eight

76 9 1
                                    

[Autumn]

Não sei dizer quanto tempo passou desde que abracei Matt, até porque perdi a noção do tempo. Parecia que tinha parado, tudo à nossa volta não importava. Valorizava muito o facto de ele estar ali, de ser ele a pessoa que me estava a ajudar. Ele era mais alto que eu e isso estava a ajudar bastante porque tudo o que eu menos queria era que as pessoas vissem. Odeio sentir-me vulnerável mas mesmo com todos os meus esforços para não chorar, não consegui.

- Está tudo bem, eu estou aqui – Matt tentou tranquilizar-me – Vamos sair daqui.

- E então e a aula? – sussurrei de maneira a ele ser o único a ouvir.

- Não interessa.

- Interessa sim, eu não posso faltar – disse-lhe.

- Então fazemos assim, eu aviso a professora que não te estás a sentir bem. Vais recompor-te e daqui a dois minutos vou ter contigo – Matt afastou-me pondo fim ao nosso abraço e depois de limpar todas as minhas lágrimas, deu-me um beijo na testa.

Respirei fundo e saí de lá. Fiz o melhor que consegui para não chorar enquanto passava pelo corredor. Entrei na casa de banho e lavei a minha cara com água fria. Respirei fundo mais umas vezes numa tentativa de me acalmar mas foi impossível.

Justamente quando eu pensava que tudo tinha acabado. Quando eu pensava que o pesadelo tinha acabado, o meu pai dá-me uma notícia destas. Eu vou ter de o voltar a ver, e pensar nisso já me deixava assustada. O pior é que eu não sei o que fazer, eu não posso contar ao Matt. Se eu lhe contar aquilo que eu mais temo pode realmente acontecer e aí já não haverá volta a dar.

Saí da casa de banho e sentei-me num dos bancos cá fora. Esperei por alguns segundos e Matt apareceu ofegante por ter vindo a correr. Assim que me viu sentou-se ao meu lado e ficou a olhar-me, como se estivesse à espera que eu dissesse algo.

- Desculpa – consegui dizer o mais baixinho possível.

- Porque pedes desculpa?

- Porque foste tu quem me esteve a consolar e agora não te posso contar o que se passa – respondi.

- Se não me quiseres contar está tudo bem – Matt disse.

- Não é que eu não queira, eu não posso – olhei-o pela primeira vez e tentei não chorar.

- Não digas nada – ele disse-me olhando diretamente para os meus olhos – não é preciso. Anda, temos de voltar à aula – Matt levantou-se e foi andando.

Levantei-me também e fui para a aula. Quando chegámos à sala, pedimos desculpas à professora e ela disse que não havia problema.

[...]

Estávamos agora a ir para a cantina. O Matt não me voltou a dirigir a palavra o resto do dia. De um momento para o outro ele deixou de me falar. Eu compreendo que não deva ser fácil para ele, ele está a tentar ajudar-me sem sequer saber o que se passa mas não era preciso deixar de falar comigo sem razão nenhuma. Eu não quero que as coisas fiquem estranhas mas eu não lhe posso contar, não se isso significa que posso sair prejudicada. Eu queria, queria mais do que tudo contar-lhe porque eu não aguento mais passar por isto sozinha. É de mais para mim, tudo o que aconteceu nos últimos tempos é de loucos e eu queria poder contar isto a alguém mas não posso.

- Autumn? – Nash chamou-me e eu olhei.

- Que se passa contigo? Tu e o Matt estão estranhos.

- É só impressão tua – menti mais uma vez. Odeio-me por lhes estar a fazer isto.

- Tens a certeza? – ele insistiu e eu confirmei – Sabes que se precisares de falar, eu estou aqui. Eu posso parecer alguém que só sabe brincar mas sei como ter uma conversa séria.

- Eu sei, Nash, obrigada.

- Sempre às ordens – ele sorriu-me.

Fomos buscar os nossos tabuleiros e como sempre, sentámo-nos na mesma mesa onde já estavam algumas pessoas e um rapaz que eu ainda não conhecia.

- Olá – eles disseram assim que chegamos à mesa e eu respondi.

- Autumn, já conheces o Jacob? – Nash perguntou.

- Agora conheço – disse e Nash riu-se.

- Pronto, eu apresento-vos. Jacob, é a Autumn. Autumn, é o Jacob – Nash disse e eu fiz um sorriso fraco.

[...]

Tinha acabado de sair da minha última aula do dia e o meu dia nem parecia o mesmo. Por muito estúpido que isso parecesse, eu sentia falta do Matt. Eu costumava passar os dias a falar com ele e hoje ele praticamente não falou comigo. Tudo por causa daquilo, a pior coisa que me aconteceu na vida. Respirei fundo porque senti que ia chorar novamente. Ele ainda nem sequer sabia o que se tinha passado e já se estava a afastar de mim, não queria imaginar como seria se ele soubesse.

Eu tinha de falar com ele. Tínhamos de chegar a um consenso, as coisas não poderiam ficar assim, de maneira nenhuma. Eu não lhe podia contar mas também não queria que ele se chateasse comigo por causa disso. Olhei para trás e por breves momentos pensei em voltar, mas logo mudei de ideias. Talvez este não fosse o melhor momento. Ele deve estar chateado, de cabeça quente, ainda pode dizer ou fazer algo que se arrependa e eu não quero que isso aconteça. Talvez ele só precise de algum tempo para pensar. Mas para ser sincera, ele pensar sobre o assunto deixa-me nervosa, neste momento ele deve estar a pensar as piores coisas de mim. Não o censuro, era o que qualquer pessoa pensaria no lugar dele. Em todos os filmes, quando a personagem tem um segredo que não pode contar é porque matou alguém ou fez parte de algum tipo de atentado. Eu só espero que ele não pense assim, acho que ele já me conhece minimamente para saber que eu não faria isso.

Assim que cheguei à entrada da escola, esperei pelo meu pai. Passado alguns minutos ele chegou e entrei no carro. Dirigimo-nos para casa e como sempre fui fazer os trabalhos de casa e estudar, tudo aquilo que eu estava autorizada a fazer. Sentia saudades do meu telemóvel, costumava passar o tempo todo a falar com os meus amigos mas acho que agora não serviria de muito, tendo em conta que não tenho amigos. E o pior é que eu achava que tinha acabado de estragar uma das poucas amizades que ainda me restavam. O Matt foi quem me fez ter vontade de confiar nas pessoas novamente, a única pessoa que teve um gesto de simpatia comigo em meses e eu ia estar-lhe sempre grata por isso. Eu nunca me iria perdoar se o perdesse porque a culpa seria apenas minha. Minha e de mais ninguém.




Autumn | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora