Lembranças e dor

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CHLOË


Minha cabeça, pela primeira vez desde minha morte, rodava.

Eu estava tonta...

O zumbi na minha frente não parecia diferente de tantos outros que eu encontrara durante minha patética vida como morta-viva. Mas ele me era definitivamente diferente.

Por que era diferente, eu não conseguia concluir.

Foi quando ele surgiu na frente da luz da claraboia no teto da loja, foi que eu o reconheci.

Ou lembrar seria o termo mais correto? Eu não tinha lembranças nítidas da minha infância, mas aquela veio com força total, de tal modo que quase me desequilibrou.

–Chloë! Volte aqui, baixinha! - gritou ao fundo o vulto grandalhão que me perseguia na campina.

– Não volto, não volto, não volto não - eu ri. Tinha cinco anos, e corria do homem que vinha atrás de mim, dando gargalhadas. Tinha uma gravata listrada em uma das minhas mãozinhas.

– Chloë, sua mãe vai me matar - riu meu perseguidor - devolva a gravata, pelo amor do Floquinho, vai. Eu tenho que trabalhar, guria.

Eu ri de novo, ainda correndo. Porém, ele finalmente me alcançou e me pegou no colo, erguendo meu corpinho até pendura-lo em um dos braços. A gravata em minha mão voou até o seu ombro. Fingi que estava chateada, encenando uma expressão de choro.

– Oh, Chloë - ele brincou, beijando minha bochecha - quando eu voltar do trabalho, eu prometo que vou brincar com você até a gente não aguentar mais!

– Oba! - gritei, abraçando o pescoço de papai.

Não era possível.

Era ele... mas... não podia ser.

O ferimento no tórax.

Balancei a cabeça. Não, eu não queria me recordar do dia em que nos perdemos de nossa família. Mas a lembrança veio mesmo assim.

– Corra, Chloë! - gritou Meg, puxando a minha mão.

– Não, Meg... papai está em casa ainda! - gritei, puxando-a para trás.
Tio Carl! - Meg chamou papai. Ele surgiu correndo atrás de nós.

– Andem, meninas! - ele nos empurrou para frente.

A caminhonete em que estavam mamãe e Tio Fred estava prestes á acelerar, só esperando que os alcançássemos.

Os zumbis surgiram de dentro na nossa casa, dos lados, de todos os lugares... estavam muito perto de papai.

– Anda, tio! - Meg chamou-o de novo.

Um grito atrás de nós me fez recuar.

Não, não!

Um dos zumbis agarrara papai e o mordera.

– Papai! Não, papai! - voltei correndo.

– Chloë, não! Ele vai virar um deles!

– É o meu pai! - gritei para Meg.

– Fred, volte! - chorava mamãe, batendo em tio Fred.

– Não posso, Makennah! Se eles forem mordidos, nós vamos morrer também se voltarmos!

– Não, mamãe! Vá com tio Fred! A gente se encontra depois!

Voltando à ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora