Capítulo 16

483 46 0
                                    

Os outros dois pegam-na ao colo, e subimos até ao corredor dos rapazes. Durante todo esse caminho sou incapaz de dizer alguma coisa, e eles acabam por não dizer nada também, criando assim um silêncio constrangedor. A verdade é que preciso de um tempo para pensar em tudo o que aconteceu e acredito que eles também precisem.

Só me ocorrem perguntas. Demasiadas perguntas.

— Deita-a aqui — ordena-lhes o rapaz dos caracóis ao entrarmos no quarto do Sheldon, apontando para uma cama que presumo que seja a dele. Desde que a pegaram ao colo que ela não lhes disse nada, por isso assumo também que ainda esteja inconsciente.

— Que fazemos agora? — pergunto enquanto nos sentamos à volta dela. Nota-se muito melhor com esta luz a palidez que tem, e está tão serena como se estivesse, simplesmente, a dormir.

Eles voltam o olhar para mim e fazem uma expressão de incerteza. Sabem tanto ou menos que eu.

O Sheldon cruza os braços, encosta-se à porta e comprime os lábios, enquanto fixa o olhar na jovem, provavelmente à procura de respostas.

— Por que não começas por nos explicar o que aconteceu para ficares lá fechada? — pergunta-me friamente e fixa-se agora em mim à espera que lhe responda. Está tão sério que até eu fico confusa. Este é o Sheldon que conhecia, antes de propriamente o conhecer. E é também, basicamente, o Sheldon que toda a gente conhece. Pelo menos essa é a ideia que tenho.

— Daniela? — A voz dele interrompe-me o raciocínio.

— A porta fechou-se — respondo.

— Fechou-se? Assim, sem mais nem menos?

— Sim, ou alguém a fechou. — Volto a fixar-me nele.

Ele vira-se de novo para a aluna. Que Sheldon é este? É como se nunca nos tivéssemos conhecido.

Faz uma expressão trancada e volta a cruzar os braços.

— O que é que te lembras daquela noite? — Volta a insistir de forma frontal e direta, sem sequer hesitar.

— Tem calma, mano — diz-lhe o rapaz de caracóis ao perceber a agressividade nas palavras dele.

Ele nem sequer lhe responde e fixa-se de novo em mim. Estou a sentir-me tão mal com tudo isto, mas não posso chorar agora.

Por favor, agora não.

Engulo o choro e fixo-me no Sheldon com uma postura muito mais confiante.

— A culpa de ela estar aqui é tua, sabes? — Olho bem dentro dos olhos dele com frieza e desprezo. — Fizeste-me ir de encontro a um assassino, um psicopata.

— Tu viste-o? — pergunta-me o rapaz asiático.

— Foi ele — respondo-lhe, tentando controlar o choro com muito mais força. — Foi ele que me fez esquecer de tudo.

— Como? — pergunta o Sheldon. A confiança que tinha é agora substituída por um ar assustado.

— Aquele monstro espetou-me uma seringa no pescoço. Não faço ideia do que me deu, mas fez com que não me lembrasse de nada até agora.

— E ela? — insiste o Sheldon, apontando para a jovem. — O que é que te lembras sobre ela?

— Foi ela que me salvou... E talvez tenha sido por isso que foi apanhada em vez de mim.

Eles olham para mim chocados, e continuo:

— Quando cheguei àquele sítio imundo, decidi logo vir-me embora. E era exatamente isso que ia fazer, até ela vir a correr na minha direção a tentar fugir também. — Faço uma longa pausa para pensar no que aconteceu a seguir e suspiro. — O homem apanhou-me, espetou-me com a seringa e pegou-me ao colo para me levar lá para dentro. A minha sorte... — Arrependo-me rapidamente de dizer sorte, porque esta situação de sorte não tem nada. — A minha salvação foi ela ter vindo de novo ter comigo para lhe atirar com pedras de forma a libertar-me. Ele irritou-se com isso, atirou-me para o chão e foi a correr em direção a ela, e durante esse tempo fugi e corri o mais que pude. — Respiro fundo e termino olhando para eles fixamente: — Foi isso.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora