Megan&Bea&Recordações&Barcelona

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Beatrice dormia tranquila.

Tanto, que Megan não teve coragem de despertá-la. Apenas a observou por alguns instantes, recordando os bons momentos da infância, em que planejavam suas festas do pijama. As convidadas nunca mudavam: Dixie e as bonecas. Era difícil manter o focinho da cadela longe dos biscoitos ou do cabelo dos brinquedos, mas conseguiam se divertir. Dançavam, pulavam na cama e assistiam filmes até tarde. Aquela altura tarde era sem dúvida uma da madrugada. Megan riu ao pensar que atualmente, era difícil deitar-se antes das três. Sempre teve sérios problemas com o sono, por mais que gostasse de dormir quando se rendia a ele.

Levantou-se calmamente e foi para a banheira, disposta a permanecer nela durante algum tempo. Queria estar descansada para o próximo destino. Os dias em Barcelona foram incríveis, mas chegaram ao fim. Visitaram todos os pontos turísticos possíveis com o guia, conheceram ótimas pessoas que puderam mostrar o resto e viveram como há muito não viviam. Despreocupadas. A semana foi extremamente movimentada, com direito a tombos de bicicleta e mal entendidos, mas estava satisfeita. Mesmo com o olho ainda roxo. Sabia que aquele ferimento não sumiria em uma semana.

Chegaria na Itália ferida, mas contente. A Espanha foi caótica, mas extremamente divertida. Gostaria de ter conhecido outras cidades, mas não houve tempo. Deixou anotado no celular um lembrete de pesquisar novos pacotes de viagem, pois queria mais tempo na Espanha da próxima vez. Observou as mensagens e lembrou-se do número misterioso que a alertou em Paris sobre a rua. Estranhamente, nada havia ocorrido em Barcelona. Poderia ter se manifestado quanto ao horário de fechamento do Labirinto d' Horta, mas o Destino pareceu tê-las abandonado. Entristeceu-se por isso. Gostava de receber ajuda, principalmente quando se sentia completamente perdida.

Após cuidar-se, Megan iniciou a arrumação da mala. Tinha muitas peças fora do lugar e precisava retirar tudo para que coubessem novamente. Entre as muitas movimentações, reencontrou o anel prateado que Edwin lhe dera. O presente mais amável que recebera. Ficou cerca de cinco minutos observando o objeto, acocorada ao lado da bagagem.

- O que eu faço com você?... - sussurrou para si mesma, pensativa. Queria ter coragem para colocá-lo no dedo novamente e retornar a Glasgow, pronta para o futuro. Infelizmente não poderia fazê-lo. A todo instante, a boa imagem de Edwin cobria o malfeito, mas Megan teimava em tirá-la do caminho, lembrando-se onde seu ex namorado estava metido. Amigo de John. Cúmplice. Não poderia mais se aproximar dele. Nunca mais.

Aquilo doeu.

Suspirou e guardou o anel novamente, sentindo vontade de chorar. Pela primeira vez, depois de tanto tempo, se deixava ter esse sentimento por Edwin. Era como se de fato colocasse um ponto final naquela história.O "nunca mais" era duro, mas necessário. Enxugou uma lágrima que teimou em perturbá-la e fechou a mala, respirando fundo. O celular vibrou, chamando sua atenção.

- Oi, mãe! Tudo bem aí? - perguntou ao atender o telefone, se recompondo. Sra. Katherine sempre foi uma mulher divertida. Por mais que mostrasse certa rigidez com a criação de Megan, era fácil de conversar e extremamente intrometida quando queria. Naquele momento, fazia uma das suas. A garota revirou os olhos ao ouvir mais uma vez a reclamação da mãe sobre namorados e futuro.

"Você já é formada, trabalha, tem sua vida, agora precisa escolher alguém ou vai ficar sozinha! Megan, o tempo está passando!"

Como se as celulites que via no corpo já não dissessem isso.

- Mãe, quem sabe o certo seja eu morrer comida por gatos, não é mesmo? Deus escreve torto por linhas certas. - e assim Megan finalizou o assunto, recebendo um xingamento e um sinal de linha ocupada.

Desligou. Megan respirou aliviada.

Por mais que amasse os pais e se desse extremamente bem com os dois, não podia negar que a pressão de filha única a tirava do sério. Sua mãe não era do tipo que se satisfazia com facilidade e Megan acabou herdando muito de seu jeito e não reclama. Ainda assim, Sra. Katherine consegue ser pior que a encomenda.

Quando Megan namorava Edwin, dizia que jornalistas não tinham futuro. Só mudou de ideia quanto ao rapaz quando o conheceu pessoalmente e descobriu que seus pais tinham uma condição financeira abastada. A mãe de Megan não era interesseira, sabia disso, mas Sra. Katherine sofria só de imaginar que a filha pudesse ter uma vida difícil no futuro. Fez esforços tremendos para que a garota jamais tivesse traumas ou dificuldades. Portanto, Megan achou melhor não dizer que Edwin nunca teve qualquer pretensão a herança e deixaria tudo para a irmã mais nova.

Depois do término do namoro, Sra. Katherine voltou a falar sobre os militares. Para a sra. McAdams, apenas homens guerreiros ou príncipes eram dignos de sua filha e sempre que pensava nisso, Megan gargalhava, pois todos os príncipes do mundo estavam ocupados e os guerreiros ficando loucos ou perdidos em combate. Com aquilo em mente, acabou pegando novamente o celular e enviando uma mensagem para a mãe.

"O herdeiro da Espanha está livre?"

Gargalhou antes mesmo de ver a resposta e se surpreendeu com Beatrice, que se espreguiçava na cama.

- Desculpa, te acordei? - perguntou, encolhendo os ombros e fazendo uma leve careta. A amiga riu, balançando a cabeça negativamente. Enquanto Bea despertava, Megan admirou mais uma vez a mensagem misteriosa e desligou a tela do celular.

Quando chegaram ao restaurante do Hotel, uma surpresa: os rapazes já se encontravam por lá. Cumprimentaram a todos e se alimentaram juntos, rindo das enrascadas que as duas turistas se enfiaram. No fim, Roberto aproveitou-se de um segundo a sós com Beatrice para lhe entregar um papel com seu número.

- Quando estiver perdida por Paris, me avisa. Vai ser um prazer te salvar de outro linchamento. - brincou, com um sorriso maroto no canto dos lábios. A menina sorriu, guardando o papel no bolso da calça. - É claro! Vou te retornar e você guarda meu número, ok? - respondeu de forma gentil, com um leve sorriso nos lábios.

Do outro lado do hall, Fernando e Megan observavam os dois amigos e o brasileiro riu, balançando a cabeça negativamente. - Ele é meu parceiro, mas como gostei de vocês, vou te avisar: ele é casado e tem dois filhos. - confidenciou, em voz baixa. Megan ficou boquiaberta e ia dizer algo, quando ele ergueu as mãos em pedido de paz. - Fica calma que ele não procura ninguém antes de retorno. Avisa a Beatrice, sim? - pediu, fazendo Megan assentir com a cabeça, com o lábio torto de desagrado, mas se dando por vencida.

- A propósito, eu sou solteiro. - complementou o brasileiro, fazendo Megan rir. - Obrigada por me carregar na praia, aquilo foi muito heroico. - brincou, beijando-lhe o rosto e se despedindo. Depois de abraçar os rapazes (e as moças que compareceram para dizer adeus), subiram no ônibus novamente em direção ao aeroporto.

Era hora do próximo e último destino: Itália

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