Os dias a seguir correram com normalidade e foi, talvez, a primeira oportunidade que tive de sentir que estava numa escola normal.
As pessoas da minha turma estavam a começar a agir como adolescentes normais, apesar de eu nem saber que isso podia ser possível. A partir do momento em que o primeiro foi mandado para a rua por estar a conversar na aula, soube que os alunos aqui não são tão diferentes do que o que estava habituada.
As aulas de teatro foram do mais aborrecido possível, pelo menos para mim. Acredito que os outros se tenham divertido bem mais que eu. Assim que chegou o último dia do clube nesta semana, que foi na quarta-feira, dei-me por agradecida.
Durante todas as noites, não fui capaz de evitar adormecer a chorar.
De todos os motivos, os maiores eram as saudades que tinha das pessoas que conhecia, mas também de toda a pressão que temos passado. O que aguentei naquelas horas horríveis lá em baixo acaba por regressar nessas noites, antes de adormecer.
Suponho que qualquer pessoa na minha situação se sentisse assim. A única diferença talvez seja a forma de reagir a isso.
De qualquer forma, guardar tudo para mim sempre me pareceu a solução mais viável. Também não ia ter ninguém para confiar, porque, por enquanto, não confio em ninguém a cem porcento. Pode parecer estranho, mas parece-me que toda a gente esconde algo. Talvez até eu esconda algo.
Entretanto, a Mila lá acabou por fazer amizades com mais colegas da turma e criou uma relação de ódio com a namorada do irmão, algo que já seria de esperar.
No clube de artes tivemos que decorar uma t-shirt, e só na próxima quinta é que vamos saber quais as avaliações que vamos ter. A Mila optou por pintar uma t-shirt branca com uns detalhes de flores azuis e púrpura numa das mangas, e eu, sem muita vontade para desenhar, desenhei dois olhos. Quanta inovação. Só não podia faltar o comentariozinho da professora acerca da minha falta de qualidade artística. Porém vou continuar sempre defender a ideia de que quem não sabe fazer melhor não inventa para não complicar mais ainda.
Talvez a ideia do Sheldon de mudar de clube não seja assim tão má. Ainda temos até ao final do primeiro período para isso.
A única coisa que me estragou realmente a semana foram umas alunas do último ano que resolveram nos passar à frente na fila para o jantar, na sexta-feira à noite. Juro por tudo que não sou uma pessoa de criar conflitos com outras pessoas e muito menos quando não as conheço, mas este caso foi, obviamente, uma exceção.
Com este acontecimento, fiquei a saber que este tipo de pessoas também existe em qualquer lado e em qualquer grupo social. Fiquei totalmente passada com isto, e a Mila ainda ficou pior que eu. Talvez se não estivéssemos tão nervosas com os testes, até ignorássemos. Ainda por cima, era o dia que tínhamos combinado ir com a Jess e a Ally dar uma volta aqui pela zona.
A Mila ficou com elas, para as tentar convencer a não ir, enquanto eu volto para o quarto. No entanto, assim que ponho a chave na fechadura, reparo que está aberta e que só me basta puxar a maçaneta para a abrir.
Acho isto muito suspeito, porque me lembro bem de a ter trancado antes de sair, e a Mila esteve o tempo todo comigo.
Entro no quarto e a primeira coisa que vejo é um pedaço de uma folha rasgada por cima da minha cama. Leio-o, calmamente, mas tenho que o reler imensas vezes para poder confirmar mais uma vez que isto é real.
De seguida agarro no papel e corro para o corredor dos rapazes, enquanto o aperto com tanta força que a minha mão começa a arder. Por momentos, é como se ainda conseguisse ouvir os gritos daquela noite. De todos os problemas que tenho, este tornou-se o pior.
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O Mistério do Internato
Mystery / ThrillerDaniela vê-se aos 16 anos obrigada a emigrar para Inglaterra e a estudar num internato. Porém, no meio de novas amizades, novas paixões e revelações, percebe que há algo de diferente naquele lugar. E tudo passará a ser posto em causa a partir do mom...