Capítulo 24

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O facto de estar neste momento deitada no chão e por baixo de uma cama só me dificulta perceber quem são. Até agora passaram três homens — ou seriam mulheres? — pela porta à minha frente, mas nenhum parou sequer para olhar para o meu quarto.

Será que apanharam o Rúben?

Não posso ficar aqui escondida para sempre.

Continuo sem perceber o que dizem. A forma de comunicação entre eles soa-me pouco clara e confusa. Parece-me que fazem sons em vez de pronunciarem palavras.

Assim que mais duas pessoas passam, apresso-me a sair de baixo da cama e a esconder-me atrás da porta. Como está escuro, é difícil me verem aqui.

Consigo ver o corredor através de um leve traço de luz na brecha da porta.

Tenho duas opções: fujo, ou vou procurar o Rúben. Só sei que vou precisar uma boa dose de coragem para escolher qualquer uma das duas. Porém, continuar aqui não é opção.

Consigo ouvi-los a chegar até ao outro fundo do corredor e a abrir uma porta. Se todas as portas estão destrancadas, isso quer dizer que posso ir até lá e esconder-me numa das salas perto da porta onde estão a entrar. Não sei exatamente qual é, mas a probabilidade de abrir uma que não esteja ninguém é maior que a de abrir a que eles estão.

Num ato de impulso, desato a correr até lá.

Não, não vou fugir e deixar o Rúben sozinho. Se fui eu que o trouxe até aqui, sou eu que o vou levar de volta.

Passo por umas dez portas e dou por mim a quase vomitar assim que me aproximo do final por dois motivos; um deles, o terrível cheiro que fica mais forte a cada passada que dou nesta direção, e o outro, uma consequência do meu estado de nervosismo.

Assim que lá chego, já com a respiração demasiado pesada para poder sequer continuar, vejo que uma das portas está encostada, e portanto assumo que é a que eles estão todos a entrar.

Abro, logo de seguida, a porta que está em frente a essa.

Mais uma vez a luz da sala não está ligada, no entanto a do corredor faz com que possa deixar a porta encostada e mesmo assim ver um pouco dele.

Não oiço absolutamente nada nem ninguém. A minha respiração é o som mais alto que oiço, juntamente com o som do sangue a pulsar rapidamente por todo o meu corpo, devido ao esforço físico que fiz ao vir a correr para aqui, mas também um pouco do som da chuva lá por cima.

Não faço ideia qual é a sala em que estou, mas honestamente isso pouco importa. Só preciso de estar escondida tempo suficiente para perceber quem são e onde estão a ir.

Devia ter trazido relógio. Era importante saber que horas são para saber se estou a perder o teatro ou não, todavia conseguir tirar o Rúben e a Cecilia daqui é uma prioridade.

Esta sala tem um cheiro estranho a lixívia e desinfetante, o que me deixa com uma enorme preocupação para saber se a usam.

Acho que neste momento estou a sentir o mesmo que sentia quando jogava às escondidas na escola, só que mais intenso. Primeiro, a corrida até ao sítio onde me ia esconder; e segundo, a longa espera pela oportunidade de fugir sem ser apanhada. Tudo com a única diferença de não saber quem está neste momento atrás de mim, ou o que vão fazer se me apanharem.

Está tão gelado cá em baixo que mal sinto as pontas dos meus dedos. Estes últimos dias foram os piores relativamente ao clima, o que resultou nas queimaduras de frio que tenho nas pontas dos dedos das mãos. Durante toda a minha vida pouco as tive, mas agora é bem pior. Tenho uma mão com os dedos inchados e cheios de manchas vermelhas que me doem ao tocar.

O Mistério do InternatoOnde histórias criam vida. Descubra agora