33- Let's take a little breath

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O dia amanheceu brilhante. Um sol tímido se esgueirava entre as nuvens e trazia seus raios para dentro do quarto por entre as cortinas. Porém eu não acordei junto com o sol, seria ótimo dizer que eu ao menos dormi.

A luz iluminava minha cama onde Miguel dormia tranquilo no meio enquanto Harry e eu estávamos nos cantos lutando para não cair. Tinha tudo para ser perfeito.

O sol veio junto com minha lucidez me fazendo perceber coisas que eu não estava percebendo fazia alguns dias. Algo como um mecanismo de defesa que me fazia não focar nas coisas reais e apenas aproveitar, mas que agora tinha ido embora me deixando em pé de frente as decisões que eu precisaria tomar. Existem algumas situações onde tudo que você precisa é seguir pelo caminho certo ou terá que tomar o próximo retorno ao ponto inicial. Eu não queria ter que ficar voltando ao ponto inicial toda a vez que tomava decisões como estive fazendo esses últimos anos.

Eu amo Harry, sem sombra de dúvidas ou incógnitas. Amo Miguel de uma forma inexplicável, afinal ele simplesmente surgiu na minha vida faz um pouco mais de três dias e eu já não me vejo sem ele. Eu suspeitava que isso acontecesse quando eu adotasse ou simplesmente esperasse eu bebê nascer, mas eu já devia estar acostumado em ver as coisas acontecendo de uma maneira própria. 

Porém o amor precisar andar de mãos dadas com a razão. Muitas coisas devem ser levadas em consideração.  Mesmo amando Harry dessa forma gigantesca, eu ainda me sinto despedaçado ao lembrar o que foi preciso para que chegássemos até aqui. Mesmo não me vendo sem ele ainda doía ao lembrar dois anos atrás quando ele foi embora me deixando à deriva num mar de desesperança.

Eu tive de aceitar tantas coisas, me fazer acreditar em tantas coisas que agora eu já não estava sabendo no que acreditar.

Há dois anos eu me fiz acreditar que nunca mais teria alguém e agora tudo isso deve ser desconsiderado. Quantas vezes mais eu vou precisar desconsiderar coisas que eu já tinha permanente?

Sair da zoa de conforto para algumas pessoas pode ser assustador e eu posso dizer que sou uma dessas pessoas.

- Louis? – Harry perguntou baixinho. Sua feição era sonolenta, porém um pouco apreensiva – Está tudo bem?

- Está – Eu suspirei tirando a coberta de cima de mim me levantando. Chequei Miguel e logo fui ao banheiro quando percebi que ele não acordaria nem tão cedo.

Eu estava escovando os dentes quando Harry entrou no banheiro atrás de mim. Ele me conhecia e era desnecessário fingir ser algo que eu não queria ser. Ele suspirou me abraçando por trás e deixando beijos pelo meu pescoço me fazendo arrepiar.

- Harry não – Eu me afastei secando meu rosto e saindo do quarto. Como eu podia ignorar tudo que estava se passando dentro de mim?

Ao entrar na cozinha logo me coloquei a olhar os armários, pois sabia que Harry viria atrás. E ele logo apareceu encostando-se à parede e me olhando com os braços cruzados, esperando que eu começasse a me abrir como sempre. Eu realmente queria poder fazer isso, mas dessa vez as coisas estavam diferentes, eu apenas não conseguia agora.

- O leite do Miguel acabou ontem – Eu disse erguendo a lata até Harry que a pegou olhando a embalagem na lata – Ele vai precisar mamar assim que acordar então... Você podia ir ao mercado comprar outro? – Ele me olhou nos olhos, provavelmente sentindo minha angustia ser exposta – Eu não entendo muito disso, mas acho que precisa ser o mesmo...

- Eu vou, ele é uma substituição para o leite materno então eu acho que não vou encontrar no mercado. Mas eu dou um jeito – Ele disse se aproximando e eu senti meu coração acelerar. Ele parou na minha frente se inclinando para me dar um beijo, mas eu virei o rosto fazendo seus lábios irem em direção a minha bochecha.

Eu já não sabia se doía mais dentro de mim ou olhar nos olhos caídos de Harry. Porém eu estava aqui e agora ele saia pela porta, me deixando sozinho na minha cozinha que estava tão vazia quanto meu interior. Eu só peço que isso acabe tão depressa quanto começou.

🍂🍂🍂

- Louis? – Eu escutei a voz de Harry pelo apartamento e logo ele apareceu no quarto. Eu estava com Miguel nos braços que chorava desde que acordou – Eu deixei as compras na cozinha precisa de ajuda? – Ele perguntou e eu apenas acenei com a cabeça.

Logo que Harry pegou Miguel eu caminhei para a cozinha dando de cara com todas as bolsas de compra que Harry trouxe sem que eu precisasse pedir. Assim que eu abri o armário para pegar o leite percebi que era realmente necessário já que eu não fazia compras a um bom tempo e minha alimentação estava no último tópico da minha lista de preocupações.

O primeiro era Miguel e eu logo preparei sua mamadeira entregando para Harry que parecia em sua bolha imaginária encarando os olhos de Miguel que apenas suspirava e fazia um bico extremamente fofo nos lábios.

- os olhos dele são tão lindos – Harry disse assim que Miguel colocou a mamadeira na boca o encarando diretamente – É insano o quão são idênticos aos seus.

Eu suspirei sentindo meu interior ser tomado por uma tristeza avassaladora misturada com sono. Eu estava esgotado, sem condições de pensar ou fazer algo a não ser lamentar por algo que eu nem se quer tinha certeza sobre.

- Eu preciso de um tempo sozinho – Eu disse de uma vez vendo Harry levantar seus olhos para mim – Eu sei que você disse que não me deixaria e que eu estava sendo precipitado, mas é só um tempo. Eu preciso colocar a casa em ordem e quando eu digo casa e quero dizer meu psicológico que está ferrado.

Eu terminei esperando pelo discurso de Harry sobre como não sairia daqui até que eu mudasse de ideia ou sobre como ele já sabia como isso funcionava, mas o que eu recebi em troca foi empatia. Seu olhar carregava tristeza, mas eu podia ver o amor ali dentro lutando para tomar o controle e eu era tão grato por isso.

- Eu vou levar o Miguel comigo e vamos dormir na casa da Holly – Harry disse calmamente e só o fato de se tornar real eu ficar longe de Miguel, nem que só por uma noite, já me doía. Porém eu não pude contestar. – Amanhã eu irei o trazer. Nick e Holly vão gostar de conhecê-lo.

Eu acenei que sim com a cabeça e logo que a mamadeira estava vazia eu já colocava tudo que ele iria precisar dentro da bolsa. O carrinho que eu tinha lavado e colocado para secar já estava arrumado e acolchoado na espera do meu lindo bebê.

Assim que Harry colocou a bolsa amarela sobre o ombro e segurou no carrinho eu senti uma falta dentro de mim, mas essa falta não era deles. Eu sentia falta de mim mesmo.

Durante toda essa trajetória de vida até chegar nesse ponto eu perdi a coisa mais importante que eu podia se quer pensar: Eu mesmo. E a coisa mais dolorosa é se perder no processo de amar alguém.  

Crescer dói e mudar também dói, mas nada dói mais do que estar em uma situação onde você não consegue se encontrar. Era como se eu estivesse morrendo pela minha dor ao que Harry saiu fechando a porta, mas é como dizem... Você tem que morrer algumas vezes antes de você realmente viver.





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