eu não fiquei para trás. Não acreditava muito em destino, mas mesmo assim, vi isso como uma oportunidade e não iria perder.

Depois de um quarteirão eu apertei o passo e gritei pelo garoto de cachos que se encolheu, mas logo sua expressão de medo se transformou em confusão quando me viu.

-oi? - ele disse confuso quando eu comecei a andar ao lado dele.

-oi - eu sorri sem graça estendendo a mão - eu sou Louis.

-Harry - Ele respondeu apertando minha mão.

Há.

- eu sei - eu soltei sem querer e ele franziu o cenho - quer dizer. Eu já ouvi falarem de você.

🕐

Harry estava meio inseguro no início, mas depois de algumas quadras ele começou a se soltar quando percebeu que Louis não o faria mal. O mesmo aconteceu depois de algumas semanas também. Louis continuava com a mesma disposição em todos os intervalos das aulas para procurar Harry, a diferença é que agora Harry também procurava por ele.

Louis nunca viu Harry com muitos amigos, achava até que ele não tinha nenhum, mas isso era apenas na escola. Em um dia que foram liberados cedo, como sempre, Louis foi para a casa de Harry. Acabaram passando a tarde inteira conversando com alguns amigos de Harry que também foram o visitar. Foi também nesse dia que Harry, pela primeira vez, percebeu o quão ciumento Louis era. O garoto de cachos sempre teve uma suspeita dos sentimentos de Louis por ele, mas nunca quis acreditar que era verdade. E agora ele estava ali. Enquanto Luke o abraçava e beijava sua bochecha, Louis rolava os olhos e bufava achando que estava sendo discreto.

Harry, ao contrário, tinha um sorriso de lado a lado, mas ele também tinha medo. Dois meses de amizade com Louis foram suficientes para que os babacas que implicavam com ele, também implicassem com Louis. Ele se sentia péssimo em ouvir os comentários idiotas sobre Louis e ele, mas Louis sempre rebatia e o defendia. Harry se sentia bem para ignorar isso agora.

Foi com toda uma tarde de ciúmes e uma semana de um Louis fazendo cu doce, que Harry tomou coragem para levá-lo a uma festa que ele costumava ir. Durante sua vida Harry conheceu muitas pessoas no mesmo estado que ele. Achava ridículo como a sociedade não aceitava isso, mas ali estavam todos eles. Se amando bem debaixo do nariz da sociedade.

Ashton, amigo de Harry, era muito bom em dar festas polêmicas. Ele era maior de idade e aproveitava isso para confrontar os julgamentos. Algumas vezes no ano ele dava "Free Party" onde todos eram livres para ser quem eram. Harry ainda se lembrava de quando tinha conhecido Ashton e foi pela primeira vez na festa. Todas aquelas pessoas sendo livres só o ajudou a ser ele mesmo. Ele jurou para si mesmo que nunca mais se esconderia na vida. Tudo que passou pela sua cabeça foi o quanto ele queria levar Louis e assim ele fez.

Para Harry, não tinha nada mais lindo do que o rosto assustado e encantado de Louis enquanto ele andava pela festa e via todas aquelas pessoas beijando quem quisessem. Simplesmente, não tinha espaço para pessoas que não aceitassem o amor lá dentro.

E foi assim que eles terminaram a noite aos beijos no telhado daquela casa. Depois do primeiro, eles não conseguiram parar mais. O som da festa ainda presente, mas eles não ligavam. Estavam alheios ao mundo fora de sua bolha.

Eram apenas Harry, Louis e a lua.

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