Sorrisos.

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"Sorri. Não porque a tua vida perfeita Mas porque consegues ver além das imperfeições."

Sentia a cara vermelha como nunca antes. Fechei os olhos com vontade de fugir dali para fora. Se parasse o tempo neste momento, podia arranjar uma escapatória e não ter de lidar com tantos olhares sobre a minha pessoa. Deus, detesto chamar a atenção.
Quando finalmente ganho coragem para ver o que se passa à minha volta, Chad está mesmo a meu lado a recolher tudo para o tabuleiro e apanho o dicionário, largando a figura ridícula de múmia que aparentava.

- Esta cantina é demasiado grande não é? - troça com um sorriso e levantasse, fazendo-me levantar em seguida e apertar os livros ao peito. - Anda, vai ter com eles.

Pondero por momentos, mas ao vê-los todos a olhar na nossa direcção e com expressões convidativas, aceno para o rapaz moreno e caminho devagar, baixando a cabeça e acabando por me sentar junto a eles.

- Mary não é? - uma rapariga loira pergunta e eu confirmo. - No meu primeiro dia de aulas, enganei-me na casa de banho e acabei por ficar uma hora fechada num cubículo a espera que desse o toque de saída para não ter de me cruzar com ninguém.

- Oh Lizzy és mesmo idiota. Achas isso humilhante? - um rapaz loiro contra-ataca, colocando-se em posição para lançar uma bomba e chegando-se à frente para que todos o oiçam devidamente. - No ano passado, eatava tão apaixonado que me declarei no anfiteatro, em frente à faculdade toda, com uma camisola com as nossas caras e um ramo de rosas na mão.

-Eu lembro-me! - outra rapariga guincha e eu já me sinto melhor, sabendo que nenhum deles está com uma ideia vergonhosa da minha pessoa. Ou pelo menos se estão, são óptimos a disfarça-lo. - Oh, ela perdeu um bom partido.

- Sim meu, foi a cena mais pirosa de sempre. - Chad aparece e coloca um tabuleiro novinho em folha mesmo à minha frente,sentando-se em seguida. - Mas ela não era assim tão gira. - diz olhando para mim.

- Rob, esquece isso. - a irmã gémea de Lizzy pede e dá uma dentada numa sandes que reconheço como sendo do Subway. Tenho de lá ir, tenho mesmo. - Quem é que adorou a nova professora? Eu acho-a um máximo!

-É bem gira. - Rob afirma e um rapaz que dá pelo nome de Louis concorda. Lembro-me da professora o chamar no exercício. Desenrolo os talheres e início a refeição, tentando acompanhar a conversa e os diversos sotaques de todos.

Rapidamente descubro que Chad,Louis e Rob são amigos desde sempre. Pertenceram os três ao mesmo grupo de teatro, e candidataram-se ao mesmo tempo. Lizzy e a irmã Kathy, fazem parte de cursos diferentes mas almoçam sempre juntas sendo que Kathy está em Design. Uma aposta que conhecia Megan foi o meu primeiro pensamento.
Ruby é extrovertida e Michelle calma e preocupada. Foi um almoço bastante agradável para dizer a verdade que foi dado por terminado quando Peter apareceu no refeitório e chamou por mim.

-Tenho de ir malta.- afirmei,levantando-me e pegando no tabuleiro. - Um resto de bom almoço.

- Até amanhã Mary! - o grupo no geral responde, e eu coloco o tabuleiro nos carrinhos, voltando a mesa para pegar no dicionário e livros e acenando a todos uma última vez.

Corro até Peter, que me abre a porta e juntos caminhamos pelos corredores.

-Estou a ver que já fizeste amigos. - anuncia sorrindo. - Estava a comentar com a Anne de manhã, que não seria difícil para ti ambientares-te. Tinha razão.

- É... Acho que foi mais fácil do que esperava. - acabo por confessar, enquanto passamos para o espaço exterior onde o frio me gela a cara num instante. O clima de Portugal é temperado mediterrânico pelo que não estou de todo habituada a esta temperatura e nebulosidade. A faculdade, assim como o Starbucks pude constatar, possuem ambos aquecimento o que é certamente agradável para uma pequena rapariga estrangeira como eu.

- Não fiques nervosa está bem? - pede, vendo as horas no relógio de pulso. Timberland. Boa escolha.

-Não estou nervosa. - guincho, e este olha-me com desdém. - Estou em pânico.

- O Paul é extremamente simpático. Um pouco perfeccionista, mas muito justo e compreensivo .- avisa-me e eu aceno afirmativamente, pensando que já é uma sorte ter conseguido este emprego.

Chegamos ao Starbucks e a campainha da porta dá a todos os presentes a consciência da nossa chegada. Paul, limpa as mãos a um pano húmido suponho, e caminha a nosso encontro dando um aperto de mão a Peter e olhando para a minha pessoa. Instantaneamente fico nervosa e sorriu, tentando disfarçar os nervos de uma maneira qualquer.

- Vamos a isto Mary? - pergunta-me, colocando as mãos na anca.

- Sim, claro que sim. - tento demonstrar confiança e rapidamente, estou a ser encaminhada para trás do balcão onde Peter, juntamente com outros empregados, me explicam como fazer as misturas que eu tanto adoro e como servir os diferentes tipos de bolos. Cada caneca deve ser assinalada com o nome do cliente o que é um ritual que eu sempre gostei, lembrando-me da prateleira do topo do meu quarto que tem duas canecas do Bread and Coffee, uma tentativa portuguesa de Starbucks. Mas este é o autêntico e para algumas pessoas pode ser um trabalho de balcão ridículo, mas para mim é um grande orgulho.

E quando estava prestes a sair, um rapaz moreno e bastante bonito encontrava-se no exterior do café com o telemóvel na mão. Marcou um número e colocou o mesmo ao ouvido, o que me deixou ligeiramente curiosa, colocando a tampa em maus uma caneca.

Sinto o meu telemóvel vibrar no bolso do avental e retiro o mesmo com cuidado, atendendo ao número desconhecido.

- Dá-me um cappucino no leite e o prazer de te levar a casa? - disse, e eu sorri. Porque foi a mais bonita demonstração de afeto que eu recebera nos últimos tempos.

E não lhe respondi. Apenas sorri.

Identidade Perdida.Onde histórias criam vida. Descubra agora