Confronto

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"Eu prefiro enfrentar os problemas de frente, do que fugir deles até se tornarem insuportáveis"

Acordo com o sol a bater na minha cama, danificando claramente a minha vista adormecida. Rebolo e encaro o teto branco por cima de mim enquanto penso que horas são, que aula tenho amanhã e porque é que as férias acabaram.

Penso também nos acontecimentos de ontem à noite e um sorriso espalha-se pelo meu rosto, após rever tudo na minha mente. Anne aceitou a nossa ajuda, prometeu que irias as consultas no psicólogo e que quando se tivesse a sentir mais em baixo iria recorrer a todos aqueles amigos que ela desvalorizou.

Todavia, pronunciou todas estas palavras difíceis a olhar para uma única pessoa, fazendo-nos sentir mais uma vez como se não devêssemos estar ali. Provavelmente não devíamos mesmo. Mas alguma coisa tinha mudado no nosso ambiente familiar. Peter e Megan já não se evitavam, Susan e Mike estavam mais próximos e Troy e Anne tinham voltado a namorar.

Isto tudo apenas me confirmava que eu tinha de falar com Chad o mais rapidamente possível. Mesmo que a nossa relação não tenha futuro, eu preciso de uma conclusão para conseguir seguir em frente.

Pego no telemóvel para escrever uma mensagem simples e direta a pedir um encontro, encontro este que eu quero que seja no Starbucks por volta da hora de almoço. Não sei se ele já tem planos, não sei ao menos se quer falar comigo mas acho que devemos pôr tudo em pratos limpos.

Abro as janelas e deixo o ar fresco entrar no meu quarto, ponho a mala a um canto e inspeciono o estado do chão. Tenho de o limpar mais cedo ou mais tarde mas na verdade, opto por mais tarde. Tiro alguma comida congelada que trouxe da mala e coloco-a na cozinha, ligando a máquina do café.
Acrescento algum açúcar e mexo enquanto vejo o mesmo fumegar ligeiramente.

Bebo calmamente e volto para o quarto para desfazer a mala enquanto penso. O que terá ele feito na passagem de Ano? Como será que estão as coisas com Maria? Começaram a andar? E o que é que ele queria explicar-me? Aquela cena no aeroporto teve algum significado real? Será que ele me quer ver?
Nada na minha cabeça fazia sentido e por isso eu apenas respirei fundo, tentando lidar ao máximo com o que se estava a passar dentro de mim.

Ansiedade é algo bastante sério. Acho que pode tomar diversas formas e feitios mas em qualquer uma das suas vertentes, não é um sentimento fácil de conviver. Faz-te tremer o corpo, doer o peito, apertar o estômago, aquecer a face.

Existem comprimidos dos mais variados tipos e que parecem ajudar no momento. Acalmam o teu estado de espírito e parece ser o suficiente para procederes a diversas funções. Mas nem eles param o que se passa, nada pára. Nada alguma vez parará.

- Fazes-me uma chávena por favor?- Peter pede ao entrar na cozinha, apenas com umas calças pretas no corpo e uma T-shirt branca e ligeiramente vincada. Aceno afirmativamente e mudo a cápsula enquanto respiro fundo. - Estás bem?

- Sim... acho que sim. - afirmei enquanto lhe passava a chávena com aquele vicio que ambos possuímos. Café é das poucas coisas que podia beber para sempre e não me cansar minimamente. - Vou falar com Chad hoje.

- E como te sentes?- este olhava-me de cima, envolvido na conversa mas tentando não demonstrar o que realmente sentia em relação a isso, com um tom neutro, quase adormecido.

- Nervosa acho...- chega ao pé de mim e tira-me a chávena.

- Não devias beber café então, só faz pior. Se precisares que te vá buscar liga.- diz e sorri enquanto se dirige para uma divisão diferente deixando-me sozinha com os meus pensamentos.

Chego ao local combinado. As pessoas movimentam-se com uma pressa exagerada, o Starbucks é sempre concorrido e eu acho que prefiro um lugar assim. Onde tudo seja tão agitado à minha volta quanto eu.

Sento-me ao canto, após pedir um chocolate quente com natas e olho para a janela, tentando perceber porque é que a minha barriga se mexe de uma maneira desconfortável. Ao menos ele aceitou falar comigo. Acho que seria muito mais inquietante se estivesse numa luta constante para ter uma conversa que não pode ser adiada muito mais tempo. Iria acumular raiva, iria começar a notar pequenas características de personalidade que não gostasse e que ainda não tinham sido perspectiveis. Depois iria sorrir, tentar transmitir que estava tudo bem quando, na realidade, por dentro estaria de rastos.
Os problemas resolvem-se quando lidamos com eles, e não fugindo ou evitando os mesmos.

Dirijo o meu olhar para o café e desta vez, consigo ver em cada pessoa uma aura. Imagino a vida que tem, desenho cicatrizes que ocupem as suas faces e não lhes permitam sorrir e encontrar a felicidade a 100%. Como se isso me fizesse sentir melhor por não ter a minha.

Um rapaz entra. Ele olha para mim e eu olho para ele. Aceno, porque não sei que mais fazer e posteriormente, baixo a cabeça para beber um pouco do meu chocolate quente. Mais aquecida do que nunca, mais consciente da realidade do que devia. Vai ao balcão e pede chocolate quente. Sei porque o conheço, sei porque essa seria a pessoa que ele era.

Senta-se a medo com a caneca na mão, tira o casaco e fico apenas breves momentos a observa-lo. A barba está por fazer, o cabelo arranjado para cima e umas olheiras visíveis no seu rosto. Mesmo assim, continua a ser a única pessoa que faz o meu coração bater um pouco mais rápido, saltar uma batida e continuar como se eu estivesse num sonho "mau". Não um pesadelo, apenas um sonho diferente.

- Olá.- digo, não consciente se esta é a maneira certa de iniciar uma conversa.- Obrigada por teres vindo.

- Não precisas de agradecer... Mary, há muita coisa que eu te quero dizer e antes que me falte a coragem, peço-te que oiças até ao fim. - bebi um pouco do meu chocolate quente.- Eu sei que pensas que te trai, para mim qualquer ato que envolva intimidade com outra pessoa é traição.- Saltou aquela batida.- Mas não foi isso que aconteceu.

Revirei os olhos, inevitavelmente e tomando uma postura que não era a que eu queria. Mas foram dois meses. É complicado lidar com a confusão que se passa dentro de mim.

- Eu recebi uma chamada de Rob de manhã, a dizer que tinha de ir a escola porque Maria iria falar contigo sobre uma possível traição minha. Óbvio que me passei porque nunca olhei para ela dessa maneira. Mas o tom de voz dele era tão desesperado, tão aflito que eu tive de ir. Foi por isso que saí à pressa, não por não querer passar todos os minutos e segundos daquela manhã contigo.

- E depois? - pergunto, desviando os olhos dele e observando um ponto atrás.

- Depois, corri para a sala onde ele me disse que ela estaria. Estavam os dois muito cúmplices mas ele parecia assustado. Como se ela tivesse algum controlo sobre o que estava a acontecer. Ele estava a um canto, corri na sua direcção e ignorei a presença dela porque estamos a falar do meu melhor amigo.- O meu coração acelera.- Ele afasta-me e eu vou falar com ela. Grito, tento mostrar-lhe que aquela situação é uma grande palhaçada. Ela beija-me e ele fotografa a seguir. E o resto já sabes.

Fico imóvel sem saber como reagir. Maria sempre me parecera uma pessoa estranha, no baile comprovei isso e sempre desconfiei que ela teria uma obsessão pelo rapaz moreno mas isso só foi confirmado hoje. O que é que Rob tinha na cabeça para fazer parte deste esquema? Será que este esquema é mesmo verdade?

- E como é que eu sei que não me estás a mentir? - sussurro, olhando para a minha chávena e sentindo-me uma cobarde por dentro. Queria encara-lo como ele me encara a mim.

Mas tudo parece confuso. Algumas cicratizes foram abertas. E eu? Simplesmente não sei o que é verdade e mentira no meio disto tudo.


Boa tarde! Bom aqui está mais um capitulo 😊

Sei que demorei um pouco a colocá-lo mas eu ando cheia de trabalho na faculdade. Como vai ser o vosso Carnaval? Já tem planos? 👊🏻

E sobre a história? O que acharam da explicação dele? Maria e Rob, será possível? 🤔

Tenham um resto de boa semana e um beijinho! 😘

Identidade Perdida.Onde histórias criam vida. Descubra agora