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[Matthew]

Tinha demorado, mas o dia estava finalmente a chegar ao fim. Esta era a última aula que iria ter hoje, Inglês. Depois de um longo dia, a minha última aula era Inglês, só para piorar a situação. Gostava de saber quem faz os horários. Essa pessoa tem ideias extremamente estúpidas. Pôr uma das disciplinas mais importantes como a última aula do dia não é inteligente. Estamos totalmente exaustos, só queremos ir para casa e como é óbvio não vamos prestar atenção nenhuma à aula. Era importante que a pessoa que trata de fazer os horários percebesse isso.

O toque finalmente soou. Arrumei o meu material de escrita no estojo e pu-lo, juntamente com o caderno, na mochila. Como já faz parte da rotina, tive de esperar que o Nash arrumasse. Não importa quantas coisas ele tivesse para arrumar, ele iria sempre demorar uma eternidade. E eu fico sempre à sua espera porque sou demasiado simpático para o deixar sozinho.

- Estou pronto – falou.

- Finalmente – resmunguei.

- Tu estás sempre apressado.

- Isso é porque quanto menos tempo eu passar aqui, melhor – expliquei.

- A Autumn não vem connosco?

- Não sei – encolhi os ombros.

- Ela está ali – Nash apontou e corremos um pouco para a apanhar – Vens connosco? – Nash perguntou assim que chegamos à sua beira.

- Se vocês quiserem a minha companhia, adorava – respondeu sorrindo.

- Então e o Hayes, Nash? – perguntei.

- Ele só teve aulas de manhã.

- Sorte – resmunguei e começámos todos a andar.

- Nem me digas nada – Autumn concordou – Estaria muito melhor em casa neste momento.

- Pelo menos ainda não temos de estudar, pensem positivo – Nash incentivou.

- Falas como se estudasses muito.

- Vais ver, vou ser a pessoa mais estudiosa de sempre – Nash falou.

- Tu quase ias reprovar o ano passado – brinquei.

- Tu também não és exemplo nenhum, Matt – respondeu e eu concordei.

- Se quiserem eu posso ajudar-vos – Autumn sugeriu.

- Achas que consegues?

- Claro – disse sorrindo.

- E como é que foram as tuas notas o ano passado? – eu perguntei.

- A nota mais baixa que tive foi B+. Matemática não é o meu forte.

- Ajuda-nos – pedi – Eu posso ajoelhar-me se quiseres – disse e Nash desatou a rir-se.

- Eu ajudo-vos, não há problema.

- Obrigada. Ficamos a dever-te favores para o resto da vida – Nash respondeu e a Autumn riu-se.

- Vou cobrar – disse sorrindo.

- Até amanhã. Portem-se bem na minha ausência – Nash despediu-se.

- Não te preocupes – eu respondi e nós continuámos a andar.

- Obrigada por nos ajudares. Só espero conseguir melhorar as minhas notas.

- Se há alguém que tem de agradecer por algo sou eu, Matt. Vocês deixaram-me entrar no vosso grupo sem praticamente me conhecerem. Não tens ideia do quanto isso significou para mim – respondeu.

- Não vou repetir, tens de parar de nos agradecer por isso – eu disse e ela riu-se.

- Desculpa, é mais forte que eu, mas eu vou tentar – afirmou, sorrindo.

- Porque dizes isso? Sempre foste assim ou houve algo que te fez mudar? – deixei a minha curiosidade tomar conta de mim e arrependi-me no segundo seguinte.

- Não sempre mas ultimamente tenho vindo a apreciar mais os gestos de bondade das pessoas, acho que é porque passei um mau bocado.

- Acho que já passei o limite da confiança, desculpa – lamentei.

- Tudo bem, Matt – ela sorriu – Talvez um dia eu te conte sobre isso – dito isto, Autumn entrou em casa deixando no ar um enorme mistério e suspense.

[...]

Custava-me a acreditar que só tinha passado uma semana desde o início das aulas e eu já estava totalmente farto. Não é o facto de ter aulas, ou de ir para a escola, até me interesso bastante por aprender coisas novas mas a rotina dá cabo de mim. É tão cansativo fazer a mesma coisa todos os dias, vezes e vezes sem conta. Parece que estás a viver o mesmo dia inúmeras vezes. Irrita-me e cansa-me a minha rotina mas não há nada que eu possa fazer.

Gostava que a minha vida fosse um pouco mais emocionante. Que não girasse em torno de escola-casa, casa-escola. Que o meu dia não parecesse um completo vazio. O meu problema é que querer não é poder, infelizmente.

Como sempre fui com o Nash e o Hayes para a escola e ao chegarmos lá vimos o nosso grupo à entrada.

- Bom dia – Nash disse assim que chegamos perto deles – A Autumn não está convosco?

- Ele esteve aqui mas foi-se embora – Cam falou – Ainda tentámos perguntar o que se passava mas ela só disse que ia para a sala.

Assim que ele acabou de falar a campainha soou, parece que eu ia descobrir o que se passava com ela de qualquer das maneiras. Nash e eu despedimo-nos dos outros e combinámos de nos encontrarmos no sítio de sempre. Depois de atravessarmos vários corredores lá estava Autumn, encostada à parede a ouvir música. Ela estava de costas para nós por isso nem deu pela nossa presença.

Para ser sincero não sabia o que fazer. Parecia que algo estava errado mas não me sentia confortável para lhe perguntar o que era. Mas por outro lado estava preocupado e queria saber o que estava a acontecer e tentar ajudar naquilo que eu pudesse.

Fui para junto dela e toquei-lhe no braço. Autumn virou-se e ficou a encarar-me por breves segundos. Os seus olhos estavam encharcados de lágrimas e ela só me abraçou. Nenhuma palavra foi dita por nenhum dos dois. Mais de dois minutos se passaram e continuámos assim. Como se fôssemos as únicas pessoas no planeta, como se a única coisa que importasse fosse aquele momento. Queria perguntar-lhe o que se passava, dizer-lhe que a iria ajudar no que quer que fosse mas apenas a abracei. Abracei-a porque sabia que era o que ela mais precisava naquele momento, e quando a altura chegasse ela ia falar. Talvez eu não fosse a pessoa com quem ela desejava estar, mas eu estava ali. E naquele preciso momento, aquilo era tudo o que ela precisava.



Autumn | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora