Capítulo 23

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— Daniela — murmura ainda tão perto que consigo sentir a sua respiração.

— Era melhor não termos feito isto.

— Como assim? — pergunta-me, ao afastar-se, e fixa o olhar de novo em mim.

— Não sei, Rúben. Não me parece o mais correto.

A expressão dele ganha contornos de arrependimento.

— Achas que é cedo demais?

A minha resposta limita-se a abanar a cabeça em sinal de afirmação, e voltamos a concentrar-nos no que estávamos a fazer. Passado quase uma hora, começamos a ficar preocupados.

— E agora? — pergunto, sem saber o que fazer.

— Achas que ela se perdeu?

— Não sei, mas tenho um terrível pressentimento acerca disto.

— Queres chamar a polícia?

— Não! — respondo. — Isso seria a última das opções.

— Então o que fazemos? — pergunta-me novamente. — Só lá vou a baixo se vieres comigo.

— Vamos.

— A-a sério? — pergunta, surpreendido com a minha reação imediata. — Agora?

— Sim — respondo já rodando a maçaneta da porta.

As escadas estão tal e qual como me lembrava. As paredes continuam com a mesma textura e húmidas, assim como o cheiro a bolor e a mofo.

— Que sítio é este? — pergunta-me o Rúben.

— É a parte da escola que mais ninguém conhece.

Aproximamo-nos da porta ao fundo do corredor, e assim que a minha mão toca na maçaneta um arrepio percorre-me o corpo.

— Então? — comenta o Rúben ao notar a minha súbita reação àquele momento.

— Não é nada.

Abro a porta, e rapidamente sentimos a corrente de ar a passar por nós por termos deixado a porta lá de cima, que usámos para entrar, aberta. Peço ao Rúben para a ir fechar, e quando ele volta entramos naquele corredor.

É tão comprido que dificilmente conseguimos ver o que está lá no fundo. Há um número imenso de portas, mas todas estão fechadas e é impossível vermos o que está por trás delas.

— E agora? Procuramos-a? — pergunta-me o Rúben em frente a uma das portas fechadas.

Peço-lhe que fique nessa mesma porta enquanto procuro onde está a Cecilia, de forma a que, caso alguém apareça para além de nós, o Rúben me consiga avisar a tempo de fugirmos.

Ele diz-me que isso pode não ser boa ideia, porém, tendo em conta a situação, é incapaz de me propor algo melhor.

Começo por abrir a primeira porta, que está à nossa frente. Cada uma tem um número por cima, que começa no um e vai até lá ao fundo. Como seria de esperar, a primeira porta abre-se facilmente, porque é bem provável que estejam todas destrancadas.

Afinal, para que serviria trancar portas num sítio onde ninguém passa?

Abro-a e verifico que é uma sala que mais me lembra uma sala de espera, com uma mesa no meio e várias cadeiras azuis de plástico gasto à volta.

Enquanto olho para todos os detalhes com extrema atenção, o Rúben entra também comigo.

— Uma já está — comento ao passar para a próxima sala.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora