Autumn | ME

fourteen

[Autumn]

Não sei o que lhe deu. Não faço ideia o que lhe passou pela cabeça para começar a agir assim comigo. E por alguma razão não consigo deixar de pensar que tem algo a ver com o que se passou hoje de manhã.

O Matt passou o dia a olhar para mim, sem sequer me dirigir a palavra uma única vez. Será que eu fiz algo de errado? Eu sei que hoje passei mais tempo com o Shawn do que o costume mas isso não deveria incomodá-lo, pelo menos não faria sentido se incomodasse.

Talvez esteja só a exagerar. Ele pode apenas estar envergonhado pelo que disse ou até nem ter assunto para falar comigo, mas acho que essa é a parte mais estranha. Nós temos sempre assunto. Eu sinto que, podemos até estar a falar de coisas habituais, o Matt vai tornar qualquer assunto divertido. Pelo menos as coisas eram assim, agora já nem sei.

Estava à espera que o meu pai me viesse buscar. Não estava com vontade nenhuma de ir a pé.

- Autumn? - olhei para trás - Não vens connosco? - Nash perguntou.

- Não me apetece, desculpa.

- É por causa dele? - não respondi - O Matt não está chateado contigo, nem nada do que possas estar a pensar, muito pelo contrário.

- Ele mal falou comigo hoje, porquê?

- Talvez porque passaste o dia a falar com o Shawn.

- Mas não era isso que eu queria - respondi - Durante todo o dia, a única coisa que eu queria era que fosse o Matt a passar o dia comigo, não o Shawn. Eu adoro o Shawn mas não há ninguém que me faça rir como o Matt, e eu precisava dele. Precisava dele para me fazer rir. Estive o tempo todo à espera que ele viesse ter comigo ou interrompesse a conversa e ele não o fez. Limitou-se a olhar para nós todo o dia como se aquela situação o incomodasse mais do que qualquer outra coisa no mundo.

- Eu não o vou defender, está bem? É ele que deve falar contigo, só te peço para não ficares chateada com ele. Isto passa-lhe, eu sei que ele se vai aperceber que foi um idiota e vai arrepender-se - afirmou - Vem cá - abriu os braços para me abraçar. Como eu podia recusar? Nash é tão fofo, tão adorável comigo.

- O meu pai chegou. Vemo-nos amanhã - despedi-me e Nash sorriu.

Dá vontade de apertar de tão fofo que ele é. Nash é tão querido, sempre tão atencioso comigo. Ele preocupa-se sempre e nota sempre se eu estou triste. Nash é um amor mesmo.

[...]

Já devia ter feito cerca de 3 páginas de exercícios de Matemática quando decidi fazer uma pausa. Fui à cozinha e peguei numa maçã. Sentei-me a comer e peguei no meu telemóvel.

Então vi que tenha cerca de 10 mensagens e fiquei logo preocupada. De quem seriam?

Matt Lindo: Quase não me deste atenção todo o dia.

Matt Lindo: Desculpa. Eu fui um idiota mesmo.

Matt Lindo: A culpa disto não é tua.

Matt Lindo: Eu não sei o que me deu. Eu simplesmente não soube como reagir ao ver que não precisavas de mim, senti-me um inútil e acabei por fazer pior.

Matt Lindo: Aposto que estás a ver as mensagens e não queres responder. Eu compreendo, não te posso censurar.

Matt Lindo: Eu não percebo porquê, está bem? Eu só sei que tu passaste o dia com o Shawn e isso incomodou-me bastante. Eu não percebo porquê.

Matt Lindo: Autumn, por favor, responde.

Matt Lindo: Eu pareço desesperado, não pareço?

Matt Lindo: Dás comigo em doido.

Matt Lindo: Pronto, eu não te vou incomodar mais. Eu percebo que possas estar chateada comigo e podes evitar-me por agora mas amanhã temos de falar. Não gosto de estar assim contigo.

Esta última mensagem tinha sido recebido há apenas 2 minutos.

Autumn ❤: Eu só vi agora as mensagens, desculpa. Não te preocupes, Matty, está tudo bem.

Matt Lindo: Está mesmo?

Autumn ❤: Sim, eu descobri que não quero e não consigo estar chateada contigo. E deixa de ser idiota, eu só conheci o Shawn por tua causa, é óbvio que vou sempre precisar de ti.

Matt Lindo: Fico feliz por saber isso.

Autumn ❤: Matt, eu não quero discutir mas eu preciso de te fazer uma pergunta.

Matt Lindo: Pergunta tudo o que quiseres.

Autumn ❤: Porque é que ficaste assim? Porque é que a ideia de eu estar com o Shawn te deixou tão incomodado? Por favor, não quero que te chateies mas eu gostava imenso de saber.

Matt Lindo: Parece que pela primeira vez sou eu a ter um segredo.

Autumn ❤: É justo. Eu vou voltar a estudar, até amanhã.

Matt Lindo: Até amanhã e boa sorte com os estudos. Fico muito feliz que já esteja tudo bem, obrigado por seres tão compreensiva.

Sorri e bloqueei o meu telemóvel. Acho que só Matt poderia fazer aparecer aquele sorriso.

- Há muito tempo que não te via sorrir assim.

- Mãe, não vi que estavas aí - falei.

- Desculpa, não te queria assustar.

- Não faz mal - eu respondi.

- Apesar de tudo, é muito bom ver-te feliz.

- Obrigado, eu vou voltar a estudar - levantei-me.

- Autumn, espera.

- Sim? - perguntei receosa.

- Eu quero acreditar que tu não eras capaz de fazer aquilo que dizem que fizeste, por isso vou dar-te outra oportunidade. Se tu foste incriminada, chantageada ou intimidada, tens de dizer-me. Autumn, foste tu ou tu estás a encobrir alguém?

Imediatamente comecei a chorar. Era o que acontecia sempre que a minha mãe ou qualquer outra pessoa mencionava este assunto.

- Sim, fui eu - menti.

- Eu continuo a ter uma esperança que não seja verdade. Tu és a minha menina e eu, lá no fundo, continuo a acreditar que não serias capaz de fazer algo assim. Eu só gostava que me contasses o que realmente se passou. Eu já dei voltas e voltas à cabeça e não consigo pensar quem te convenceu a aceitar as culpas por algo que não fizeste. Não percebo, filha, juro que não.

- Mãe, não tornes isto mais difícil, por favor - pedi entre os soluços.

- Autumn, eu podia ajudar-te. Podíamos pôr fim a isto, só tens de me contar.

Eu não posso ceder. Eu queria poder contar-lhe o que aconteceu. Queria poder dizer-lhe que tudo o que fiz foi por ela, mas eu não podia. Eu não ia ser a única a sofrer as consequências e não posso arriscar isso.

Fui a correr para o meu quarto. Quanto mais tempo passava ali, com a minha mãe a encarar-me daquela maneira, mais vulnerável me sentia. E isso era o que eu mais odiava. Sentia-me desprotegida. A pior parte é que mais ninguém sabia e isso significava que ninguém me podia ajudar. Era só eu, sozinha a chorar no meu quarto, tal como sempre tem sido.