Despertar com batidas na porta nunca foi prazeroso, principalmente para Megan que detestava qualquer tipo de intromissão do sono. A camareira queria apressadamente limpar o quarto, mas tentava ser educada por estar tratando com a hóspede da suíte de luxo. Lembrar dessa incrível virada do destino a fazia rir. De fato precisavam de momentos luxuosos, pois sentia o corpo leve depois daquela champagne tão cara. E as horas a mais de sono serviram para diminuir as olheiras, que colecionava desde o falecimento de Dixie. Ter recusado Edwin também não foi nada fácil. Era como estar a um passo de um carro belo e veloz. Ao mesmo tempo que o desejava muito, também o temia. Todas essas coisas, somado ao fato de ter presenciado o pior momento da vida de Bea, a deixaram triste. Queria se reerguer e a viagem estava surtindo o efeito esperado.
Só percebeu que estava sozinha na suíte quando procurou Beatrice por todos os lados. Enviou uma mensagem, mas não recebeu retorno. Cansada de esperar, arrumou-se e saiu do quarto, em busca de uma nova aventura por Paris. Fazer tudo sozinha não era tão divertido quanto com a amiga, mas pelo menos conseguiu tirar ótimas fotos. Parou em um café e tentou enviar uma nova mensagem para Bea, mas novamente não teve retorno. Aceitando que seria um dia solitário, resolveu abrir o mapa e pesquisar os locais próximos que poderia visitar sem concorrer com os asiáticos. A primeira coisa que fez foi cortar o Louvre da lista.
Estava perto da Catedral de Notre-Dame. Era um dos principais locais que gostaria de conhecer. Criada com filmes da Disney, Megan jurava que a história do Corcunda era verdadeira e sempre quis visitar as torres. Sonhava muitas vezes em encontrar pistas e embarcar em grandes aventuras. Rapidamente pagou a conta e rumou com passos rápidos pela Rue du Petit Pont, atravessando o Senna e se deslumbrando com a Place Jean-Paul II. Ao fundo, a Catedral se encontrava, magnífica. Megan suspirou aliviada pelos desenhistas a terem feito tão parecida com a original. A música do bobo veio a mente e não pensou duas vezes em pegar a máquina e tirar fotos. Fez um curto vídeo com o celular para enviar a mãe e finalmente pôs os pés dentro da igreja.
Megan não saberia explicar a sensação. A energia que percorreu seu corpo ao caminhar por aquele chão era inexplicável. Acreditava na força da oração e no poder da história, mas era algo quase palpável. Era fresco, profundo e emocionante. Acendeu uma vela e deu a volta na catedral, ouvindo o canto gregoriano. Naquele momento, quis rezar. Seus olhos transbordavam de uma hora para a outra. Sentiu-se segura e acolhida por aquele local que parecia conhecer desde sempre. Os filmes ajudaram.
Sentou-se no último banco, tentando não chamar a atenção. Juntou as mãos e as apoiou no banco da frente, levando a cabeça para cima delas. Pediu proteção para si e a família. Pediu por Bea e Dixie. Até por Edwin. Por ele, pediu também o perdão. Perdão por não poder acompanhá-lo em tantos sonhos e planos, perdão por deixá-lo sozinho com um anel de noivado e perdão por ter medo. Ter medo de se entregar totalmente a essa relação e sofrer. Como Bea sofria agora. Não queria passar por isso, já teve suas desilusões. Edwin encontraria alguém que pudesse compartilhar seus melhores momentos e apoiá-lo nos piores. Existiam muitas mulheres dispostas a isso. Era um homem bonito, interessante e inteligente, certamente teria quem o amasse. Gostava de pensar assim, pois sentia menos a culpa. Torcia para que o ex namorado tivesse conseguido o dinheiro de volta pelo anel. Talvez, algum dia, lhe ressarcisse.
Fechou os olhos e pediu insistentemente por ajuda. Megan não frequentava igrejas todas as manhãs ou seguia a risca os preceitos da igreja, mas lutava pelo bem. Podia estar louca, mas sentia a energia de Deus ali. Por isso, pediu com todo o coração. Uma forma de aceitar a morte, de ajudar os amados, de enfrentar a dor.
E quando deu por si, conseguia sentir a brisa do vento.
O dia era ensolarado e fresco. O galope de sua montaria era constante, mas não precisava acomodar-se na sela, mesmo com o longo vestido. A capa carmesim a protegia das lufadas de vento que vez ou outra gelavam a espinha. Era um pátio medieval e parecia conhecê-lo. As pessoas observavam suas inúmeras voltas e brincadeiras com o cavalo, divertindo-se. Seu riso ecoava pelas construções ao redor. Não se lembrava de brincar tanto desde a infância com Dixie. Estranhamente, não sentiu tristeza ao pensar nela. Estava aos poucos sarando as feridas e pensou em Deus. Na fé e seu poder de reparação.
E então mais galopes e relinchos chamaram sua atenção.
Homens aproximavam-se. Um grupo pequeno, mas destemido. Vinham com rapidez pela rua, aproximando-se de sua casa e de seu pai, que já os esperava. Nem mesmo sabia há quanto tempo estava ali sem que o tivesse percebido, mas não quis se ater aos detalhes. Ou melhor, não a esse detalhe.
Em cima de um alazão negro, estava ele. Elegantemente montado, era praticamente mesclado ao corcel. Tinha os cabelos escuros como ébano e penteados para trás com cuidado. Mantendo o animal atrás dos companheiros mais velhos, a encarou. O sorriso a vez tremer.
Era ele, o seu Edwin.
Estranhou os cabelos, mas acabou gostando. Não conteve o sorriso que despontou no canto dos lábios e nem sua montaria, que movimentou-se nervosa, em busca de mais exercício.
- O que o traz de tão longe, jovem senhor? - perguntou, com interesse, controlando as rédeas. Recebeu o olhar significativo que se lembrava bem e o sorriso charmoso característico. - Busco paz, minha senhora. E reparação. - sua voz lhe fez perder o ar por alguns instantes. Seu coração bateu acelerado e só pensou em descer da montaria e beijá-lo. Como todas as outras vezes que se sentia raivosa. Nunca conseguira bater verdadeiramente em Edwin, nem que quisesse. Assim como não o fazia com Beatrice ou Dixie, seus verdadeiros amores.
Estavam sozinhos. Atrás de Edwin, podia ver Notre-Dame crescer, magnífica. Aquela era a imagem mais bela que vira na vida, sem exageros. O charme do amado praticamente reluzia, como feitiçaria. Não conseguiu deixar de sorrir. O viu saltar do cavalo, caminhando em sua direção de forma acelerada. Desmontou e fez o mesmo. Estavam praticamente correndo, quando encontraram um ao outro. Deram as mãos e Megan sentiu o toque gentil de Edwin no rosto.
- Não me deixe, Megan. Não fuja de mim. - ele pedia, de forma doce. - Não precisa temer. Você tem a melhor canhota do secundário. - Edwin brincou, lembrando da qualidade número um da amada. Meg estava impressionada. - Como me achou? - perguntou. Edwin sorriu, misterioso. - Você deixa mais rastros que um guaxinim bêbado. - respondeu, rindo. A garota não pensou duas vezes antes de colar seus lábios aos dele. Um beijo acompanhado pelos sons de Notre-Dame.
Acordou com o barulho dos sinos e a reclamação de uma senhora que cuidava da catedral e estava revoltada. Ouvia o ralhar da senhora em francês, mas não entendia uma palavra. Ergueu a mão, pedindo desculpas e partiu, um pouco tonta com tudo aquilo. A experiência na Notre-Dame foi mais intensa do que esperava.
Ao sair da catedral, podia ouvir uma canção conhecida e franziu o cenho, confusa.
- Isso é Taylor Swift?
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Megan&Beatrice
Literatura FemininaAmigas. Até hoje não sabem desde quando. Talvez tivessem conversado pela primeira vez na fila do sorvete. Ou enquanto saíam da escola. Nenhuma delas lembrava com exatidão. Tanto Megan quanto Beatrice tinham um momento gravado na memória. Enquanto a...