Beatrice&Megan&John

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- Meg...

- Oi, Bea, é você?

- S-sim, sou eu. E-eu... preciso de ajuda.

- Ajuda? Onde você tá? O que houve? Onde eu te encontro? Bea, fala alguma coisa!

- E-eu... não sei o que fazer... O John, eu encontrei ele na rua...

- O que houve? Ele não te ajudou? O que tá acontecendo, cacete? Estou saindo de casa!

- O J-john é o problema. Meg... eu não sei, tá tudo tão confuso.

- Bea, você bebeu?

- Não! Escuta... por favor, preciso que você me busque. Estou no nosso antigo melhor café.

- Ok, tô indo pra aí.

Quando Megan desligou o telefone, sabia que Beatrice precisava dela com urgência. Pegou o primeiro taxi que encontrou e nem mesmo pensou no trânsito que poderia encontrar no caminho. Em uma sexta-feira chuvosa, todos queriam ir para um lugar coberto o mais rápido possível e os congestionamentos não seriam raros. Ainda assim, discou novamente para a amiga, mas não conseguiu contato, o celular estava fora de área.

Enquanto Megan se dirigia para o café conhecido, Beatrice tentava, inutilmente, religar o celular. Precisava apagar tudo. Precisava fazer alguma coisa. Ela nem mesmo sabia o que, mas precisava. Queria colocar tudo em pratos limpos, mas ainda lhe faltava coragem. Tampouco queria acreditar que tudo o que avistara fora real. Pensou algumas vezes em esquecer e seguir adiante, mas era impossível. Viu o que viu e não poderia apagar da memória. John era um traidor, bajulador, mal caráter e tudo o que mais desprezava em um homem. A poucas horas, o amava. Continuava amando, mas não queria admitir. Era difícil se desamarrar de algo tão profundo. John sempre fora a sua fantasia no mundo real. Era o rosto que costumava pensar quando se sentia frágil e medrosa. Agora, não conseguia sequer pensar nele e não enjoar. Tomou mais uma grande caneca de café, antes que a amiga irrompesse pela porta, olhando ao redor de forma assustada.

Megan avistou Beatrice logo que focou na mesa que costumavam sentar. Há alguns anos, aquele era o lugar preferido das duas. Gostavam de conversar a sós e rir dos acontecimentos cotidianos, enquanto provavam dia após dia as bebidas do cardápio. Fizeram amizade com o dono e o mesmo encarou a moça com olhar preocupado. Megan seguiu até a mesa e se sentou ao lado da amiga, segurando a mão que tinha livre.

- O que está acontecendo, Bea? - perguntou, com um tom de voz preocupado e o cenho franzido. Sua voz estava grave e mais tensa do que gostaria. Beatrice não dizia uma palavra, apenas observava a caneca de café, sem emoção.

- O que houve? No que quer que eu te ajude? - insistiu a amiga, puxando a caneca para sua frente e sendo enfim notada.

- M-me leva pra casa? - pediu Beatrice, em tom choroso. Não queria dizer mais nada, principalmente naquele lugar. Por mais que amasse o café, o assunto que estava lidando era delicado demais. Precisava de um momento a sós com Megan e enfim poderia desabafar como queria.

Megan pagou o café e ajudou a amiga a sair, envolvendo-a com um dos braços. Manteve o semblante preocupado por todo o tempo, colocando Beatrice no banco do passageiro e pegando as chaves do carro. Detestava dirigir, mas fez o esforço. Via a perturbação da amiga claramente e começava a ficar raivosa pelos motivos, mesmo sem saber.

- Vai me dizer o que está acontecendo ou vou ter que te levar no centro de hipnose? - perguntou já de mau humor, tamborilando o volante com os dedos enquanto o sinal estava fechado. Já tinha visto sua amiga em situações de tristeza, mas aquilo parecia realmente sério. Começava a se sentir mal por ela e ao mesmo tempo raivosa. Odiava quando o mundo era ingrato com Beatrice. Por mais que soubesse que isso ocorria todos os dias com todas as pessoas, a amava, e sabia que era gentil demais para ser ingrata de volta.

Quando Beatrice começou a chorar desesperadamente, achou melhor estacionar o carro.

Ficaram cerca de cinco minutos com o carro na beira da via. Megan deixou que Beatrice utilizasse seu ombro como apoio de cabeça e pia, pois sentia todas as lágrimas no suéter. Acariciou os cabelos da amiga por um tempo, dando o tempo necessário para que pudesse dizer algo que fizesse sentido. Até que finalmente, Beatrice pareceu disposta a começar.

- E-eu hoje... fui até... estava indo para o cabeleireiro. - começou, fungando. - Só que lembrei do buquê e mudei o percurso. Ele devia saber... por isso estava ali. - Beatrice falava tanto para Megan quanto para si mesma e isso chamou a atenção da amiga. - Ele quem, Bea? - perguntou Megan, sentindo a voz pesar mais uma vez. - John! Eu... eu estava no sinal e ele passou. Atravessou a rua com uma garota nova e... eu os segui! - continuou Bea, com aflição na voz. Megan esperava, em silêncio.

- Parei numa banca, comprei uma revista, vi os dois. Ele e a garota... Meg... ele estava totalmente diferente! - Beatrice tentava explicar o que havia visto, mas não conseguiu tirar nenhuma foto para detalhar. Achou melhor continuar. Ergueu a cabeça e encarou a amiga, enxugando o rosto com as costas das mãos. - Ele... beijou a garota. Na boca. Não era irmã, não era prima, não era porcaria nenhuma! Era uma garota de, sei lá, dezoito anos? Dezessete? Quinze? Eu não sei, mas sei que meu noivo... meu Deus... porque logo ele? - Beatrice tentava enervar a voz, mas se sentia triste demais até mesmo para isso. Queria desaparecer e não ter que lidar com aquela situação. Na verdade, queria voltar no tempo e ter agarrado outro homem pelo braço. Um honesto.

Naquela altura, Megan já ligava o carro novamente.

- O-onde você vai? - perguntou Beatrice, confusa. Megan acelerou. - Tenho umas coisinhas pra resolver com seu namoradinho. - disse, fazendo a amiga arregalar os olhos.

- M-Megan, não! Olha, por favor, você vai acabar se machucando! - iniciou Beatrice, nervosa. - Você tem uma arma aí, por acaso? - perguntou esperançosa, fazendo Megan soltar uma risada.

Beatrice tentou fazer a amiga mudar de ideia. Deu alternativas como bonecos de voodoo, macumba e até mesmo centros espíritas, mas Megan não escutou. Quando parou o carro em frente ao prédio do casal, praticamente obrigou Beatrice a subir e fazer as malas. Sabia que John estava no escritório e rumou para lá logo em seguida.

- Oi, Megan! O que está fazendo aqui? Alguma coisa com a Bea? - perguntou John, já na garagem, encarando a amiga da noiva de forma surpresa. Nunca havia recebido visitas aquela hora, principalmente de Megan. Naquele dia em especial, estava com o carro novo que comprara especialmente para a nova vida que iria construir com Beatrice. Pelo menos, fora isso que tinha dito para todos.

Megan forçou um sorriso, fingindo estar completamente calma. - Oi, John! Então, Beatrice perguntou se você poderia me levar até o novo apartamento do Edwin. Como só você sabe o caminho, talvez pudesse me ajudar. - mentiu, com um sorriso agradável nos lábios, fazendo o noivo da amiga se surpreender e sorrir. - Uau! Resolveu então correr atrás do prejuízo? Opa, brincadeirinha! - disse John, rindo e desarmando o alarme do carro. - Entra aí, eu te levo. - disse, abrindo a porta e esperando por Megan.

O que veio a seguir nem ele e nem o Astro poderia prever.

Nem mal entrou no carro, Megan utilizou uma das mãos para empurrar com toda força a cabeça de John em direção ao volante. Após a pancada, o rapaz ficou extremamente atordoado, tomando um puxão e pisões. Megan saiu pela porta do motorista e para finalizar, chutou-lhe as bolas, fazendo-o gritar de dor. O airbag acionou.

- Esse seu carro é uma bosta. Você é uma bosta. E na próxima vez que bancar o High School Musical por aí eu te meto uma bala nessa cara, tá me ouvindo? Fique longe da Bea! - finalizou, fechando a porta nas pernas de John e ouvindo-o gritar dentro do carro.

- VOCÊ É LOUCA, EU VOU TE PROCESSAR!

- Me processa! - disse por fim, girando a chave do carro no dedo e saindo da garagem.


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