Estava desolada.
Beatrice se sentia quebrada novamente. Esforçou-se para manter John longe de seus pensamentos e quando pensou estar livre, foi novamente puxada para o fundo do poço. Nem mesmo em James conseguiu se segurar. O que o rapaz pensaria, depois de toda essa confusão? Foi mordido por um lunático que fingiu ainda ser seu noivo só para dificultar sua vida. Ao sentir a ameaça, John agiu de forma baixa, criando uma situação quase impossível de ser contornada. Sentia-se envergonhada por ser o motivo de toda aquela destruição.
Não estava em seu quarto. Pensou em ficar sozinha, mas teve medo. Imaginou que se ficasse apenas com seus pensamentos seria pior. Eles a julgavam, a deixavam triste e embaraçada. A advertiam todo o tempo, como se Beatrice tivesse culpa no ocorrido, mesmo sem dar um tapa. Devia ter dado. Devia ter continuado a bater em John quando ele tentou atacar Megan com uma bandeja. Tão covarde e tão vil... Como pode enganá-la? Estava cega?
James comprou chá para os dois e foi tomar um banho depois de toda a confusão. Estava imundo e precisava colocar a roupa para lavar. Beatrice, perto de todos, era a mais limpa. Mesmo com as calças manchadas, não havia se envolvido em nenhuma disputa. Mas seu interior estava sem dúvida pior do que o restaurante. Todas as suas tentativas de se reerguer foram em vão. Chegou a Paris quebrada e sairia da Itália da mesma forma. Nada adiantou. John a perseguiu e fez com que todas as suas lembranças maravilhosas fossem perdidas em um mar negro e cheio de horrores.
A animação de Ives, o heroísmo de Roberto, a gentileza de James... nada conseguia afastar o olhar doentio de John, a reivindicando como propriedade sua. Quando se veria livre desse monstro? Quando ele a deixaria em paz, nunca? Teria a chance de um dia se aproximar de alguém e ter uma vida normal ou estava presa em sua teia demoníaca? Era uma mosca as vésperas da morte e não sabia?
Lembrou-se dos amigos enfrentando um homem gigantesco e chorou novamente, envergonhada. Onde tinha se metido? John era melhor que aqueles bêbados agora? Se arrependia amargamente de tê-lo escolhido como salvador aquela tarde. Queria voltar no tempo só para desviar de seu caminho e entrar no café sozinha. Seria sem dúvida melhor. Pelo menos não seria vítima de um doente, que além de se prejudicar, dificultava a vida alheia.
Estava bem com James. Queria-o por perto e aceitou seu pedido para permanecer em seu quarto por um tempo. Era um cara legal, mesmo com olhos tão tristes. Estaria tão vazia quanto ele agora? Beatrice levantou-se do chão e caminhou até o espelho, observando seu semblante. Triste e pálido. Os olhos estavam inchados e vermelhos de tanto choro, assim como o nariz. Enxugou o rosto com as costas das mãos e pensou em sair, quando ouviu a porta do banheiro abrir.
James trajava uma toalha branca presa a cintura e deu um sorriso triste ao fitá-la. Beatrice correspondeu, voltando a se sentar no canto do quarto, com o copo de chá em mãos. O professor abaixou-se a sua frente, levando uma das mãos ao rosto de Bea, lhe acariciando.
- Tem certeza que não quer dormir? - perguntou, com um tom carinhoso. A menina balançou a cabeça negativamente. - Depois de tudo isso é capaz que tenha pesadelos. - respondeu, temendo a possibilidade. James sorriu, se levantando e se sentando na ponta da cama. Tocou a manta, como um sinal para que se sentasse ao seu lado. Beatrice levantou-se vagarosamente e se acomodou, o encarando.
- Desculpe pelo que fiz. - iniciou James, sentindo-se culpado. A escocesa balançou a cabeça negativamente, como se não acreditasse naquele pedido. - Você não precisa dizer isso! Fez o que qualquer pessoa com sangue nas veias faria! Viu a Megan? - lembrou, rindo um pouco e fazendo o professor rir também. - Eu sei, as opções eram poucas, mas podia ter me contido. É que... atualmente as coisas andam difíceis para mim. - explicou James, fazendo Beatrice rir ironicamente.
- Mais complicada do que a minha?
- Sim, muito mais. - respondeu o americano, tirando o chá das mãos de Beatrice e segurando-as com cuidado. - Como você está passando por um momento difícil e eu presenciei, acho que posso te ajudar a se sentir melhor. - iniciou, com um sorriso triste nos lábios. O professor encarou Beatrice de forma séria, respirando fundo antes de começar a falar.
- Quando eu tinha doze anos, minha mãe morreu. - iniciou, umedecendo os lábios. - Sobrou para o meu pai a tarefa árdua de me criar, um garoto sozinho que passava horas no piano. Nossa relação era ruim para não dizer péssima e eu me afastei de casa, já que não percebia no meu pai nada que me fizesse ficar. Ele costumava me ignorar na maior parte do tempo, então eu comecei a minha vida de viagens. Me formei, dei aulas em vários lugares, fiz de tudo para não voltar a América e estava em Londres, feliz, vivendo a minha vida. Até ele me telefonar. - pausou, prendendo a respiração por alguns instantes antes de continuar. - Ele queria me dizer algo e eu nunca vou saber o que era, pois ele faleceu no final de Julho. E desde então, eu tenho... tenho rodado por todas as cidades em busca de qualquer coisa que me deixe longe daqui. - disse, não conseguindo conter as lágrimas que escorriam por seu rosto. Respirou, se recompondo. - Comecei a beber. Eu nunca tive coragem de usar nenhuma droga pesada. O álcool tem me confortado desde então e eu não consigo parar. Quando você me encontrou, estava pronto para virar todos os tipos de bebidas possíveis e torcer para uma gangue me espancar. Era de fato o que eu queria. Eu... estava sozinho. E você apareceu e me olhou de uma maneira diferente. Isso me deu vontade de viver. De me ver novamente. O James que não bebia, que não... fazia merda por aí. Consegue entender o que você significou pra mim, Bea? Você é meu recomeço. - revelou, encarando-a novamente depois de tanto esconder as lágrimas. - Então por favor, não se sinta só. Não pense que só você tem problemas e que ninguém consegue compreendê-los. Eu posso fazer isso. Enquanto você me olhar da forma que me olha, posso fazer o que você quiser. - pediu, a abraçando. - Eu posso, Bea. Confie em mim. - sussurrou no ouvido da menina, voltando a encará-la. Antes que Beatrice pudesse dizer algo, James a beijou, segurando seu rosto de forma delicada.
Ele a queria, com qualquer defeito que pudesse possuir e isso aqueceu o coração de Beatrice a ponto de esquecer John. Seus pensamentos agora estavam presos aquele quarto, onde ela e James se apoiavam e se entregavam um ao outro.
E era apenas isso Beatrice queria naquele momento.
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Megan&Beatrice
ChickLitAmigas. Até hoje não sabem desde quando. Talvez tivessem conversado pela primeira vez na fila do sorvete. Ou enquanto saíam da escola. Nenhuma delas lembrava com exatidão. Tanto Megan quanto Beatrice tinham um momento gravado na memória. Enquanto a...