Autumn | ME

four

[Autumn]

Vou ser totalmente sincera. Eu estava totalmente nervosa. Ia sair com aqueles que poderiam vir a tornar-se os meus amigos se tudo corresse bem. Depois daquilo que passei não esperava vir a integrar-me tão depressa. Apesar de eu achar que eles apenas me convidaram para serem simpáticos, significou muito para mim que o tivessem feito. Vou fazer de tudo para que eles gostem de mim.

Ao mesmo tempo sentia-me mal. Talvez devesse contar-lhes a verdadeira razão porque estou naquela escola porém tenho medo do que possa acontecer depois. Que a verdade os possa afastar de mim ou mudar a ideia que tenham em relação a mim. Talvez o melhor seja mesmo esperar. Dar tempo ao tempo.

Tinha acabado de me arranjar e no final até gostei do resultado. Como sempre, eu não usava o tipo de roupas mais "femininas". Sempre fui de usar calças, t-shirts, casacos muito largos e sapatilhas. A única exceção à regra é eu usar calções algumas vezes no verão mas nunca nada de feminino. As raparigas normais usam sandálias ou coisas do tipo mas teriam de me torturar para que isso acontecesse e mesmo assim não as usaria. Simplesmente não gosto, para ser mais realista odeio.

- Vais sair? – a minha mãe perguntou.

- Ia ter com uns amigos ao cinema.

- Sabes as regras.

- Mãe, por favor. Confia em mim, eu não me vou meter em sarilhos. O castigo já dura há bastante tempo. Achei que tinha pelo menos o direito de sair com os meus amigos desta vez.

- Autumn, eu não te posso deixar sair assim. Sabes perfeitamente que por muito que eu queira, não consigo confiar em ti – respondeu.

- Por favor. Dá-me este voto de confiança – pedi – Eu só vou ao cinema. Não vai acontecer nada de mal. Passei as férias todas em casa de castigo, perdi todos os meus amigos, não achas que tenho o direito de recomeçar?

- Pronto, desta vez podes ir. Eu arranjo maneira de dar a volta ao teu pai.

- Obrigada – agradeci e afastei-me dela para deixar a sala.

- Autumn? – chamou.

- Sim?

- Não nos desiludas novamente.

Saí da sala. Se começasse a chorar não queria que ela visse. Se ao menos ela soubesse de toda a história. A pior parte é que eu não posso contar. Eu estou totalmente sozinha nisto. Esta oportunidade de fazer novos amigos é tudo o que eu tenho. Eu sei que desiludi toda a gente, pelo menos é assim que eles pensam. Mas eu tenho dado o meu melhor para voltar a reconquistar a confiança das pessoas. Só espero que não apareça nada para estragar tudo desta vez.

Fui andando para o cinema. Era bastante perto de minha casa por isso não era necessário alguém levar-me. Senti alguém tocar-me e podia jurar que o meu coração parou. Virei-me e um alívio enorme percorreu todo o meu corpo. A última vez que encontrei alguém desta maneira não correu bem.

- Estás bem? – perguntou.

- Sim. Olá, Matthew – sorri tentando convencê-lo.

- De certeza? Pareces tensa.

- Foi só porque me assustei.

- Desculpa. Não era a minha intenção – lamentou.

- Está tudo bem. Que fazes por aqui?

- Vou para o cinema, esqueceste-te?

- Não, só que não sabia que vivias por aqui – afirmei.

- Vivo ao fundo da rua. Também estavas a ir para lá?

- Sim. Vamos juntos? – propus.

- Sim, claro – sorriu.