Capítulo 14

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Depois do clube, decidimos ir jantar mais cedo para termos mais tempo para fazer os trabalhos de casa. Sim, porque temos trabalho de casa, e não são poucos. Para além de que aqui usam a desculpa de que podíamos tê-los feito porque estávamos obrigatoriamente na escola e porque temos imenso tempo livre sem atividades escolares. No entanto acabamos por ficar tão aborrecidas com aquilo que decidimos deitar-nos mais cedo, já que também acordámos mais cedo hoje do que o normal.

Subitamente, começa a chover como se não houvesse amanhã; sorte para mim, que adoro o som da chuva, mas azar para a Mila, que acha este som desconcertante.

Passado o que me pareceu ser uma infinidade de tempo, consigo finalmente adormecer, contudo a verdade é que não durou muito tempo, porque logo algo me faz acordar.

Faço um esforço para perceber quem é que está a respirar assim e que me parece ser a Mila.

— Passa-se alguma coisa? — pergunto, preocupada. Pode ter a ver com o tornozelo ou assim.

— Isso digo-te eu — murmura.

— Não és tu que estás a respirar assim?

— Não — responde antes de ligar a luz do quarto e perceber que não está aqui mais ninguém para além de nós.

— Também estás a ouvir? — pergunto agora mais assustada.

Um grito abafado fora do nosso quarto cria um clima de suspense.

— Sim, — responde-me com um ar de pânico — e agora?

O som parece vir-me dos andares de baixo, e é impossível sermos as únicas a ouvi-lo.

Abro a porta do quarto e vejo que umas alunas que têm o quarto delas perto do nosso também estão no corredor.

— Estão aqui por causa dos gritos? — pergunto ao apontar para o lugar de onde me parece vir o som.

Elas assentem com a cabeça, e avanço até às escadas que temos em comum com os rapazes e que vai para o andar de baixo. Está lá um grupo de quatro rapazes, que me parecem ser mais novos que eu, e que nos perguntam-nos se sabemos o que se está a passar. Como seria de esperar, também não fazem ideia do que isto seja.

— Está lá alguém em baixo? — questiono, enquanto me inclino para tentar ver alguma coisa.

— Foram uns quantos alunos mais velhos ver o que se passa, mas ainda não voltaram.

O andar de baixo está totalmente às escuras, e a Mila decide ficar cá em cima à minha espera. No entanto é claro que implicou imenso comigo por eu pensar sequer em descer.

— Não queres mesmo vir? — insisto, e ela faz um sinal de negação com a cabeça ainda assustada. Não sei como, mas consegue ficar ainda mais pálida quando está assim.

Com o máximo cuidado possível, desço as escadas.

— Está aí alguém? — grito, à medida que avanço para a frente no corredor do refeitório, e o som torna-se mais forte. Um candeeiro antigo no teto ilumina-me o caminho.

Oiço o som de um trovão, e a luz do relâmpago ilumina todas as janelas com vista a rua.

Só me faltava esta.

— Alguém? — volto a gritar quando me encosto a uma porta para a tentar abrir, mas está fechada.

Aquela escuridão começa a deixar-me desconfortável, e sinto as palmas das mãos a ficarem suadas de estar tão nervosa. Não devia estar assim porque sei que só vai piorar tudo, mas não consigo controlar-me.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora