Capítulo 2

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Passo pelo portão principal e antes de ir para o auditório decido visitar o meu novo quarto.

Pelo caminho vou olhando para os alunos, que estão agora em grupos nas zonas do relvado, da fonte e das escadas, e vejo algumas alunas com um uniforme igual ao meu, o que faz com que me pergunte se serão da minha turma.

Acho que tudo seria mais fácil se estivesse a entrar para o primeiro ano, onde a turma é completamente nova e todos são obrigados a se conhecer uns aos outros pela primeira vez, mas o mais provável é que vá entrar para uma turma já formada no ano passado, cheia de grupinhos e onde toda a gente se conhece uns aos outros menos a mim.

Depois de chegar ao quarto, cansada de tanto subir, vejo que a porta não está fechada, por isso bato e pergunto se lá está alguém.

— Já vai! — grita do outro lado. — Já vai!

No total deve ter alojamento para uns duzentos alunos aqui. Para além disso, os quartos do primeiro ano são triplos e os dos dois anos seguintes duplos, mas é claro que há exceções, como é o caso dos quartos individuais, que para ter um basta investir um pouco mais quando se vai fazer o pagamento mensal.

A porta abre-se, e uma jovem da minha idade e com um uniforme igual ao meu vira-se para mim. Tem quase a minha altura, porém é um pouco mais baixa. O cabelo comprido castanho-escuro está apanhado num rabo-de-cavalo, e a pele é muito clara e lisa, sendo que o que mais sobressai são os enormes olhos de um azul pálido.

— És a Daniela? — pergunta-me rapidamente em português.

— E tu és?... — respondo confusa.

— Mila Mendes, prazer! O meu pai falou-me de ti. — Vira-se de novo para o quarto. — Anda, podes entrar!

— Obrigada — respondo ao perceber que é a filha do chefe do meu pai. — Então e já aqui estás desde quando?

— Cheguei há uns minutos também. Estava só a arrumar o que tinha trazido. — Fecha uma mala e põe-na numa das gavetas ao lado da cama. — Já agora, aqueles cremes e maquilhagens na casa de banho são teus?

— Sim, são, desculpa! — Esqueci-me de os arrumar, por isso acabaram por ficar em cima da bancada. — Desculpa tê-los deixado ali desorganizados.

— Ah, não tem problema! — Aproxima-se da porta. — Acho que devíamos ir para o auditório.

— Já nem me lembrava disso, vamos!

Antes de sairmos da divisão, ela dá-me uma chave e diz-me que é a da porta do nosso quarto. Depois tranca-a, e seguimos em frente.

A entrada para o auditório fica no primeiro andar, numa zona por trás das escadas que dão para o segundo piso, e está situado na parte traseira do edifício.

Assim que chegamos, percebemos que já está cheio de alunos, todos distribuídos pelo ano em que estão. Os mais novos estão à frente, nas quatro primeiras filas; os do meu ano nas a seguir, ocupando também quatro filas; e os mais velhos nas filas depois das nossas.

Ocupamos dois lugares livres ao lado um do outro e esperamos que comece a apresentação.

Aquele auditório lembra-me mais um teatro, tanto que acredito que possa ser também usado para tal. O palco tem umas cortinas vermelhas abertas, e no centro está uma mesa comprida com cinco cadeiras, alguns microfones, copos de água e papéis que provavelmente identificam a quem pertencem os lugares, mas à distância que estão é impossível perceber o que dizem.

Acho engraçado as cores dos uniformes estarem evidenciadas pelas divisões dos anos nas filas, dando a imagem de três linhas; uma azul, uma vermelha e uma preta e branca.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora