"Eu luto mas isso não faz de mim uma guerreira"
Eu acho que uma das piores partes de estar na faculdade são os exames. Não me levem a mal, obviamente que estando a adquirir conhecimento que possivelmente nos será útil no futuro não poderíamos simplesmente ignorar todas as responsabilidades e andar em aulas que posteriormente não seriam testadas. Mas para mim, e especialmente com os problemas de ansiedade que tenho, os exames são sempre uma parte bastante stressante do meu percurso académico.
Sei que não me lembro bem como se passou a última semana. Estive mais tempo fechada em casa de volta do computador do que fora do pequeno cubículo que é o meu quarto. De qualquer modo, estamos na véspera do exame. Depois deste só falta uma apresentação e entrega de um portefólio e Portugal será o meu próximo destino.
Mal posso esperar por entrar naquele avião e passar perto de 2 semanas com a minha família. Sei que Inês está entusiasmada assim como Sofia, tenho mantido o contacto com elas e todos os Domingos mando uma mensagem a desejar uma grande semana da qual elas retribuem. As mensagens com os outros elementos foram mais escassas se bem que ainda se mantiveram também. De vez em quando comentam as minhas histórias do Instagram, eu mantenho-me a par do Twitter deles e o Mensseger também está sempre disponível mas acho que já não é a mesma coisa.
Não os culpo, obviamente. Seguimos caminhos muito diferentes e nem sempre é fácil manter amizades à distância. Tem de existir mais esforço, dedicação e por vezes temos de nos ausentar das nossas próprias vidas para perceber o que está à nossa volta.
Nesta última semana, Megan e Susan vieram para o meu quarto e estudamos as três. Poucas palavras são trocadas pelas três e estamos tão concentradas que só fazemos pausas quando Mike entra para nos oferecer um lanche ou Troy vem ver se precisamos de alguma coisa.
A meio da semana cruzei-me com Anne e ofereci-lhe também o meu quarto para sessões de estudo se esta quisesse. Afirmou-me que não queria incomodar e então eu fiz todo um raciocínio sobre a maneira como estava tão focada no meu estudo que me esqueci de Anne, provavelmente a sentir-se de parte pelas 3. Não foi nada planeado. Eu não lhes disse para virem para o meu quarto, apenas começamos a faze-lo quando me vieram perguntar se estava bem após não me verem pela casa.
Ela também deveria estar focada em si porque Troy muitas vezes olhava em volta como se estivesse à procura da namorada e depois sorria para as três desejando-nos bom estudo e saindo.
Talvez tenha sido um erro de ambas as partes. Talvez.
O problema é que amanhã é o meu primeiro exame e Susan teve a trabalhar o dia todo na biblioteca, assim como Megan que fora comprar uns tecidos para o seu ultimo projecto. Anne e Troy tinham ido passear para descontrair depois de um exame que ambos tinham realizado hoje e eu estava totalmente sozinha com os meus pensamentos.
O sol que trespassava pelas persianas meio entre-abertas fazia reflexo nos meus livros abertos e a minha cabeça doía tanto das horas passadas à frente daquela montanha de cadernos e apontamentos. Estava exausta.
Não fisicamente porque o meu rabo estava dormente de tanto tempo sentado na mesma posição mas psicologicamente sentia que o cérebro poderia explodir a qualquer instante.
Levantei-me e pestanejei algumas vezes, tentando que a dor de algum modo fosse aliviada. Não resultou.
A minha cama estava desfeita ( não me lembro da última vez que foi feita correctamente, honestamente) e as roupas que estavam perfeitamente alinhadas nos cabides do armário, encontravam-se agora num monte patético no fundo deste. Tudo parecia uma confusão, assim como a minha cabeça.
Não sei em que momento comecei a tremer, mas já não conseguia sentir as minhas mãos normais. Algo estava a fazer com que as mesmas se movessem num ritmo incerto, indeterminado. Olhei para o lado, tão lentamente que sei que a minha cabeça colidiu com algo invisível que se encontrava no ar porque foi imediatamente projectada para trás.
Abri a boca, querendo pronunciar algum tipo de som, chamar alguém que se encontrasse em casa mas estava sozinha.
Já referi que não sou boa quando estou sozinha? Boa no sentido de... normal. Algo de errado acontece, algo que se afasta dos padrões de comportamento normal. Eu não me torno outra pessoa mas, é algo parecido com outra faceta.
Baixei-me, joelhos quase a tocarem no chão, balançando e tentando suportar o peso do corpo. Peso este que agora eu sentia a triplicar. Fechei os olhos e imaginei a minha mãe do meu lado. A dizer-me que estava tudo bem e que era só um exame. No entanto não creio que fosse o exame a deixar-me naquele estado.
Alguma coisa mais, eu sentia que alguma coisa mais estava fora do lugar.
Lágrimas silenciosas pareciam formar-se no canto dos meus olhos mas eu não conseguia expulsa-las como antigamente. Como um sufoco parecia que estava a segurar as emoções para que elas não explodissem e me levassem com elas.
O peito subiu, não desceu como seria suposto seguidamente. Estava entalado, parecia que me faltava o ar. Caí para trás, num estrondo que deveria ser audível para os vizinhos de baixo. Todo o meu corpo se desequilibrou e eu fiquei deitada.
Abri e fechei as mãos, queria tirar a sensação de dormência. Afastei os cabelos que ficaram a frente do meu campo de visão, abanando a cabeça repetidamente o que apenas fez com que esta doesse mais, e mais, e mais.
Tentei acalmar a respiração. Inspira, expira. Inspira, ex- não consegui. O meu peito parecia não querer aceitar o ar que lhe estava a ser transmitido, tão escasso, insuficiente.
- Mary...- alguém sussurrava o meu nome. Ou seria fruto da minha imaginação? Um barulho novamente. Eu não conseguia identificar, não conseguia pensar.
Pode isto parar, por favor?
Senti o meu braço a ser puxado para cima, tão cuidadosamente que não podia ser a minha cabeça. Teria eu projectado alguém no meu pensamento que me fosse ajudar?
Puxei os joelhos ao peito instintivamente, como se voltasse a ser um pequeno embrião. Estava tão desprotegida como naquela altura. Eu era tão dependente como aquele pequeno ser que outrora fora, que precisava de cuidados constantes.Repito várias vezes para mim mesma que consigo desenrascar-me sozinha. Que quando fraqueja-se não vou precisar de ninguém porque só podemos contar connosco. Todavia, aqui estava eu, a fraquejar no chão do meu quarto, enquanto tudo à minha volta se mantinha de pé.
Sem nenhum aviso prévio sou abraçada, a minha cabeça está no seu peito, as minhas pernas por cima das dele, e o meu tronco rodeado pelos seus braços.
Sei quem é, sei perfeitamente quem é. Reconhecia este abraço mesmo que estive sem sentidos.
Peter.
Ele está encostado à minha cama que suporta o peso dos nossos corpos, e as suas mãos fazem festas repetidamente no meu braço e na minha mão direita. Aos poucos a minha respiração vai acalmando, como se tivesse ganho ar novamente, os meus joelhos tremem menos, a cabeça continua a doer mas é suportável.
- Está tudo bem, shhh- ele repete várias vezes até que começa a fazer sentido dentro de mim. Está tudo bem. Está tudo bem.
Quero dizer alguma coisa mas quando tento falar apenas saem mais lágrimas. Num choro descontrolado, enterro-me mais no seu peito. Estou com uma vergonha imensa mas não consigo controlar o que está a passar.
É ansiedade. Acho que a deixei levar a melhor desta vez. Pelo menos até ele chegar. E quando assim o fez, eu consegui recuperar aos poucos.
Bom dia!😍
Bom, muitas emoções fortes neste capítulo. O que acharam do gesto de Peter? Acham que vai ficar tudo bem com ele? E Mary, como será que vai correr o exame? E a ida para Portugal? 😁
Ainda vai acontecer muita coisa, mas estamos a chegar a reta final da história! 😝
Prometo atualizar o mais depressa possível e aproveitar os tempinhos que tenho para escrever algo mais. 🤗
Beijinho grande! 😗
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Identidade Perdida.
Teen FictionQuando Mary é forçada a fazer uma mudança, tudo o que parecia certo na sua vida deixa de existir. Os amigos que conhecia, a casa que frequentava, a família que tinha e ainda por cima, é o primeiro ano de faculdade não só numa cidade mas num país dif...