Meg&Bea&Edwin

53 7 2
                                    

Megan acordou mais cedo que o habitual naquela manhã.

Sabia que dentro do outro quarto, uma amiga adormecia, esquecendo por alguns segundos a grande catástrofe que havia se tornado o seu dia especial. Megan agradecia mentalmente por tudo não ter acontecido exatamente no Domingo, mas ainda assim era sofrível. Beatrice pela primeira vez se apegava a alguém que não fosse a amiga e acreditava naquela relação. Se sentia confiante o suficiente para ser romântica e demonstrar todo o amor que sentia, por mais que fosse tímida. Cuidava dos preparativos do casamento com todo carinho, pois queria de fato que fosse especial. Um momento único, que jamais esqueceria. Megan também era solitária e sabia o que aquilo significava para Bea. Era uma nova vida, ao lado da pessoa amada. Era o que conversavam vez ou outra na adolescência e até mesmo na faculdade. Encontrariam almas suficientemente boas para compartilhar uma vida ou várias? Isso seria possível? Não eram samaritanas e sabiam bem de seus defeitos, mas queriam pessoas dispostas a se encaixar e somar. As vezes as duas pensavam que queriam demais. As vezes desejavam apenas esquecer tudo isso. As vezes de fato esqueciam, mas acabavam lembrando. Assim como do sorvete aos Sábados à tarde e dos jogos em Domingos chuvosos.

O chá dentro da caneca esquentava suas mãos, quando decidiu bebericá-lo. Havia deixado a mesa do café posta, pois queria que Bea comesse algo assim que acordasse. Talvez levasse um pouco de torradas e chá na bandeja, mas não queria atrapalhá-la. Queria que dormisse e se sentisse menos mal por algumas horas. Também queria pular daquela poltrona e bater novamente em John. Havia quebrado o nariz? Torcia para que sim.

Beatrice não lhe contou muito desde que deixara o apartamento. Trouxe uma mala praticamente vazia e um peso nos ombros maior do que podia carregar. Megan tentou ajudá-la de todas as formas. Pediu comida, preparou a banheira, deixou que bebesse um pouco de vinho antes de dormir e esperou. Acabou tensa com toda a história e perdeu o sono antes das cinco. Desde então observava a chuva bater na janela, de forma constante. A garoa não pararia tão cedo e agradeceu mentalmente. Assim os convidados poderiam mudar de ideia e não seria pior. Bea não precisaria encarar ninguém e muito menos fazer cara de desentendida quando alguma tia curiosa perguntasse sobre John.

Naquele momento, pensou em Dixie. E teve vontade de chorar também.

Certamente a cadelinha estaria por ali, verificando as duas e limpando suas lágrimas. Colocaria a pata em cima de cada mão livre e apertaria com as unhas, para confortá-las. Deixaria que deitassem a cabeça perto de sua barriga e dormissem, acolhidas. Era difícil viver em um mundo sem aquele animalzinho. Ainda assim, ela tinha feito seu papel durante todos esses anos e não poderia ficar mais. Por mais que desejassem e implorassem por sua presença. Agora tanto Megan quanto Beatrice tinham que continuar o caminho sem olhar para trás.

Foi nesse momento que uma lufada de ar estranha invadiu o ambiente, derrubando os folhetos de cima da mesinha. Megan se levantou, com uma sobrancelha erguida, indo arrumar a bagunça feita, quando novamente encarou a promoção da agência de viagens. Tinha segurado seu impulso pelo casamento de Beatrice, mas agora a melhor coisa que poderiam fazer era sumir. Era isso o que queriam e se podiam fazê-lo, não era pecado algum.

Megan não tirava férias do trabalho há algum tempo. Beatrice idem. As duas passavam por momentos difíceis. Os locais comuns sempre lembravam suas perdas e isso não podia ser saudável pra ninguém. Foi com esse pensamento que correu até a cozinha e começou a preparar panquecas. Com orelhinhas. Bea adorava essas coisas ridículas.

Encheu a bandeja com tudo o que achava gostoso e adentrou o quarto em que a amiga dormia, com um sorriso leve no canto dos lábios. Beatrice já estava de olhos abertos e se surpreendeu com a entrada da amiga, se sentando.

- Uau! Café na cama! - exclamou, com um sorriso fraco. Por mais que quisesse ficar bem e feliz de novo, ainda era difícil. Fora magoada no seu íntimo e não era fácil cicatrizar esse tipo de ferida. Eram tantas coisas juntas em sua mente que não conseguia nem mesmo parar para raciocinar. Estava flutuando no meio dos problemas e só queria que desaparecessem.

- É, mas não se acostuma que esse negócio de ser agradável não é comigo. - brincou Megan, rindo e pousando a bandeja na frente da amiga. Junto de toda a comida, o folheto da viagem se encontrava discreto abaixo da xícara de chá. Beatrice franziu o cenho, reparando e apontando, enquanto cortava um pedaço de panqueca.

- O que é isso? - perguntou, dando uma mordiscada na mesma. - Não me diga que o guardanapo acabou. - respondeu, encarando a amiga, boquiaberta. Megan era do tipo que esquecia completamente das coisas e não era novidade que fizesse gambiarras, só achava que aquilo já era demais. Antes que pudesse repreendê-la, Megan riu.

- Calma, ele tá ali, só coloquei o folheto pra você dar uma olhada. - respondeu, com um sorriso esperançoso. Queria que Bea tivesse o mesmo impulso que ela tinha no momento. Arrumar as malas, dar adeus a qualquer porcaria que não a fizesse feliz e fosse a luta. Só que conhecia a amiga. Era responsável. Nem mesmo ela faria tudo tão apressadamente. Gostava de tudo organizado, por mais que deixasse vez ou outra o guardanapo acabar.

- Meg... foi mal, mas não dá. Olha... eu tenho tanta coisa pra resolver que minha cabeça tá dando voltas. Convidados, despesas, explicações... ah, o pior ainda está por vir. - Beatrice desabafou, levando uma das mãos a testa, cansada. Megan a envolveu com um dos braços. - Qual é, Bea! Não precisa ser hoje. Você sabe que não te apresso em nada. - tentou acalmar a amiga, mesmo sabendo que enfrentava um dos piores términos de relacionamento de todos os tempos.

Teve vontade de bater em John mais uma vez.

E então lembrou-se de outra coisa.

Edwin era o melhor amigo de John. Pelo menos, foi o que o publicitário disse quando apresentou-os há um ano atrás. Não falava com o ex desde o término há três meses, mas sabia que não mudava muito as rotinas. Saía com John aos Sábados à tarde para jogar futebol, por mais que fosse péssimo nisso. Não lembrava de tê-lo visto nenhuma vez com as canelas machucadas. A primeira coisa que pensou ao ligar as coisas foi:

O cretino sabia.

Beatrice lhe disse que foram seis meses de relação. Não era difícil fazer as contas baterem. Canelas limpas, habilidade zero, tempo de sobra à tarde... Megan deixou Bea lendo o folheto e saiu de fininho do quarto, aumentando o passo a medida que a amiga a perdia de vista. Pegou o telefone e correu até o seu aposento, fechando a porta e discando enraivecidamente o número do ex namorado. Se mais alguém merecia apanhar, era ele.

- Seu desgraçado! Você sabia de tudo e nem pra me contar! - foi a primeira coisa que Megan falou ao ouvir o "Alô" tonto de Edwin como resposta. - E não, não pense em explicar nada, seu imbecil! Você sabe que ela descobriu tudo? Como assim explicar o que? Você acha que vai conseguir me enganar? A mim, Edwin? Sério? - Megan ficava cada vez mais raivosa, mas controlava o volume da voz para não chamar a atenção de Beatrice. Praticamente rosnava ao telefone e ficou mais nervosa ainda ao ver que o ex não diria nada que fizesse sentido. - É, sou eu. Bom dia pra você também. Quero saber porque não me disse que o John era um babaca e traía minha amiga com uma colegial. - Edwin ficou em silêncio por alguns instantes e Megan entendeu tudo.

- Bros, não é mesmo? Não pode colocar o amiguinho na berlinda. Mas pode me pedir em casamento mesmo sabendo de um absurdo desses! Se você soubesse o quanto quero te bater agora, estaria vestindo uma armadura e um martelo de guerra, ouviu Edwin? - a ameaça era clara. O ex permaneceu calado.

- Megan... preciso desligar. Depois nos falamos. - foi apenas essa a resposta que o jornalista proferiu antes de desligar o telefone e deixar Megan falando sozinha.

O telefone só não quebrou porque caiu em cima da cama.


Megan&BeatriceOnde histórias criam vida. Descubra agora