twenty six

55 9 2
                                    

[Autumn]

Matt estava estranho. Era algo que eu já tinha reparado. Desde ontem que ele estava assim. Quando eu fui ajudar a Mads estava tudo bem e quando regressei ele já estava a agir de maneira diferente. Não faço ideia do que aconteceu mas eu estou realmente preocupada.

De qualquer das formas, eu estava prestes a ir para casa da minha avó. Ela tinha-me convidado a passar o fim-de-semana, e obviamente, aceitei. Talvez passar algum tempo com ela me fosse ajudar a compreender melhor as atitudes de Matt. A minha avó sabia sempre o que dizer e se havia alguém capaz de me ajudar, esse alguém era ela.

O meu pai veio buscar-me e entrei no carro. Tentei puxar conversa porém tudo o que recebia em troca eram monossílabos. "Sim", "não", "okay". Acabei por desistir. Era um pouco inacreditável que ele ainda estivesse tão chateado. Já se tinham passado meses e ele continuava sem conseguir ter uma conversa decente comigo. Acho que é porque ele sempre achou que eu era a menina perfeita dele. Sempre tive boas notas, nunca tiveram queixas do meu comportamento e de repente, a menina perfeita dele é expulsa da escola. Eu tento compreender o seu ponto de vista mas torna-se difícil tendo em conta que ele nunca tentou compreender o meu.

Após cerca de vinte minutos de viagem em que a única coisa a preencher o silêncio era a música que passava no rádio, finalmente chegámos. A minha avó já me esperava cá fora, corri para a abraçar e acabei por me afastar para ela cumprimentar o meu pai. Eles conversaram durante alguns minutos e ele acabou por se ir embora, sem sequer se despedir de mim.

- Continua tudo igual, não é?

- Sim - afirmei triste.

- Isto vai passar-lhe. Dá-lhe tempo - tentou tranquilizar-me.

- Mais tempo? Já se passaram meses. De quanto tempo é que ele precisa?

- Não sei, meu amor. Ele vai acabar por voltar a confiar em ti, acredita em mim. Ninguém conhece o teu pai melhor do que eu, ele é teimoso mas acaba sempre por ceder. Ele ama-te, és filha dele, ele vai-te perdoar - a minha avó falou confiante.

- Eu espero que sim. Não aguento mais isto.

- Eu sei, minha querida. Tu tens sido muito forte, a pessoa mais forte que conheço aliás. E ficas a saber que, nem por um segundo, eu acreditei que tu tivesses feito algo de mal. Eu ainda não sei o que aconteceu porém, não preciso de saber. Eu conheço-te e sei que nunca farias aquilo por tua vontade.

Tentei não chorar. Eu queria contar-lhe, queria voltar a ser a menina do meu pai, queria que tudo voltasse ao normal mas não podia. Se lhe contasse, ele ia acabar por descobrir. É por isso que a única pessoa que pode saber disto é o Matt, e pretendo contar-lhe assim que tiver coragem.

- Vamos para dentro, vou fazer-nos um chá - a minha avó avisou.

Segui-a para o interior da casa e sentei-me num dos sofás que lá se encontravam.

- É melhor ires guardar as tuas coisas, Autumn. Quando voltares tenho chá quentinho para nós, tal como tu gostas.

Decidi seguir o seu conselho e fui em direção ao "meu quarto". Arrumei as minhas roupas nos armários e pus as restantes coisas em cima da cómoda. Por muito pouco tempo que eu fosse ali estar, eu precisava de ter tudo organizado ou não seria eu.

Deitei-me por algum tempo na cama, numa tentativa de afastar todos os meus pensamentos, que falhou miseravelmente. Mantive-me ali por alguns minutos, apenas a encarar o teto, a tentar não me preocupar com nada. E apesar dos meus esforços, obviamente que falhei.

Matt preocupava-me, a minha relação com ele também, a maneira como lhe ia contar a história toda que ainda era inexistente também me preocupava. O meu pai preocupava-me, a nossa relação preocupava-me. A lista das minhas preocupações era infinita.

- Autumn, o chá está pronto.

Levantei-me logo que ouvi a minha avó chamar e desci as escadas. Ela encontrava-se na cozinha com duas chávenas em cima da mesa e um pote com biscoitos. Era algo que sempre fazíamos quando eu aqui vinha. Apenas conversávamos e eu dizia tudo o que queria. Não tinha medo do que ela ia pensar, eu sabia que ela nunca me julgaria.

Sentei-me numa daquelas cadeiras e logo a minha avó começou a puxar assunto:

- Então, como estão as coisas com esse Matthew?

- Para ser sincera, nem sei - respondi desanimada.

- Porquê, minha querida? - perguntou.

- Ele tem andado estranho, avó. Ontem estava diferente e hoje ainda nem sequer falou comigo. Nós costumámos falar o tempo todo, não sei o que aconteceu - desabafei.

- Se calhar ele está só ocupado.

- Mesmo se ele estivesse, ele iria arranjar tempo para falar comigo, ele arranja sempre. Tenho medo que alguma coisa tenha mudado.

- Tem calma, Autumn, ficares demasiado preocupada não vai ajudar em nada - tentou acalmar-me.

- Eu sei, avó mas não consigo deixar de ficar preocupada. Eu tenho medo que as coisas mudem ou que ele me deixe. Ele garantiu-me que não o ia fazer porém é difícil ficar calma - expliquei.

- Confias nele? - perguntou-me.

- Mais que tudo.

- Então não te preocupes tanto. Se ele disse que não te ia deixar, confia nele. Ele sabe o que aconteceu?

- Esse é o problema - fiz uma pausa - Eu nunca lhe contei. Tive medo de o afastar mas eu tenciono contar-lhe assim que conseguir, não quero ter segredos e estou disposta a arcar as consequências por isso. Eu sinto que preciso de ser verdadeira
com ele.

- Talvez seja o melhor a ser feito. Qualquer que seja a tua decisão, eu vou apoiar-te sempre.

- Eu sei, avó. Agradeço-lhe muito por me ajudar sempre, é a única pessoa com quem eu consigo conversar sem qualquer problema. A avó sempre ficou do meu lado e isso significa muito para mim - respondi.

- Não tens de agradecer. Em tudo o que eu puder, vou sempre ajudar - afirmou e eu sorri. Tinha muita sorte por a ter do meu lado. Pode-se até dizer que a minha avó era a minha melhor amiga e eu não tinha problemas nenhuns em admiti-lo.

Autumn | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora