Identidade Perdida.

Primeiro Trabalho.

"Para viver uma vida completa, é necessário atingir um certo nível de estabilidade. Encontrar um equilíbrio."

Depois do ataque de ontem todos nos sentámos a apreciar tal prato feito com tanto esforço de Peter para realçar as batatas mal cozidas de Troy. A cozinha não é definitivamente o forte de nenhum dos dois mas o ambiente foi descontraído e após a refeição, confesso que me senti mais segura, protegida na presença de todos eles.
Acho que por vezes estamos tão focados nos nossos problemas que nos esquecemos que existem pessoas a passar por situações semelhantes ou ainda piores.
Peter contou nos algumas histórias de infância. Partilhou connosco que sempre se esforçou por ser aceite por todos com a sua boa disposição e piadas mas que isso deu-lhe imensos problemas com as raparigas que achavam que não era bonito o suficiente para elas.
Troy revelou que a sua faceta protetora se devia ao facto de ter perdido o pai quando era bastante novo, e agora sentir que tinha de cuidar o melhor possível de quem gostava para não se arrepender se algum dia lhes tivesse de dizer um último adeus, de não ter sido o melhor que podia.
Mike confessou que a música sempre foi a sua escapatória à pressão de una família de médicos. Rapidamente me relacionei com ele e percebi que gostaria de aprofundar este tema, um dia se ele quisesse.
Toda esta exposição a que se submeteram foi essencial para que eu confessasse as saudades que tinha de casa. Fiquei lisonjeada de, sendo uma mera desconhecida, praticamente estranha, estar a merecer tais votos de confiança tão puros e perguntei-me por momentos se realmente os merecia.

- Está a ficar tarde não? - Megan perguntou, dando uma última garfada no prato.

- Um pouco... - Troy bocejou e virou-se para Anne. - Não vais comer mais?

- Eu... Hum... Comi à bocado, antes de voces chegarem. Não estou com muito apetite.- esta desculpou-se e abraçou-se com uma expressão desconfortável.

- A NOITE AINDA É UMA CRIANÇA!

-Peter...

- Vá lá pessoal! - Megan levou a mão a face rindo em desdém. - Somos jovens, energéticos e bastante atraentes. Acho que merecemos mais do que um jantar de treta... - Troy levou a mão ao peito em sinal de clara ofensa e eu atirei-lhe com uma almofada, fazendo sinal para que Peter prossegui-se. - Obrigada jovem. Vamos lá! Existem tantos sítios para ver!

- Mas podíamos fazer isso amanhã... - Susan sugeriu puxando os óculos para cima. - Existe um programa bastante eficiente que me foi fornecido por um guia turístico bastante conceituado e...

- BALELAS! - Peter gritou, abrindo os braços para o ar e apontando na minha direcção. - Tu...

- Eu? Eu...

- O que é que já viste desde que cá estás? - perguntou, pondo as mãos na cintura.

- Podíamos ir a Galeria Nacional! - propõe Troy e eu aceno afirmativamente, ainda que ver uma galeria que deve encontrar-se prestes a fechar não me pareça o melhor plano.

- Ela não gosta. - perspicazmente afirma e a sério que sou assim tão previsível? - Próximo!

- Podemos ir ao castelo de Craigmillar. - Megan sugere entusiasticamente e com as mãos começa a explicar a maneira estética como está feito e Peter corta-a imediatamente, atirando lhe um beijinho no ar.

-Oh meu deus... Eu sou um génio. - afirma passado momentos, chegando-se para a porta e sorrindo para ele próprio, o olhar vidrado em puro êxtase e uma expressão fascinada. - Eu sou brilhante...

- Peter o que é que...? - Mike tenta, mas o rapaz já tinha saído ouvindo-se os seus passos apressados pela casa enquanto todos nós pegavamos algo para levar de volta para a cozinha. A noite não irá acabar tão cedo e eu preciso de ficar bem cansada para cair na cama que nem uma pedra e não ter tempo para quaisquer pensamentos que queiram assombrar.