Capítulo 4

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Vou abrir a porta, e surpreendo-me ao ver à minha frente o Rúben.

— Vim buscar-vos para irem dar uma volta — diz como se não fosse nada.

— A Mila não está aqui — respondo.

Ele fica atrapalhado e volta a passar a mão no cabelo.

— Se quiseres, podes vir só tu. — Encolhe os ombros e vira-se para mim à espera de resposta.

— Que tipo de proposta é essa? — Faço uma expressão desconfiada e vou acabar de dobrar o uniforme para o guardar no armário. — Nem sei como é que consegues vir ao corredor das alunas sem seres apanhado.

Essa regra foi uma das que a diretora da escola nos disse na apresentação aos alunos. Os rapazes não podem vir ao nosso corredor, e nós não podemos ir ao deles. Se os empregados ou os seguranças apanharem alguém, ligam para os pais e põem-lhe um processo disciplinar em cima.

Apesar de não nos terem dito o porquê, é fácil perceber o motivo dessa regra existir.

— É simples. — Ele olha para os lados, provavelmente a ver se não aparece ninguém, e depois vira-se de novo para mim. — Fiquei à espera que a empregada viesse bater à tua porta e entrasse num dos quartos a seguir ao teu. Não achaste estranho ela obrigar-te a abrir a porta? Só fez isso porque percebeu que estavas no quarto e queria confirmar que não estava mais ninguém contigo.

— Vejo que alguém já anda informado.

— É só para evitar possíveis acidentes, mas se não vieres agora comigo, ou se não me deixares entrar, ela vai acabar por sair do quarto em que está agora e ver-me aqui.

Viro-me para ele. Já não tem o uniforme vestido mas sim umas calças justas brancas, uma t-shirt preta e um casaco de desporto.

— Então, vens ou não?

E, sem saber muito bem porquê, aceito ir com ele.

Saio e tranco a porta, já que a Mila também tem a chave. Depois, corremos juntos para fora do corredor e vamos ter à entrada do edifício. A esta hora são menos as pessoas que estão no pátio, pois a maioria está no refeitório, ou na biblioteca e nas salas de convívio, o que nos ajuda.

Entretanto ficou de noite e só se consegue ver alguns vultos por causa dos candeeiros, e a chuva também parou.

Sinto uma leve brisa a bater-me no rosto e arrependo-me mais uma vez de não ter trazido casaco. Para além disso, a minha camisa branca não está a ajudar com este tempo.

Porquê que tenho casacos, se nunca os levo quando preciso?

— Estamos a ir ter com alguém? — pergunto, enquanto dou um jeito ao meu cabelo que por culpa do vento e da humidade não está grande coisa.

— Quero te mostrar um sítio — diz em voz baixa, à medida que o sigo para trás da escola.

— Espero bem que esse sítio não fique nas tuas calças, ou assim! — digo rapidamente.

Ele ri-se. — Não, não fica. Podes ficar descansada.

Assim que chegamos ao muro, que fica por trás do edifício, ele salta para cima dele e começa a subir a rede.

— O que é que estás a fazer? — Este rapaz só pode ser doido.

— Consegues subir sozinha, ou precisas de ajuda? — pergunta-me já lá em cima.

— Isto não me parece boa ideia. — Será tarde demais para voltar para o quarto?

— Podes vir — diz ele depois de saltar para o outro lado.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora