Tinha certeza de que estava tomando a decisão correta.
Beatrice não costumava cair de cabeça em relações, mas John a tirava do convencional. Não se lembrava, em anos, de estar tão apaixonada. Jamais se imaginava noivando antes dos vinte e cinco e lá estava ela, com um belo diamante no anelar direito, sendo invejada em todos os locais que resolvia parar.
Principalmente quando o noivo estava presente.
John era esguio, bonito, bem humorado e gentil, qualidades que não imaginava encontrar em um homem só. Sabia agradá-la como ninguém e não lembrava de qualquer momento que tenha sido grosseiro ou inconveniente. Bebia na medida certa, falava na medida certa, brincava na medida certa. Megan costumava dizer que costumava cagar na medida certa também, algo que Beatrice acabava achando graça. E claro, nunca contava para o noivo.
Era sexta-feira e a cerimônia estava marcada para Domingo. Sua vida estava uma loucura, mas não podia jogar tudo pro alto, afinal, era seu dia especial. O vestido estava perfeito, a comida deliciosa, as roupas das damas serviram perfeitamente e 90% dos convidados confirmaram presença. Só faltava fazer uma prova do cabelo e da maquiagem antes de enfim fechar todo o pacote. A Lua-de-Mel seria em Veneza, mas estenderiam para outras cidades italianas. Beatrice não sabia se contava as horas ou ficava assustada com elas. Fazendo uma varredura mental, lembrou-se de algo importantíssimo: escolher o buquê.
Tinha marcado duas coisas ao mesmo tempo e enquanto retornava com o carro, apertava freneticamente os números no telefone, torcendo para que o cabeleireiro tivesse um horário a mais na agenda. Afinal de contas, não podia deixar o buquê para lá. Rumou para o outro lado da cidade, onde costumava passear e ver as lojas. Tinha a área como especial em seu coração, pois fora ali que falara com John a primeira vez.
Tinha decidido fazer uma caminhada. Algo impensável para alguém que detestava exercícios como ela. Estranhamente, conseguiu reunir coragem e teve alguns minutos de saúde em volta do parque. Caminhando de volta para casa, chamou a atenção de três caras bêbados recém-saídos do pub. Os homens a seguiram por dois quarteirões inteiros, até que desesperada, Beatrice avistou um rapaz saindo de um café a sua frente. Naquele instante, agarrou seu braço e lhe deu um beijo no rosto, fingindo ser sua companheira. Os bêbados, avistando a cena, se dispersaram. E o rapaz, se apresentando como John, a chamou para tomar um café. Desde então, não se desgrudaram mais.
Beatrice suspirou dentro do carro ao lembrar que aquele encontro foi há dois anos atrás. O tempo ao lado do noivo passou voando e imaginava que sua vida seria da mesma forma. Alegre e veloz. Já não se importava com quantas rugas ganharia no processo, desde que fossem de alegria. Já imaginava a entrada na igreja, as daminhas à sua frente e o choro de sua mãe. Estava completamente feliz.
Até parar no sinal.
Atravessando bem a sua frente, estava John. No início, não acreditou. Piscou três vezes para crer. Esfregou o olho duas. Por fim, franziu o cenho e observou a cena. Seu noivo costumava andar sempre com um terno despojado e roupas modernas, mas elegantes. Afinal, era um homem de negócios e fazia contatos constantemente. Os cabelos sempre em penteados modernos, mas bem arrumados, que o deixavam sem dúvida atraente. O conhecera dessa forma. Se apaixonara por aquele John.
Só que o homem que atravessara a rua era completamente diferente em estilo. Os cabelos estavam caídos, desalinhados e até um pouco bagunçados. Usava roupas joviais e parecia mais um rapaz da faculdade indo para uma aula chata de manhã. Ao lado dele, uma menina. Loira, nova e com rostinho angelical. Os carros tiveram que buzinar para que Beatrice percebesse que o sinal havia aberto. Com o casal em foco, virou a primeira esquerda e seguiu-os.
Talvez fosse um parente desconhecido. Algum primo idêntico? Irmão renegado? Beatrice pensou em inúmeras possibilidades. Não podia ser John. Aquele homem não tinha nenhum traço que o caracterizava como seu noivo. Era só um corpo. Irritantemente idêntico. Talvez a voz fosse esganiçada. Talvez tivesse uma marca diferente no peito. Uma tatuagem. Talvez até mesmo tivesse feito uma plástica! Beatrice parou o carro quando percebeu que a rua onde o casal adentrava não tinha mão.
Saltou e seguiu adiante. Conseguia vê-los mais a frente, trocando sorrisos e de mãos dadas. Não sabia mais o que pensar. Talvez estivesse em um grande pesadelo. Era só essa a explicação! Se beliscou duas vezes antes de seguir andando, mas nada aconteceu. Sentiu a dor e voltou a caminhar. Mantinha uma distância segura, mas na realidade queria confrontá-lo. Perguntá-lo se conhecia algum John. Quem sabe estivesse dentro de uma história dramática familiar e nem se desse conta?
E então eles se beijaram.
Beatrice perdeu o ar. Era como se fosse engolida por um grande redemoinho. Não podia ser. Não era real. John se casaria com ela no Domingo, era depois de amanhã! Não era possível que estivesse ali, fazendo o papel de um estudante capenga, no meio da tarde. Seu noivo não tinha tempo! Ele não poderia!
Resolveu continuar observando. Escondida atrás de uma banca de jornal, fingindo ver revistas, pode observar uma breve discussão. Depois disso, o rapaz se afastou, deixando a garota no meio da calçada. Ela gritou pelo seu nome e Beatrice gelou.
"JOHNNY! Volta aqui! JOHNNY!"
E ele voltou. E a beijou mais uma vez.
Seu John, seu amor, o homem que escolhera para dividir uma história de vida, tinha uma aventura com uma juvenil. Se vestia com blusas de manga comprida, calças largas e bolsinhas enviesadas, agradando todas as calouras num raio de 30 metros. Beatrice só percebeu que estava chorando quando as lágrimas escorreram pelo seu rosto. Limpou-as rapidamente, comprou a revista que tinha em mãos e seguiu para o carro, parando em frente ao mesmo por alguns instantes. O confrontaria? Pediria para explicar? Tentaria entender o que estava acontecendo? Não queria escândalos, mas se sentia tão destruída por dentro que só queria gritar.
Acabou entrando no carro e seguindo viagem. Tinha visto demais.
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Megan&Beatrice
ChickLitAmigas. Até hoje não sabem desde quando. Talvez tivessem conversado pela primeira vez na fila do sorvete. Ou enquanto saíam da escola. Nenhuma delas lembrava com exatidão. Tanto Megan quanto Beatrice tinham um momento gravado na memória. Enquanto a...