twenty one

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[Matthew]

Autumn estava prestes a ir-se embora. Ia passar o Natal e a Passagem de Ano com os familiares que viviam fora da cidade. Aparentemente, ela não queria nada ir. Não havia ninguém da sua idade e os adultos falavam de assuntos de adultos, como é óbvio. Ela tentou ficar cá mas não conseguiu. Pelo menos a sua avó ia lá estar e pelo que ela me tinha dito, ela e a avó davam-se bastante bem. É uma pena ela ter de ir, principalmente porque se aproxima o aniversário do Nash e queríamos que Autumn estivesse presente, acho que não há Nada que possamos fazer.

Tínhamos combinado de nos encontrarmos no parque onde costumávamos ir. Para ser sincero, este local é muito especial para mim. Foi aqui que eu percebi pela primeira vez que a amava. Foi aqui que tudo começou. Eu já estava à sua espera há cerca de 20 minutos e começava a recear que esta não aparecesse. Eu sei, eram apenas alguns dias porém eu precisava de uma despedida. Mesmo sendo pouco tempo, vai custar-me ficar longe dela.

- Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa – Autumn lamentou-se assim que chegou – Eu estava a acabar de fazer as malas, desculpa pelo atraso.

- Tudo bem. Só fiquei preocupado – sorri.

- Eu sei que ainda não é Natal mas como não vou poder estar cá, aqui tens o teu presente – Autumn entregou-me um saco e eu preparava-me para abrir completamente entusiasmado quando esta me interrompeu – Não! Só podes abrir no dia de Natal.

- Porquê? – choraminguei.

- Porque eu quero, Matt.

- É muito tempo, Autumn.

- Matty, é daqui a dois dias – disse com o tom mais sarcástico possível.

- Pronto, tudo bem.

- Prometes que só abres no Natal? – Autumn estendeu o mindinho e entrelacei os nossos dedos.

- Prometo – sorrimos – Então, só abres a minha no Natal?

- Sim, é justo. A curiosidade vai matar-me mas lá terei de aguentar.

- Vou ter saudades tuas – afirmei.

- Matt são só uns dias. Vamos falar o tempo todo, vais ver – garantiu.

- Não interessa, vou sentir a tua falta mesmo assim.

- Eu também – Autumn abraçou-me, uma das coisas que eu mais adorava na nossa relação. Independentemente de como eu me estivesse a sentir, ela iria curar isso com os seus abraços – Tenho pena de não poder estar contigo no Ano Novo. E de não estar com o Nash no seu dia de anos.

- Pois, é uma pena. Não há nada que possamos fazer – lamentei – A que horas vais?

- Às 18. Daqui a pouco tenho de ir.

- Quanto tempo temos?

- Cerca de 5 minutos.

- Só? Será que o tempo não pode parar por um bocado? – reclamei e Autumn negou – É injusto.

- Nunca mudas – falou sorrindo.

- Não preciso. Tu gostas de mim assim e és a única pessoa que importa – Autumn riu-se.

- Claro que sim, meu amor.

Beijámo-nos, e era, como sempre, a melhor sensação do mundo. Todos os beijos pareciam como o primeiro, pelo menos era assim que me faziam sentir. Sentia que me apaixonava novamente de cada vez que nos beijávamos. E não me lembrava de alguma vez algo me ter feito sentir tão bem.

[...]

Estes dois dias pareceram uma eternidade. Tentei entreter-me a jogar, a ver séries mas parecia que nunca mais acabavam. Falei o tempo todo com Autumn e mesmo assim sentia a sua falta. Não era o mesmo, falar pelo Skype era totalmente diferente.

Levantei-me o mais rápido possível e procurei o presente que Autumn me tinha oferecido. Estava em cima da mesa, ainda intacto. Por incrível que pareça consegui conter-me e não lhe toquei.

Abri o saco e quase tive um ataque cardíaco quando percebi que ela me tinha oferecido o álbum da minha banda preferida que eu tinha passado dois meses a pedir aos meus pais que, gentilmente, não mo deram. Retirei o álbum do saco e estava prestes a ouvi-lo totalmente entusiasmado até que vi um papel no fundo do saco. Era um envelope. Abri-o e pude ver que no seu interior tinha uma carta, escrita à mão com a belíssima caligrafia de Autumn. Comecei a ler atentamente:

"Matty,

Achei que seria o momento perfeito para, pelo menos tentar explicar o quanto gosto de ti. Após vinte minutos a escrever, riscar, amassar folhas, voltar a escrever, riscar novamente e deitar fora, apercebi-me que não existe sequer uma forma de te explicar isto. Não existe tal palavra que descreva metade daquilo que eu sinto por ti.

Sei que podes achar isto demasiado, porém eu sentia que precisava, de alguma forma, de agradecer-te por tudo o que fazes por mim. Eu sinto que não te dou o suficiente em comparação com o que tu me dás. Talvez sejam apenas inseguranças estúpidas, talvez seja o meu medo de te perder a falar mais alto, contudo, tenho sempre medo que desapareças do dia para noite. Já me é estranho tentar compreender como é possível alguém gostar de mim. Quando essa pessoa és tu, torna-se pior. Deves estar a perguntar-te porquê. Bem, a resposta é bastante simples, apenas tu não vês isso porque passas também demasiado tempo a achar que não me mereces, como um passarinho me contou. Tu és, de facto, a melhor pessoa que já conheci. Ter-te na minha vida foi das melhores coisas que me aconteceram.

São várias as vezes em que acordo perguntando-me se é real ou se apenas sonhei. E por alguns momentos, tenho dúvidas. Tenho dúvidas pois o que temos é definitivamente demasiado bom para ser verdade. Tu, és demasiado bom para ser verdade. Sinto que a qualquer momento vou acordar e não estarás lá. E o facto de pensar nisso, magoa-me. O pensamento de isso, possivelmente acontecer, magoa-me por isso nem quero imaginar como se seria se realmente acontecesse.

Eu iria culpar-me para o resto da minha vida se algum dia te magoasse. Tu mereces toda a felicidade do mundo. Ver-te chorar parte-me o coração em mil pedaços e faz-me querer eliminar quem quer que tenho sido a causa disso. Queria poder proteger-te de todo o mal. Tu mereces o mundo, mas o mundo não te merece. Tens aquele sorriso que ilumina tudo e todos. O sorriso que me conquistou desde a primeira vez que te vi. A gargalhada que dá vida ao meu dia. E os pequenos gestos, assim como a tua personalidade, fazem o meu dia valer a pena. Ver-te todos os dias é o que faz o meu dia valer a pena.

Lembro-me perfeitamente de uma pergunta que me fizeste. Foi provavelmente a conversa mais marcante que tivemos. Tu olhaste-me nos olhos, como sempre fazes, e perguntaste "como é que alguém como tu pode amar alguém como eu?". Fiquei tão surpreendida com essa questão que por momentos nem respondi. Depois, limitei-me a sorrir. Olhei-te nos olhos e disse "acho que a verdadeira pergunta é, como poderia eu não te amar?". Tu estiveste comigo quando mais ninguém esteve. Apoiaste-me quando mais ninguém o fez e nunca saíste do meu lado. Eu nem tenho sequer palavras para descrever o quão grata estou por te ter e quão sortuda sou por te amar e ser correspondida. É por isso que digo, como poderia eu não te amar? Desde o início, eu soube que se a nossa relação continuasse a evoluir eu iria, eventualmente, apaixonar-me por ti. Eu sabia que isso iria acontecer e, no entanto, não o impedi. Porque eu sabia que se algo acontecesse, eu não sairia magoada por tua causa. O que mais temo é ser eu a magoar-te. Não me impedi de gostar de ti porque eu gostava de gostar de ti. Fazia-me sentir bem. Calma. Viva. Como se estivesse a explorar uma nova faceta minha que nunca antes tinha visto. Parecia que tudo no mundo era perfeito e tudo iria ficar bem desde que estivesses comigo.

Normalmente, essa fase acaba passado algum tempo. O nosso caso foi diferente. Ainda me sinto assim cada vez que estou contigo. Parece que o resto do mundo não importa, aliás o resto do mundo nem sequer existe. É insignificante. Porque quando estou contigo nada mais importa.

Promete-me que não me deixas, por favor. És demasiado precioso para te perder. E não desistas de mim, eu sei que posso difícil de lidar por vezes mas eu realmente quero que isto resulte.

Amo-te mais do que imaginas; mais do que aquilo que consigo explicar e mais do que aquilo que algum dia irás saber.

Com todo o amor do mundo e mais algum,

Autumn xx"

Autumn | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora