Irônia do Destino

Capítulo 6 - Desculpas e Lamentos

[ Lucca ]

O frio desta manhã estava insuportável, podia ver fumaça sair entre meus lábios conforme eu respirava, ao olhar para um dos cantos do quarto de hospital pude ver Nina adormecida em uma poltrona, não esperava vê-la ali. Sua pele se encontra mais pálida por conta do tempo frio, seus lábios que antes eram rosados agora estavam um pouco roxo e destacavam-se em sua face, mesmo um pouco descabelada era incrível como ela conseguia ser extremamente linda, parecia uma boneca de porcelana, mas não era tão sensivel como tal. Ela sempre foi marrenta com algumas questões, sempre diz o que pensa sem se importar com o estrago que isso pode causar, sempre foi amiga, companheira, conselheira... Foi esse jeito que me encantou, quando menos percebi estava completamente apaixonado por ela, complicada, um pouco maluquinha, indelicada, mas não há nada nela que eu mudaria.

Apertei um pequeno botão próximo a minha cama que alarmava os enfermeiros de que eu queria algo, ao ver a enfermeira entrar fiz um breve sinal de silêncio para que não acordasse Nina e sussurrando a pedi que arrumasse por gentileza um cobertor para cobri-la, podia ser esses de hospital mesmo, que por sinal era um ótimo hospital, Nina não precisaria se preocupar com algum tipo de bactéria vindo da peça que a enfermeira usara para cobri-la com cuidado. Agradecido e satisfeito, comi meu desjejum contrariado pela enfermeira, brigavamos em voz baixa como mãe e filho, eu dizendo que não queria e ela dizendo que era preciso alimentar-me ou não voltaria pra casa tão cedo. Terminando fiquei olhando para fora da janela ao meu lado que dava visão para o jardim do hospital, pude observar alguns senhores jogando xadrez que provavelmente eram da ala de idosos, mesmo com tanto frio sorriam e pareciam se divertir com o jogo.

- Oi. - Disse ao voltar a atenção para Nina que acabara de acordar.

- Oiii! - Respondeu acompanhado de um leve sorriso. - Aí meu Deus, estou horrível né? - Perguntou tentando arrumar o cabelo.

- Garanto que se realmente tiver eu estou muito mais com todos esses roxos e machucados. - Dei um leve riso ao terminar.

- Bobo... - Ela agora ria do comentário. - Quem me cobriu? Não foi você né? Mal pode andar.

- Estragou minha moral, ia falar que foi eu pra ver se acreditava, mas já me cortou antes mesmo que pudesse abrir a boca. - Sorri resmungando de dor em seguida. - Não me faça rir muito por favor, as dores são terríveis. - Acrescentei.

- Eu nem estou fazendo nada, você que é tonto. -Disse rindo enquanto me olha.

- Imaginei que estivesse com frio apenas com essa roupa, então pedi a enfermeira que lhe cobrisse. - Disse mudando o rumo da conversa.

- Obrigada, realmente estava com frio. - Ela agradeceu. - Como se sente?

- Um saco de pancadas que passou a noite toda apanhando, mas me sinto mais vivo. - Brinquei. - Passou a noite aqui?

- Sim, seus pais deviam estar cansados da viagem, então sugeri que descansassem ao menos essa noite e eu ficaria com você. Quando entrei já estava dormindo, fiquei te observando por um tempo e adormeci. - Finalizou parecendo satisfeita.

- Obrigado por tudo, queria aproveitar pra me desculpar pela noite anterior. Você não me deve satisfações da sua vida e eu me senti no direito de obtê-las, e só depois do que houve eu percebi que fui ingênuo, o Raphael estava muito bêbado mesmo e ele sequer sabia que eu... Eu... - Fiz uma pausa procurando a palavra para não mostrar a ela que ainda a amo. - Não sabia a nosso respeito, nem do sentimento que eu alimentei por você.

- Tudo bem Lucca, já passou. - Nina me olhava como se procurasse algo para dizer, mas nada disse.

- Ter você ao meu lado é o que mais quero, mesmo que sejamos apenas amigos, o que importa é te ter comigo, não aguento mais ficar em climas chatos com você e me afastar por não saber encarar as coisas de frente. - Desviei o olhar para que não percebesse que ainda insistia na história de tê-la como namorada, mas sabia que melhor que perdê-la seria ter sua amizade.