[Matthew]
Não sei quanto tempo tinha passado. Tinha perdido a noção das horas, porém já achava isso normal. Isso acontecia-me sempre que estava com Autumn. De uma forma inexplicável, ela tinha esse efeito em mim.
Levantei-me e Autumn olhou para mim. Ela tinha os olhos brilhantes, talvez demasiado. Parecia que também ia chorar. Sem dizer nada abracei-a. Prolongámos este abraço durante alguns minutos e desejei que nunca acabasse. Não só porque adorava estar assim, também porque sabia que quando acabasse ia ter de conversar sobre isto. Não queria falar sobre o que se estava a passar, no entanto sentia que devia. Era a Autumn, eu sabia que podia confiar nela. Ela merecia uma explicação e eu sabia que falar com ela ia, de certa forma, ajudar-me.
Quebrámos aquele abraço e fiquei a olhá-la, a tentar arranjar a coragem necessária para falar.
- Eu não sei o que fazer para ajudar – ela desabafou.
- Já estás a ajudar mais do que pensas.
- Não precisas de contar-me, Matty – Autumn olhou-me compreensiva.
- Eu quero – respondi. Respirei fundo algumas vezes. Autumn limpou-me suavemente as lágrimas. Eu odiava chorar, principalmente à frente de pessoas – Nas últimas semanas os meus pais têm discutido, bastante. Todas as vezes que eles estavam juntos acabavam a discutir. Eu tentei ignorar, fingir que ia passar e que tudo ia ficar bem, mas chegou a um ponto em que comecei a ficar realmente preocupado. Hoje de manhã eles voltaram a discutir.
- Agora faz sentido – Autumn disse – Tu parecias tão distante hoje. Eu pensei que fosse apenas impressão minha, mas parece que não.
- Acho que não consegui mesmo esconder, ou talvez tu já me conheças demasiado bem – Autumn sussurrou um "continua" e eu voltei a respirar fundo – Acontece que as coisas ficaram ainda piores. Quando tu saíste com a Mahogany, o meu pai ligou-me. Ele parecia estar a chorar e disse que tinha discutido novamente com a minha mãe – respirei novamente e preparei-me para o que ia dizer – Ela expulsou-o de casa. Ele está num hotel neste momento. A minha mãe exigiu o divórcio e disse que eu teria de escolher com quem queria ficar. Eu não sei o que fazer – lágrimas caíram novamente.
Eu nunca fui do tipo de fingir que era forte. Toda a gente chora e eu não iria fazer-me passar por algo que não era. Não gostava, sentia-me frágil mas este era um dos assuntos que me deixavam assim.
- Eu lamento muito. Eu queria tanto poder ajudar-te mas acho que não posso, Matty.
- Eu sei, é uma decisão que só eu posso tomar.
- Não chores, por favor. Parte-me o coração ver-te assim. Eu sei que parece impossível e sei que tudo isto está a ser muito difícil para ti, mas tenta manter a calma. Matty, ficares assim só piora as coisas – afirmou.
Ela voltou a limpar-me as lágrimas e eu fiz a minha melhor tentativa de sorriso. Acho que falhei miseravelmente.
- Não fazes ideia de como me fazes bem.
- Nem tu a mim – Autumn respondeu sorrindo.
[...]
O dia parecia ter passado a correr e pela primeira vez eu não queria ir para casa.
- Matty, não vens? – Autumn chamou.
- Não quero.
- Matt, eu não sei o que se passa contigo, talvez porque não me contaste. Mas seja o que for, podes ficar em minha casa. Dá para perceber que estás a fugir de algo relacionado com a tua família – Nash falou e eu sorri.
- Não há problema? – perguntei para me certificar que não ia incomodar.
- Claro que não, a minha família adora-te.
- Só preciso de ir buscar umas coisas a casa.
- Tudo bem, eu vou contigo – Nash respondeu.
Uma coisa era certa, eu nunca me podia queixar dos meus amigos. Por muito que eu tivesse tido um mau dia e a minha família estivesse a desmoronar-se, eles estariam lá para mim. E se havia alguém que me conseguia pôr a sorrir eram eles, sem dúvida.
Fomos andando calmamente e eles faziam questão de manter sempre a conversa animada. Acho que no fundo estavam apenas preocupados comigo e queriam que eu me distraísse. Eles eram, sem dúvida, as melhores pessoas que eu conhecia.
Ao chegarmos a casa de Autumn, parámos.
- Eu não vou poder acompanhar-vos o resto do caminho, tenho algumas coisas para fazer – ela avisou.
- Então, é melhor eu afastar-me. Vou dar aos pombinhos privacidade para se despedirem – Nash falou e Autumn corou totalmente.
- Nash... – Autumn repreendeu-o.
- Que foi? Não vou ficar a segurar vela, nem pensem – afirmou antes de se afastar cerca de uns dez metros de nós.
Autumn abraçou-me e não me lembro da última vez que me tinha sentido tão vivo. Era essa a sensação que ela me trazia, eu sentia-me vivo. Como se não precisasse de mais nada se a tivesse comigo. Os abraços dela tinham esse poder sobre mim. Faziam-me sentir reconfortado, como se eu fosse a única pessoa no mundo com quem ela realmente se importava. Acho que percebi que, mesmo se eu não quisesse, seria inevitável não gostar dela. Pelo contrário, eu gostava de gostar dela. Fazia-me sentir tão bem.
- Eu estou aqui para tudo o que precisares – Autumn sussurrava ao meu ouvido, ainda sem desfazer o nosso abraço – Podes contar comigo para tudo, Matty. Eu espero que saibas que eu realmente me importo muito contigo e que faço tudo o que estiver ao meu alcance para te ver sorrir. As coisas vão ficar melhores, eu prometo. Isto vai passar e tudo vai ficar bem novamente.
Desfiz o abraço e fiquei a olhá-la nos olhos. Parecia que éramos as únicas pessoas no mundo. Nada mais existia. E pela primeira vez, eu agi sem pensar nas consequências. Eu beijei-a. E naquele momento não me preocupei com mais nada. Não existia o segredo que ela tanto esconde, as perguntas que Nash iria fazer mais tarde, o divórcio dos meus pais, o que os meus amigos iam pensar, nada disso existia. Porque tudo o me importava era ela.
Autumn correspondeu e eu sorri entre o beijo. Assim que nos separámos ela sorriu envergonhada. Não me lembro de alguma vez ter visto alguém assim tão corado.
Autumn abriu o portão de sua casa mas antes de entrar olhou novamente para mim. Sorriu e entrou em casa, desaparecendo do meu campo de vista. Eu tinha um sorriso parvo na cara e não fazia ideia do que fazer. Olhei para Nash que também sorria.
- Finalmente – Nash disse com um sorriso enorme na cara. Por muito estúpido que parecesse, eu não conseguia parar de sorrir. Apesar de todos os meus esforços, eu não conseguia tirar aquele sorriso do rosto. Apesar de tudo, eu estava feliz. Mais feliz do que alguma vez me lembrava de estar.
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Autumn | ME
Fanfiction❝Não te posso prometer que resolverei todos os teus problemas, mas posso prometer-te que não terás de os enfrentar sozinha❞ Copyright, © 2015 Searchles, Inc. All rights reserved.