Capítulo 3

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— Então e agora? — pergunto à Mila assim que as luzes se voltam a ligar.

— Agora não sei. Queres ir dar uma volta? — Vira-se para mim, enquanto nos levantamos das cadeiras.

— Anda.

Toda a gente resolve sair do auditório ao mesmo tempo, e acabamos por empurrar sem querer um monte de pessoas.

— Também é o teu primeiro ano aqui? — pergunta-me a Mila à medida que subimos as escadas para o segundo piso.

— Sim, é — respondo.

Viramos para a sala de convívio e sentamo-nos num sofá ao pé duma janela com vista para a entrada da escola.

A sala de convívio tem uma mesa de snooker no centro onde alguns rapazes do último ano estão a jogar e ainda uma secretária com um computador antigo e uma aparelhagem. Na parede estão molduras de fotografias antigas da escola a preto e branco. Numa delas vejo a diretora, muito mais jovem que agora, a entregar um diploma a um aluno, e noutra a entrada antiga do edifício antes mesmo de ter a fonte.

— Os teus pais são de cá?

— Não — respondo-lhe. — E os teus?

— A minha mãe nasceu cá, mas mudou-se para Portugal onde conheceu o meu pai. Depois casaram-se, nasci eu e o meu irmão e acabámos por voltar aqui.

— Isso significa que tens dupla nacionalidade?

Os meus pais já tinham pensado em fazer-me uma se continuarmos a viver em Inglaterra.

— Exato. Tu não tens?

— Nem por isso. Só vim para cá há um mês.

Ela parece surpreendida.

— Interessante. — Nesse momento vira-se para mim de novo e pergunta: — Queres segui-las para ver onde vão? Não conheço nada aqui perto.

Percebo que está a falar de um grupo de alunas que conseguimos ver pela janela e que estão a sair da escola.

— Anda primeiro ao quarto tirar o uniforme e depois vamos — respondo, pois não estou nada habituada a este tipo de tecidos.

Depois de mudarmos de roupa e de descermos até à entrada, escolhemos seguir um grupo de cinco alunas do nosso ano e passamos o cartão antes de sair. Porém, assim que atravesso o portão, uma rajada de vento dá-me um arrepio, e fico arrependida por não ter trazido o casaco.

À medida que descem a rua, percebo que vai dar a uma vila à qual se chega rapidamente a pé, e depois de virarem em alguns prédios entram num centro comercial.

— Parece que já conhecemos mais um sítio — comento disfarçadamente com a Mila para que elas não nos oiçam.

— Se tivesse trazido dinheiro, podia aproveitar para comprar alguma coisa. — Suspira.

— Pois, também não vim com nada atrás.

— Já está a ficar tarde, queres voltar para a escola?

— É melhor. — Já estava a pensar nisso quase desde que saímos, mas achei melhor não dizer nada.

Quando chegamos novamente ao internato já é quase meio-dia, por isso dirigimo-nos ao refeitório para almoçar. No entanto, assim que nos aproximamos dele, uma empregada de limpeza vem ter connosco e avisa-nos que temos que vestir o uniforme, caso contrário não seremos servidas.

— A sério que isto era necessário? — protesto com a Mila ao voltar ao quarto.

Quando nos aproximamos de novo do refeitório, já com os uniformes vestidos, vemos que há agora uma fila enorme do lado de fora.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora