Capítulo 17

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Acordo com uma dor de cabeça demasiado forte para me conseguir levantar. Sei que já são horas de sair da cama porque ouvi o despertador da Mila e logo depois ela a levantar-se para ir à casa de banho, mas é como se o meu corpo me estivesse a pedir para voltar a dormir.

Sim, é quase assim todas as manhãs; mas, por algum motivo, hoje é mais difícil. Talvez seja por culpa da noite de ontem. Custa até crer que já passou uma semana desde que as aulas começaram.

— Não achas estranho? — murmura-me a Mila quando sai da casa de banho e ao ver que já estou acordada.

— O quê? — pergunto com uma voz típica de quem acabou de acordar.

— Não sei, tudo isto...

— Como assim? — volto a perguntar enquanto me sento na cama e esfrego os olhos.

— Tudo o que aconteceu agora... Já pensaste no quanto improvável é? — Claro que já tinha pensado nisso, talvez até demasiadas vezes.

— Realmente... Se à um ano me dissessem que ia acabar por ir viver para Inglaterra e estudar num internato privado, acho que ia rir de tão absurdo que parecia ser.

— E não é só isso... Isto não é um internato qualquer. — A voz dela treme ao dizer-me isto.

— Sim, mas...

Acaba por me interromper:

— Daniela, não te entendo. Juro por tudo que já tentei perceber, mas parece-me impossível. — O tom de voz torna-se mais forte e inconsistente.

— De que estás a falar?

— A tua forma de reagir... é como se nada te abalasse. — Depois de dizer isto, fixa-se em mim à espera de resposta.

— Han? Que queres dizer com isso?

— Parece que não sentes medo...

— Oh, isso não é verdade.

— Mas juro que parece. — Dito isto continua a arrumar as roupas.

Não percebo o porquê de ela me dizer tal coisa, ou, por outro lado, talvez até perceba. A verdade é que a minha motivação está na curiosidade que tenho de saber o que está a passar. O medo é só uma consequência disso, e se não o superar nunca vou descobrir o que se passa.

Pensando bem, o mais provável é que ela não me perceba porque nunca teve que fazer grandes mudanças na vida dela e prefere a segurança de não arriscar.

Se, por algum motivo, os meus pais não tivessem arriscado em emigrar, nada disto teria acontecido. Não haveria Mila na minha vida, nem Sheldon, nem Rúben, nem esta escola e muito menos todas as emoções que passei em apenas uma semana.

Arriscar é a base de todo o sucesso ou de todo o fracasso.

— Anda — digo antes de sairmos e trancarmos a porta para ir tomar o pequeno-almoço.

Não encontro o Sheldon nem nenhum dos amigos dele antes de ir para as aulas. Decido também não lhe enviar mensagem a perguntar onde estão.

Durante toda a manhã não me sai da cabeça o que a Mila me disse.

Até que ponto é que tudo o que aconteceu não me afeta?

A hora de almoço chegou a um ritmo extremamente rápido, porque passei a maioria das aulas a pensar na noite de ontem mas, principalmente, na forma como o Sheldon me tratou.

Não percebi o motivo e talvez nunca vá perceber.

De qualquer forma, sabia que me ia ter que cruzar com ele no clube de teatro, mas o destino encarregou-se de o colocar na biblioteca, exatamente, à hora que eu e a Mila lá chegámos, entre o almoço e o clube.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora