Autumn | ME

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[Autumn]

Apesar de termos resolvido tudo, eu ainda sentia que devia algum tipo de explicacão a Matt. Ele merecia saber a verdade e custava-me ter de a esconder. Acho que o meu medo de estragar tudo era maior do que a minha vontade de lhe contar. E isso não me fazia sentir nem um bocado melhor. Sentia-me egoísta, tudo aquilo que eu odiava e toda a minha vida tinha lutado para não me tornar.

Sentia-me horrível e sentia que à medida que o tempo ia passando, apenas ia ficar pior. Eu sabia que quanto mais tempo lhe escondesse isto pior seria mas não havia nada que eu pudesse fazer, não agora.

- Estás muito calada - Matt comentou enquanto fazíamos o nosso caminho para casa.

- Estava só a pensar numa coisa.

- Tu és tão misteriosa - Matt observou - Eu gosto de mistérios. Adoro quebra-cabeças e tu és aquele que me está levar mais tempo a decifrar.

- Eu gosto de manter o mistério - disse a primeira coisa que me lembrei e entrei em casa.

Na verdade eu odiava mistérios. Eu não odiava mistérios, eu odiava não ter respostas para eles. Matt, tal como eu, era uma pessoa curiosa. Ele adorava ter todas as respostas, não ter dúvidas e sentir que estava no controlo da situação. Se ele fosse tal como eu, e não se sentisse assim, ia eventualmente chatear-se comigo. Eu já me sinto mal o suficiente por não lhe contar, porque de facto ele merece saber, não precisava de me sentir pior. A pior parte de toda esta situação é que não havia nada que eu pudesse fazer.

- Divertiste-te? - a minha mãe disse assim que entrou no meu quarto.

- Sim, obrigado por me teres deixado ir, mãe.

- Autumn, eu disse que ia ser difícil reconquistar a nossa confiança, nunca disse que seria impossível. A pouco e pouco eu vou voltar a confiar em ti, és minha filha.

Segurei o choro e respirei fundo. Sempre que a minha mãe tocava nestes assuntos relacionados com a confiança, era assim que me sentia. Se ao menos ela soubesse que tudo o que fiz foi por ela. Eu daria qualquer coisa para que ela soubesse, num mundo perfeito isso aconteceria. O problema é que, este é o mundo real e se ela soubesse, haveria consequências. Consequências que nos prejudicariam a todos e que nós nunca iríamos conseguir ultrapassar.

- Está bem, mãe.

- Vai-te preparando. As visitas devem estar a chegar - ela avisou-me e apeteceu-me fechar no quarto e chorar ao lembrar-me que teria de o ver outra vez.

Decidi fazer aquilo que fazia melhor, falar sobre os meus problemas. Escrever sobre as minhas preocupações.

"Preocupa-me que os meus amigos não saibam a verdade; preocupa-me o que a minha família pensa de mim; preocupa-me que eu esteja a mentir a várias pessoas, sem sequer ter outra opção; preocupa-me que dentro de pouco tempo eu vou ter de o ver novamente; preocupa-me que a verdade venha a cima sem eu ter a oportunidade de a contar; preocupa-me que o meu passado possa afastar as poucas pessoas que ainda se importam comigo; preocupa-me que eles descubram e interpretem mal o que aconteceu. Tudo o que eu menos queria era que eles soubessem, mas se isso chegar a acontecer, prefiro que seja porque eu decidi contar. É sempre melhor ser eu a contar, saberem por outra pessoa ou de outra forma só iria tornar as coisas mais difíceis do que já estão. Isso é tudo o que eu menos preciso neste momento."

Pousei a caneta e voltei a deitar-me na cama. Tentei afastar estes pensamentos da minha cabeça, o que era inútil. Para isso eu precisava de uma distração e eu não tinha nada, nada que me fosse permitido ter.

Fui tomar um banho, sem conseguir tirar todas as minhas preocupações da cabeça por um segundo sequer. Por muitos esforços que eu fizesse, parecia escusado.