Meg&Bea&Brasileiros

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Era sem dúvida uma bela manhã de Sol.

Megan e Beatrice colocavam pela primeira vez os pés na areia da praia. Barceloneta era muito conhecida e indicada, principalmente para os turistas, pela sua proximidade com o centro. Infelizmente, não era a mais bela praia da Espanha. Isso Megan e Beatrice descobriram rapidamente, já que não se sentiam tão à vontade para um mergulho como gostariam. Passaram toda a manhã debaixo de um quiosque, protegendo-se do Sol e observando outros turistas tão brancos quanto, caminhando pela praia. Nem mesmo o protetor fator 50 conseguia deixá-las tranquilas. Para piorar a situação, ficaram altamente envergonhadas quando garotas atléticas chegaram e as observaram de forma inusitada. Pareciam estar... debochando. Entre risos, resolveram mostrar suas habilidades esportivas correndo na areia. Lindas, descontraídas e sem saídas de praia, faziam as duas amigas se sentirem branquelas deslocadas. Megan, que nunca gostou de ficar por baixo, decidiu se levantar e correr pela areia. Beatrice a seguiu. Não eram as melhores esportistas, mas aquilo era um caso de honra. Não podiam ter seus dias na Espanha estragados por três pares de biquíni altamente abrasileirados.

- Não acho que seja uma boa hora para corrida. - comentou Beatrice, arfando e diminuindo o ritmo. Andavam a tanto tempo que a hora do almoço se aproximava e com ela, o Sol de meio-dia. Megan estava estranhamente silenciosa, com os lábios pressionados. Tinham ultrapassado as meninas e isso lhes dava certa dignidade. Beatrice franziu o cenho. - Você está bem? - perguntou, tendo a sensação de que a ideia de correr naquele horário não tinha sido tão boa quanto o imaginado.

Durona como sempre, Megan demoraria até que tentasse se esconder do Sol. Beatrice sabia disso, mas não quis deixá-la sozinha. Principalmente com as garotas no encalço. Ainda não sabiam dizer se eram turistas ou não, mas pareciam gostar da brincadeira e aceleravam a medida que Beatrice se sentia cansada. Continuou o percurso ao lado da amiga e tentava aumentar o passo, já que Megan não reduzia. Arfava mais do que corria e o chapéu de Sol a deixava mais acalorada do que nunca. Sentia os pés quentes pelo fervor da areia e agradecia por estar de chinelos. Arregalou os olhos quando percebeu que Megan havia esquecido os seus no quiosque.

- MEGAN! - gritou, estarrecida.

Correu atrás da amiga, segurando com dificuldade a bolsa, o chapéu e a canga, que teimava em atrapalhar. Se sentiu um pouco idiota por estar fazendo aquele tipo de competição e percebeu pelo semblante de Megan que a mais velha pensava o mesmo. - Vai, para com isso. Seus pés devem estar destruídos. Quem foi trocada por uma garotinha fui eu, esqueceu? - disse Beatrice, tentando convencê-la. As meninas ultrapassaram e Megan fez uma careta. - Que se dane! Vamos embora daqui! - disse de forma agitada, pulando com um pé para o outro, tentando se livrar das queimaduras.

De volta ao quiosque, Megan se refrescava com água gelada e Beatrice bebia um suco. - Se quer saber, você tem peitos maiores do que as três juntas. - disse Beatrice, tentando animar a amiga. - Seu cabelo é melhor tratado que o delas. - respondeu Megan, lhe lançando uma piscadela. As duas acabaram rindo e colocando seus óculos de Sol novamente.

Queimadas, exaustas e um pouco humilhadas, Megan e Beatrice retornaram ao Hotel. Famintas, sentiram longe o aroma do restaurante, que já havia liberado o almoço. Depois de banhos demorados e altas doses de creme hidratante, as duas amigas desceram aceleradas em busca de comida. Se atrasaram um pouco, mas conseguiram uma mesa ao fundo. Os problemas começaram no cardápio.

- Como esses caras não colocam nada em inglês? Não quero ser convencida, mas é universal! - reclamou Megan, injuriada, ao virar as várias páginas e não entender uma palavra. Beatrice se esforçava, tentando identificar qualquer coisa em espanhol que estudou na escola. - Isso tá mais difícil do que eu esperava. - comentou em voz baixa, fechando o cardápio e pensando. Não era possível que depois de anos ouvindo espanhol na escola, não fosse capaz de lembrar o básico. Ergueu o dedo ao lembrar de algumas palavras.

- Megan, acho que sei como se diz frango! - exclamou a mais nova, chamando a atenção da outra. - Pollo. Qualquer coisa no cardápio que tenha Pollo já sabemos o que é! - disse Beatrice, abrindo novamente o caderno e caçando alguma refeição. O garçom chegou antes que pudessem computar todas as opções. As duas moças estavam tão famintas que não perderam tempo e começaram a observar rapidamente o cardápio. Enquanto Beatrice pedia um frango com batatas, Megan cerrava os olhos escolhendo o seu prato.

- Meu senhor, eu vou querer esse daqui. Polla. - disse em um tom mais alto do que o normal, pois queria ser entendida. E foi. O garçom começou a gargalhar, assim como os homens da mesa ao lado, que nem tentaram disfarçar. Beatrice levou uma das mãos à testa, chocada.

- O que foi? Querem arrumar confusão comigo? - perguntou Megan, fechando a cara e observando os homens. Encarou o garçom e ele tentava prender o riso, mas não conseguia. Beatrice acenou levemente, para chamar a atenção. - Você disse Polla. Polla não é frango. Pollo que é. Polla... é pênis. - explicou a mais nova, controlando-se para não rir. Megan começou a abrir a boca, compreendendo o que de fato havia acontecido. Sentiu o rosto ruborizar, mas foi forte o suficiente para sorrir. Antes que pudesse dizer algo, um dos rapazes ao lado levantou-se e aproximou-se da mesa, olhando o cardápio que a mais velha tinha em mãos. - Ela quer o frango à espanhola. Certo, senhorita? - perguntou, com um sorriso agradável na face. Megan assentiu, respirando fundo. O garçom anotou e saiu rindo.

Já os vizinhos de mesa enxugavam as lágrimas, anestesiados com o deslize da garota. O que havia ajudado voltou para junto dos amigos, falando um idioma que não conseguiram reconhecer. Megan levou as mãos ao rosto, sentindo-se envergonhada, mas acabou rindo em seguida. Ela e Beatrice gargalharam por um tempo, fazendo coro aos homens ao lado, até que Megan ficou extremamente séria de uma hora para a outra. Os encarava com a cara fechada fazendo-os, aos poucos, cessarem o riso. O prestativo ergueu uma das mãos, como se pedisse desculpa.

- Sinto muito, mas nos pegou de surpresa. - explicou, tentando ser simpático. - Me chamo Fernando e esses são meus amigos, Roberto, Pedro e Henrique. Você deu azar, normalmente os cardápios aqui tem tradução em inglês. - comentou, pegando o que estava em sua mesa e esticando na direção das garotas. Megan o recebeu, folheando e percebendo que além de queimadas, estavam azaradas também. Pousou o menu na mesa.

- Estou começando a sentir falta de Paris. - confessou, cansada. Beatrice deixou os ombros caírem. - Eu também.

- Estavam em Paris? Meu amigo Roberto mora lá! A propósito, somos brasileiros. Vocês são de onde, Inglaterra? - Fernando puxou assunto, recebendo caretas como resposta. - Pelo sotaque, são irlandesas. - tentou Roberto, fazendo uma cara de especialista no assunto.

- Escocesas. E vocês, são do Rio? - perguntou Beatrice, folheando o cardápio e erguendo o olhar para os homens por um instante. A garota pode perceber claramente a diferença étnica na mesa. Enquanto Pedro era loiro e claro, passando-se facilmente por um inglês, Henrique e Fernando já tinham características mais latinas. Poderia jurar que eram espanhóis. Já Roberto era negro, mas o sorriso alegre claramente lhe arremetia ao Brasil, por mais que não conhecesse tanto sobre o país. Megan e Beatrice não conheceram nenhum brasileiro em Glasgow ou em qualquer outro lugar. Por serem de pouco assunto, achavam normal que tivessem poucas experiências com novos amigos. Principalmente os de nacionalidade distinta. Estavam começando a modificar isso na viagem.

- Temos uma diversidade aqui. - respondeu Roberto a pergunta de Beatrice, com um sorriso amigável. - Pedro é de São Paulo, Henrique de Campo Grande, Fernando do Rio e eu, abençoadamente, vim da Bahia! - disse de forma convencida, fazendo os amigos protestarem divertidamente. - Lá a rede é sinônimo de casa própria! - brincou Fernando, fazendo os outros dois rirem. - E no Rio ter o mesmo celular por um mês é recorde! - a resposta de Roberto fez com que Pedro e Henrique explodissem em gargalharam. Megan e Beatrice não entendiam bem as piadas, mas acharam interessante a animação dos rapazes. Sem dúvida os brasileiros eram alegres.

Durante o jantar, acabaram conversando mais assuntos. Megan aprendeu algumas palavras corretas em espanhol, enquanto Beatrice aprendia a localização de Campo Grande no mapa. Se divertiram com as histórias mirabolantes de Roberto e contaram um pouco sobre Glasgow aos rapazes. Tirando o baiano, que estava de férias, os outros três moravam há algum tempo em Barcelona. Por conhecerem o gerente do hotel, vinham jantar frequentemente. Por fim, satisfeitos e sonolentos, combinaram de se reencontrar na praia.

Por fim, o garçom conseguiu enfim encarar Megan sem rir. Principalmente porque a garota, ao recolher dos pratos, manteve a faca consigo até levantar da mesa. Beatrice escondeu o rosto de vergonha.

Ao chegarem ao quarto, gargalharam. Tanto, que pegaram no sono.

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