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[Autumn]

- Filha, vais ter de ir a pé. Hoje não te posso levar à escola - o meu pai disse enquanto eu acabava de apertar os atacadores das minhas sapatilhas.

- Tudo bem, pai - limitei-me a responder. Se esta situação tivesse acontecido há algum tempo atrás eu iria protestar e implorar-lhe para que me levasse. Hoje limito-me a aceitar aquilo que ele diz sem sequer questionar.

Ouvi a porta bater. Estava sozinha em casa, o que já não acontecia desde que as aulas começaram.
Fiz todas as minhas rotinas habituais e saí de casa. Guardei as minhas chaves e pus-me a caminho da escola.

- Autumn?

Alguém que não reconheci pela voz chamou-me e logo me virei para verificar quem era.

- Olá, Matt - falei sorrindo.

- Vais a pé? - perguntou.

- Sim. O meu pai não me pode levar hoje. Tinha uns problemas para resolver - expliquei.

- Ótimo - respondeu e eu olhei para ele confusa - Ótimo que me possas fazer companhia, não que o teu pai tenha problemas. Isso não é ótimo - acrescentou totalmente atrapalhado e eu desatei a rir.

- Tem calma. Tu... Tu estavas tão atrapalhado - falei com dificuldades por me estar a rir descontroladamente - Eu percebi o que querias dizer, Matt, só me estava a meter contigo.

- Autumn, posso fazer-te uma pergunta? - falou num tom sério e eu engoli em seco. E se ele tivesse descoberto como é que eu ia explicar? Eu não ia aguentar perder outra pessoa por causa do que aconteceu.

- Diz - pedi com medo da resposta.

- Tens cócegas? - falou e logo um sorriso divertido apareceu na sua cara.

- Não, Matt - respondi assustada e desatei a correr enquanto ele vinha atrás de mim rindo-se. Corri o mais que as minhas pernas conseguiram o que se tornava difícil tendo em conta que ao mesmo tempo estava a rir-me.

- Pronto, Autumn. Eu não faço nada mas pára de correr. Eu ainda não tenho as minhas energias todas a esta hora da manhã - reclamou e eu permaneci quieta.

Esperei que Matt viesse ao meu encontro e assim que ele chegou voltei a caminhar.

- Ainda vou ter a minha vingança por te teres rido de mim - avisou e sorriu no final. Eu apenas me ri, duvido que ele fosse capaz de fazer mal a uma mosca que fosse.

- Vêm muito divertidos que se passou? - Nash, que veio ter connosco assim que saiu de casa, disse.

- Nada, esquece - Matt disse.

- Já têm segredos? - Nash perguntou.

- É o Matt, ele é muito hilariante - respondi e voltei a rir-me.

O Nash foi andando à nossa frente e o Matt aproximou-se mais de mim.

- Espera pela vingança - falou baixo para que o Nash não ouvisse e eu tentei não me rir. Tenho a certeza que o Matt é inofensivo, o máximo que ele pode fazer é torturar-me com cócegas.

- Vocês vêm ou não? - Nash resmungou e ambos corremos para o alcançar.

[...]

Era o primeiro dia que tinha aulas de manhã e de tarde na nova escola. Hoje passei os intervalos quase todos a falar com o Matt. Ele contou-me imensas histórias de infância e coisas embaraçosas que já lhe tinham acontecido. Isso fez com que eu estivesse o tempo todo a rir-me. Já há muito tempo que não me lembrava de me rir tanto.

Estávamos a ir para o refeitório, o Matt convidou-me para almoçar com os seus amigos.

Depois de pegarmos nos tabuleiros com a comida, dirigimo-nos a uma mesa onde já estavam os outros. Pelo que eu entendi eles sentam-se sempre nesta mesa. Pelo visto, o grupo deles é bastante popular e esta mesa é como se estivesse "reservada" para eles. Com um grupo destes é normal que eles sejam populares.

- Pessoal, vamos tirar uma foto - Gilinsky sugeriu e os outros concordaram.

Todos sorriram para a fotografia e eu fiz o mesmo. Quase todos faziam algo no seu telemóvel enquanto eu continuei a comer. Sinto falta do meu telemóvel.

- Autumn, ainda não me deste o teu número, pois não? - Matt perguntou e eu neguei.

- O meu telemóvel está para arranjar - menti - Tinha alguns problemas.

- Por isso é que não te vejo com ele.

- Sim, é por isso - menti novamente. Por muito que eu não gostasse de lhe mentir tinha de o fazer.

É irónico. Logo eu que não suporto mentiras a tentar justificar uma. Sei que não há motivos que justifiquem enganar alguém mas é o melhor a ser feito. Esconder a verdade a uma pessoa não é justo, não quando eles merecem saber a verdade mas desta vez é diferente. Eu apenas não posso contar-lhe a verdade, pelo menos por agora. Sei que um dia mais tarde eles terão de saber mas não agora, não desta maneira.

- Em que pensas? – Matt perguntou-me.

- Nada de especial – respondi tentando sorrir.

- Eu sei que não nos conhecemos há muito tempo mas ficas a saber que podes falar comigo se precisares de algo.

- Muito obrigada, Matt. Eu não sei mesmo como te agradecer por seres tão simpático comigo – sorri genuinamente.

- É para isso que os amigos servem. É como eu sempre digo, eu não te posso prometer que resolverei todos os teus problemas, mas posso prometer-te que não terás de os enfrentar sozinha – ele disse e eu sorri.

Ter conhecido o Matt e o Nash estava a tornar tudo muito mais fácil. Depois do que aconteceu com todos os meus amigos nunca pensei conseguir dar-me bem com alguém assim tão depressa. Eles são um grupo unido e parece que não importa o que acontecer, sempre se ajudarão uns aos outros.

Mais uma vez senti-me mal por lhes estar a mentir mas não haveria maneira de contar agora. Tudo estava a correr bem, eu não ia estragar tudo ao contar-lhes a pior coisa que me aconteceu na vida. Principalmente se isso significasse que eles não iam querer estar comigo. Ia acontecer a mesma coisa que se passou com toda a gente. Aqueles a quem eu costumava chamar amigos, revelaram não o ser. Não houve um deles que ficasse do meu lado. Não houve um deles que acreditasse em mim. Não houve um deles que me apoiasse. E isso não poderia acontecer novamente. Eu não aguentaria passar por tudo novamente.

Autumn | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora