Ele era professor.
Era o que Beatrice pensava, enquanto se virava na cama em plena madrugada. Não conseguira pregar os olhos e o culpado de sua insônia tinha nome, endereço e nacionalidade.
James a intrigava. Divertiram-se muito durante a noite de karaokê e Megan nem mesmo se movia, de tão cansada. Já Beatrice não conseguia fazê-lo. Era impossível deixar de pensar nos olhos do rapaz, tão vazios e em seus lábios, tão mentirosos. Mentirosos, sim, pois escondiam a verdade de sua alma. Via seu sofrimento, por mais que não quisesse. Gostaria de ignorar os detalhes e apenas gargalhar como uma conquista qualquer, mas não podia. Ignorar era uma palavra desconhecida em seu vocabulário.
Queria poder ajudá-lo, mesmo que se tratasse de um desconhecido. Tudo isso por pura identificação. Sabia o que era sofrer. Não conseguia imaginar como estaria agora se não houvesse Megan para apoiá-la. Sentiu-se triste por vê-lo solitário, com olhos vazios e um bom humor ensaiado. Por mais que de fato a fizesse rir, naquele momento sentia-se estúpida. Como se James tentasse enganá-la, passando uma alegria que não estava lá.
Estaria neurótica? Por ter passado a pouco por uma experiência tão traumática, estaria enxergando mais do que de fato ocorria? Seu coração dizia que não.
Ao fechar os olhos, pode vê-lo novamente. Bonito, mas melancólico. Um rapaz perdido. Suspirou, dessa vez pensando em seus cabelos. Conseguia sentir o coração aquecer ao recordar deles. Forçou-se a lembrar de John, testando-se, mas acabou rindo. James não queria deixá-la. Naquele instante, teve o desejo imenso de tocá-lo. Seus lábios focaram-se em seu devaneio, mas quando aproximou-se o suficiente para tal, John tomou o lugar, segurando-a com uma gargalhada maligna.
Beatrice despertou no meio da madrugada, com Megan a observando, preocupada.
- Está tudo bem? Você começou a se sacudir na cama. - perguntou a amiga, fazendo Beatrice olhar ao redor, percebendo que aquilo não passava de um pesadelo. Sentou-se, respirando aliviada.
- Sim, estou bem. Só... tive um pesadelo. - confessou, fazendo a amiga se levantar da cama e rumar até o frigobar. De lá, trouxe uma garrafa d'água e a estendeu para Beatrice.
- Se lembra de algo? - perguntou Megan, fazendo a mais nova assentir com a cabeça, tomando um gole de água.
- James. Eu antes de dormir pensava nele. Tanto, que sonhei. - iniciou, fazendo Megan rir. - mas depois... John entrou na frente e me segurou. Foi horrível, é como se... se ele não me deixasse ir. - tentou explicar, com um semblante desorientado. Megan a abraçou.
- Vai ficar tudo bem. Ele não tem poder nenhum sobre você. Bea, não deixe que ele estrague o seu futuro. Ele já fez isso com dois anos da sua vida. - a mais velha aconselhou, fazendo Beatrice assentir com a cabeça, pensativa.
- Você tem toda razão, mas é estranho. Tudo isso. Não sinto mais amor por ele, mas tenho a sensação de que tenho uma corrente no calcanhar. Como se a qualquer instante ele fosse puxá-la. - Beatrice temeu, sendo novamente abraçada por Megan, que fez com que se deitasse.
- Ele não tem nem um fio de barbante, Bea. E se tiver, eu quebro de novo o nariz dele. - disse a mais velha, fazendo Beatrice rir. - Você não quebrou o nariz dele aquela vez. - contou, fazendo Megan dar um pulo da cama. - O QUEEEE??? - gritou, mas Beatrice gargalhou. A amiga reclamou por mais alguns minutos antes de pegar no sono. E as duas assim adormeceram.
- Você está linda.
Foi a primeira coisa que James falou ao encontrar com Beatrice no hall do hotel. Na noite anterior, ainda no karaokê, as duas amigas haviam combinado de jantar com o rapaz, mas Megan coincidentemente enviou Beatrice sozinha, pois estava indisposta. A mais nova sabia o que a amiga estava fazendo, mas não se opôs. Talvez fosse bom conversar a sós com o professor.
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Megan&Beatrice
Chick-LitAmigas. Até hoje não sabem desde quando. Talvez tivessem conversado pela primeira vez na fila do sorvete. Ou enquanto saíam da escola. Nenhuma delas lembrava com exatidão. Tanto Megan quanto Beatrice tinham um momento gravado na memória. Enquanto a...