Depois do clube, decidimos ir jantar mais cedo para termos mais tempo para fazer os trabalhos de casa. Sim, porque temos trabalho de casa, e não são poucos. Para além de que aqui usam a desculpa de que podíamos tê-los feito porque estávamos obrigatoriamente na escola e porque temos imenso tempo livre sem atividades escolares. No entanto acabamos por ficar tão aborrecidas com aquilo que decidimos deitar-nos mais cedo, já que também acordámos mais cedo hoje do que o normal.
Subitamente, começa a chover como se não houvesse amanhã; sorte para mim, que adoro o som da chuva, mas azar para a Mila, que acha este som desconcertante.
Passado o que me pareceu ser uma infinidade de tempo, consigo finalmente adormecer, contudo a verdade é que não durou muito tempo, porque logo algo me faz acordar.
Faço um esforço para perceber quem é que está a respirar assim e que me parece ser a Mila.
— Passa-se alguma coisa? — pergunto, preocupada. Pode ter a ver com o tornozelo ou assim.
— Isso digo-te eu — murmura.
— Não és tu que estás a respirar assim?
— Não — responde antes de ligar a luz do quarto e perceber que não está aqui mais ninguém para além de nós.
— Também estás a ouvir? — pergunto agora mais assustada.
Um grito abafado fora do nosso quarto cria um clima de suspense.
— Sim, — responde-me com um ar de pânico — e agora?
O som parece vir-me dos andares de baixo, e é impossível sermos as únicas a ouvi-lo.
Abro a porta do quarto e vejo que umas alunas que têm o quarto delas perto do nosso também estão no corredor.
— Estão aqui por causa dos gritos? — pergunto ao apontar para o lugar de onde me parece vir o som.
Elas assentem com a cabeça, e avanço até às escadas que temos em comum com os rapazes e que vai para o andar de baixo. Está lá um grupo de quatro rapazes, que me parecem ser mais novos que eu, e que nos perguntam-nos se sabemos o que se está a passar. Como seria de esperar, também não fazem ideia do que isto seja.
— Está lá alguém em baixo? — questiono, enquanto me inclino para tentar ver alguma coisa.
— Foram uns quantos alunos mais velhos ver o que se passa, mas ainda não voltaram.
O andar de baixo está totalmente às escuras, e a Mila decide ficar cá em cima à minha espera. No entanto é claro que implicou imenso comigo por eu pensar sequer em descer.
— Não queres mesmo vir? — insisto, e ela faz um sinal de negação com a cabeça ainda assustada. Não sei como, mas consegue ficar ainda mais pálida quando está assim.
Com o máximo cuidado possível, desço as escadas.
— Está aí alguém? — grito, à medida que avanço para a frente no corredor do refeitório, e o som torna-se mais forte. Um candeeiro antigo no teto ilumina-me o caminho.
Oiço o som de um trovão, e a luz do relâmpago ilumina todas as janelas com vista a rua.
Só me faltava esta.
— Alguém? — volto a gritar quando me encosto a uma porta para a tentar abrir, mas está fechada.
Aquela escuridão começa a deixar-me desconfortável, e sinto as palmas das mãos a ficarem suadas de estar tão nervosa. Não devia estar assim porque sei que só vai piorar tudo, mas não consigo controlar-me.
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O Mistério do Internato
Mystery / ThrillerDaniela vê-se aos 16 anos obrigada a emigrar para Inglaterra e a estudar num internato. Porém, no meio de novas amizades, novas paixões e revelações, percebe que há algo de diferente naquele lugar. E tudo passará a ser posto em causa a partir do mom...