CHLOË
Minhas mãos tremiam quando voltei a raciocinar.
Não... eu havia feito de novo.
Havia matado.
Havia prometido a mim mesma que nunca mais faria isso. Quebrar essa promessa doeu mais do que eu imaginava.
Quando vi Bob atacar Ryan, meu corpo simplesmente me impeliu a atacar. Só que, desta vez, não havia sido por fome.
Minha visão turvou-se com as lágrimas que encheram meus olhos. Droga, eu não queria ter feito aquilo.
Mas ouvir a respiração dolorida de Ryan atrás de mim e sentir o latejamento em minha ferida reforçaram minha convicção que fora um mal necessário.
Enquanto pensava, me erguendo lentamente do corpo ensanguentado no qual eu estava debruçada, percebi que minha visão não ficara avermelhada.
Senti uma lágrima pingar em meu pulso. Olhei para a pequena gotinha que escorreu pelo meu braço, arfando quando olhei mais de perto.
Era uma gotinha de água. Transparente.
Olhei para meus dedos ensanguentados. Limpei o indicador com a minha blusa amarrotada, e percebi que o sangue ainda não saíra totalmente.
Mas aquelas manchas beges eram sangue?
– Chloë! - Ryan gemeu atrás de mim.
Me virei e corri até ele, deixando o corpo de Bob para trás. De relance, vi os integrantes do Comitê nos observando, em silêncio. Papai ainda abraçava Pim, que mantinha a carinha enterrada em sua barriga. Isaac chiava, provavelmente ainda assustado com a explosão e os tiros. Gail alisava o cano de sua pistola, tensa.
Ver o corpo de Julia à alguns metros de nós me fez sentir um nó em meu estômago morto. Mais lágrimas brotaram de meus olhos quando vi minha amiga morta.
Me aproximei de Ryan, que tremia, com a perna curvada num ângulo estranho.
– Ryan... - murmurei, abraçando-o.
– Tudo bem, Chloë - ele arfava - acabou. Ninguém vai machucar vocês outra vez...
Olhei para sua perna, preocupada.
– Quebrada - ele deu de ombros, tentando descontrair, mas sua expressão brincalhona não mascarou a dor em seu rosto - já tive dias piores.
Ele estava péssimo... coberto de fuligem e pó, com um hematoma na cabeça e um corte na boca. Me dava uma vontade louca de chorar ainda mais ao vê-lo naquele estado.
Gail veio até nós e ajudou Ryan a levantar. Apoiei seu outro braço, fraquejando um pouco ao me curvar. Quase havia esquecido que havia sido atingida por uma espingarda momentos antes. Aquilo doía demais.
Levamos ele até a bancada. Gail sentou-o ali, e Shawn se adiantou para colocar a perna de Ryan no lugar.
– Vai doer um bocado - ele avisou, segurando a perna de Ryan.
Enquanto observava Garret e os demais homens abaixarem as armas e se aproximarem, curiosos, ouvi o grito de Ryan quando Shawn virou sua perna. O som pareceu fincar uma estaca em meu coração débil, que bateu ainda mais rápido em resposta.
Shawn improvisou uma tala com o material de pronto-socorro que restara na Clínica, imobilizando a fratura.
Ryan bufou de dor, balançando a cabeça. Quando se voltou para mim, poém, vi em seu olhar um espanto surpreendente.

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Voltando à Viver
General FictionSinopse: Qual é o limite entre a bestialidade e a humanidade? "Eu podia ter me livrado dela. Podia ter dado um tiro na testa dela e meus problemas nem teriam começado. Se eu não fosse tão burro...(...) Se eu não tivesse me apaixonado... (...)" Num m...