thirty three

64 10 3
                                    

[Matthew]

Acordei a sentir-me com dores, como era de esperar. Tinha algumas marcas no corpo que eu não conseguiria esconder. Por muito que eu não quisesse que Autumn descobrisse aquilo que eu tinha feito, isso ia, eventualmente, acontecer. Era mais do que óbvio que ela iria descobrir e eu iria acabar por lhe contar tudo. E por muito que eu seja uma pessoa tranquila, aquilo tinha de ser feito. As marcas no meu corpo não eram nada quando comparadas com as que lhe deixei. Eu não me orgulhava do que tinha feito mas, naquele momento, nada me daria mais prazer do que aquilo. Ver a pessoa que estragou a vida da pessoa que mais amo no mundo, da pessoa que não merecia que nada daquilo lhe acontecesse, eu precisava de vê-lo a sofrer.

Levantei-me com muito esforço. Olhei-me no espelho, eu não me orgulhava da pessoa que eu me tinha tornado. Eu sabia que eu não era aquela pessoa porém fiquei cego, eu não conseguia pensar ou fazer mais nada. Naquele momento eu estava cego de raiva. Tudo aquilo que me passava pela cabeça era a imagem de Autumn a chorar por tudo aquilo que ele lhe feito. E só o pensamento dela naquele estado foi o suficiente para que toda a minha raiva se libertasse.

Preparei-me mentalmente para aquilo que estava para vir. Eu sentia que as duas horas de sermão ontem não tinham sido suficientes para o meu pai e, de certeza, que hoje iria falar disso novamente.

- Bom dia – eu disse educadamente, na esperança que ele se esquecesse do que tinha acontecido.

- Já estás disposto a contar-me o que aconteceu?

- Não quero falar sobre isso, pai.

- Matt, tu sempre foste um miúdo responsável, nunca te meteste em problemas. O que é que aconteceu? – ele insistiu.

- Eu não quero falar disso.

- Mas eu quero compreender o que te levou a lutares com alguém, filho. Tu nunca foste uma pessoa violenta, sempre odiaste violência. Alguém se meteu contigo? Porque é que tu fizeste isto?

Eu continuei calado. Eu realmente não estava com paciência para falar sobre aquele assunto e o meu pai estava a conseguir tirar-me a que me restava.

- Matt, não me ignores quando falo contigo - ele disse visivelmente irritado – Explica-me o que aconteceu.

- Eu fi-lo porque a amo – respondi igualmente irritado.

- O que é que isto tem a ver com amor?

- Eu não a podia ver a sofrer, pai – comecei a chorar. Eu sentia-me tão mal pelo que tinha feito mas eu precisava de lhe dar a paz que ela merece.

- Matt, conta-me o que se passou. Eu vou ajudar-te.

- Eu sinto-me um monstro, mas quando eu soube de todas as coisas que ele tinha feito, quando eu o vi à minha frente com um sorriso na cara a insultá-la, a dizer que ela lhe ia pertencer sempre... Eu fiquei cego. Eu não me consegui controlar. Eu sou uma pessoa horrível, eu sinto-me uma pessoa horrível. É verdade que eu odeio violência mas naquele momento, eu nem pensei. Eu apenas pensei na reação de Autumn, pensei em todas as lágrimas que ela desperdiçou por ele, pensei em todas as que eu deixei cair, tudo por causa dele.

- Tu não és um monstro. Aquilo que fizeste foi errado, é um facto, mas fizeste-o para proteger alguém que amas e não pode haver nada mais bonito que isso. Tu és uma boa pessoa, Matt, e continuas a merecer tudo de bom, mesmo depois disto. Achas que vai ficar tudo bem agora?

- Eu não sei mas espero sinceramente que sim – limpei as lágrimas e levantei-me. Eu sabia que naquele momento o meu pai não sentia orgulho de mim, eu não sentia orgulho de mim e Autumn não sentiria também mas eu fiz aquilo que fiz. Não há nada que o possa alterar agora. O mal está feito e eu vou arcar as consequências dos meus atos.

Saí de casa sem sequer olhar para trás. Ia ser um longo dia, eu tenho de suportar todas as perguntas. Autumn viu-me ao longe e veio ter comigo o mais rápido que conseguiu, provavelmente porque notou as marcas na minha cara.

- O que é que aconteceu? Tu estás bem? – ouvir a sua voz fez com que eu chorasse novamente. Autumn abraçou-me preocupada – Matty, que aconteceu, amor? Estás a deixar-me preocupada.

- Desculpa – eu chorei ainda mais.

- Matty, não chores, por favor, parte-me o coração. Estás a pedir desculpa porquê? Tu não fizeste nada de mal, meu amor.

- Fiz sim. Autumn, eu preciso que me prometas que não me vais deixar depois disto. Por favor, tens de te lembrar que tudo o que eu fiz foi por ti e que eu não consegui controlar-me a mim mesmo. Por favor, promete-me.

- Porquê? – ela perguntou confusa.

- Promete, Autumn.

- Eu prometo. Conta-me o que se passou.

- Eu e o Nash fomos ter com o James. Acho que já deves conseguir perceber o resto.

-Porquê? Matt, tu não és assim.

- Eu fiquei cego. Quando eu o ouvi a dizer que tu irias sempre pertencer-lhe, a insultar-te, a dizer que tu não valias nada e nunca me ias amar... Eu fiquei cego. Eu comecei a bater-lhe e não consegui parar. Tudo o que ele tinha feito passou-me pela cabeça. Eu pensei no quanto tu já tinhas sofrido por causa dele. Pensei no quanto eu tinha sofrido por causa dele. O pensamento de tu a chorares e a sofreres tomou conta de mim. Eu agi por instinto e o meu instinto é proteger as pessoas que amo. E tu és a pessoa que eu mais amo no mundo – eu chorava cada vez mais - Perdoa-me por não ser bom o suficiente para ti. Eu deixei-me levar pela raiva e fui contra tudo aquilo em que eu acredito. Eu não sou uma pessoa violenta, nunca fui, mas naquele momento eu conheci uma faceta de mim que eu nunca tinha visto e espero nunca mais ver. Eu tentei enfrentar os meus demónios e perdi. Eu sei que eu nunca me perdoarei por isto.

- Matty, não digas isso. Pára. Isso foi provavelmente a coisa mais estúpida que fizeste na tua vida e as consequências podem ser impossíveis de imaginar. Eu compreendo que apenas estivesses a tentar ajudar e que, na altura, tenha sido impossível de controlar os teus impulsos. E tu sabes que eu odeio violência, há sempre outra maneira de se resolverem os problemas. Tu fizeste uma má escolha, mas que tipo de pessoa seria eu se te deixasse? Esta é a minha vez de fazer uma má escolha porque estou completa e loucamente apaixonada por ti, essa é a minha desculpa para esquecer tudo isto.

Autumn | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora