36- Don't Let The Sun Go Down On Me

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-Bom dia Louis. -Harry disse sonolento, empurrando o carrinho de bebê para dentro da minha sala. Sua fala não trazia nenhum tipo de carinho ou amor, era apenas algo mecânico que ele repetiu em todos esses dezoito dias em que vinha trazer Miguel antes de ir para o hospital. -Eu venho buscar ele às onze, como sempre.

E como em todos esses dezoito dias, eu apenas acenei com a cabeça em resposta.

Eu não tinha coragem de dizer qualquer palavra para Harry enquanto ele parecia tão abatido e desanimado. Nos primeiros dias ele chegava a tentar começar um assunto ou saber se eu já estava bem com ele e com a situação, mas com o tempo ele desistiu ao que eu apenas negava e me distanciava.

Pensar era tudo o que eu fazia. Pensava em cada coisa que já passou pela minha cabeça nesses três últimos anos, das péssimas as melhores.

Dentre tudo isso, eu estava começando a perceber que não tinha superado nenhum dos acontecimentos até aqui. Eu podia ter dito o "eu te perdoo", mas tudo aquilo continuava quebrado dentro de mim e só agora estava dando para ver as rachaduras. Nesses dias eu percebi que algo maior que isso estava me prendendo. Eu estava preso demais para seguir em frente e só não sabia como melhorar. Ter Harry por perto era doloroso e ter Harry longe era ainda mais.

Cada dia em que eu acordei sozinho foi acompanhado de lágrimas até que eu me levantasse para um banho rápido, antes que ele chegasse tocando a campainha para deixar Miguel.

Ele trazia o bebê todo dia antes de ir para o hospital e buscava quando já estava de noite para então ir à casa de Holly. Ele estava dormindo lá nessas três semanas, já que saiu do antigo apartamento e até agora não tinha ido para nenhum outro lugar.

Holly tinha me dito que ele não queria comprar nada ou sair de lá por que se fizesse isso então seria real que essa situação era permanente e ele não queria que fosse. Na verdade ninguém queria, porém o que eu podia fazer se cada momento em que pensasse sobre ele visse imagens terríveis dos nossos piores momentos?

Eu agradecia que Miguel não dormisse aqui já que toda noite eu venho tendo o mesmo pesadelo. Eu estou numa rua parcialmente escura com seus postes acesos melancolicamente, vendo Harry entrar no carro preto e virar a esquina. Isso se repete até que eu acorde, chorando, as três da manhã. Isso tudo seria tão mais fácil se eu não fosse fodido psicologicamente. Harry cometeu erros no passado, mas eu sempre fui o garoto problema. Eu quem estava sempre dependendo dele, eu era quem não tinha amigos na escola e acabou fazendo com que ele ficasse sem ninguém também, eu decidi que deveríamos nos mudar para uma cidade isolada onde sofremos preconceito até que ele apenas fosse embora e partisse meu coração. Por que todos essas problemas do passado me faziam afundar tanto? Por que tudo isso estava tão ruim, se eu amava Harry com todas as minhas forças e sabia que ele me correspondia na mesma forma?

As pessoas repetem tanto que amor é tudo o que você precisa, mas será mesmo que é tudo?

Quando toda a bomba estourou e Harry estava quebrado e eu estava quebrado e tinha um bebê entre nós sem nenhuma culpa por nossas merdas, eu só soube lembrar de uma frase que minha mãe sempre repetiu. "Quando você não souber o que fazer, meu melhor conselho é não fazer nada até que a claridade venha". Eu estava tentando seguir isso, porém a cada dia eu parecia ficar mais confuso.

Miguel e eu passamos todo o dia do quarto para a cozinha. Há alguns dias eu descobri um canal onde passa um reality show sobre mulheres que não sabiam estar grávidas até o dia em que estavam em trabalho de parto e posso dizer que isso me deixava distraído por longas horas enquanto Miguel intercalava entre dormir, mamar e brincar com seu negócio de morder. Holly tinha o presentiado com diversos brinquedos que eu nem se quer podia nomear por causa de seus formatos estranhos, mas ele parecia bem interessado em passar o brinquedo e silicone nas gengivas e eu apenas o admirava sorrindo sobre o quão lindo ele podia ser.

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